Memória arquitetônica está esquecida no centro de Goiânia

Prédios do Setor Central, como o Teatro Municipal, são símbolos da primeira metrópole do Centro-Oeste

Postado em: 10-06-2017 às 08h05
Por: Sheyla Sousa
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Prédios do Setor Central, como o Teatro Municipal, são símbolos da primeira metrópole do Centro-Oeste

Marcus Vinícius Beck

Goiânia é uma cidade planejada e símbolo da modernidade. A capital surgiu no final da década de 1930. E, para deixar sua marca, os construtores a ergueram a 210 km do Distrito Federal. Os prédios do Setor Central, como o Teatro Municipal, são símbolos da primeira metrópole do Centro-Oeste, cuja população atual é de quase 2 milhões de habitantes. No entanto, os goianiense não compreendem a riqueza desse patrimônio.

Ao andar pelas ruas do centro o que mais se vê são fachadas de publicidade do comércio. Os 22 edifícios históricos tomados pelo Instituto Nacional do Patrimônio Artístico Nacional (Iphan) ficam ofuscados pelos gigantes painéis nas fachadas de farmácias e lojas de utensílios diversos. Sem dúvida, a Avenida Goiás fica visivelmente desagradável com a poluição visual. Gutto Lemes, presidente da Sociedade Goiânia de Art Déco, atribui aos donos dos imóveis a demolição da memória arquitetônica de Goiânia. “Existia um prédio em estilo art déco na Praça Cívica na esquina com a rua 10 que foi demolido para a construção de uma farmácia”, explica.

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A riqueza, porém, é praticamente desconhecida da população goianiense. E, para resgatá-la, Gutto Lemes criou roteiro de principais prédios e monumentos com traços de estilo da época da inauguração de Goiânia. Do ponto de vista arquitetônico, a capital foi a primeira cidade totalmente moderna do Brasil, mas os goianienses, de acordo com Gutto, não mensuram o patrimônio que possuem. “Eles não sabem que somos uma das cidades mais importantes do mundo em relação ao estilo art déco”, declara Gutto, dizendo que Goiânia é a única capital a ser edificada neste estilo. 

“Falta educação patrimonial para estudantes, empresários e população em geral. Em Barcelona, na Espanha, basicamente a economia gira em torno do turismo, e os empresários e a população são os maiores guardiões deixando por seus antepassados, pois seus lucros proveem deste respeito”, reclama. Gutto ainda diz que intrínseco aos goianos a cultura da publicidade, acreditando que quando mais imagens colocarem nas fachadas dos comércios mais lucros terão. 

O presidente do Sindilojas, José Carlos Palma Ribeiro, garante que a região Central não vive apenas de art déco, mas assegura que as construções históricas são importantes para a preservação da memória de Goiânia. “A única saída para a art déco é o comércio, e o investidor não pode ser prejudicado”, assevera, explicando que é necessário revitalizar o fluxo de pessoas na região central. “Mas o investimento não pode ser feito na marra. Ninguém vai para o centro para ver somente art déco”.

Recentemente, a Art Déco foi destaque no jornal norte-americano New York Times. A publicação explica que na década de 1930 os fundadores da cidade a planejaram para apenas 50 mil moradores, mas nos últimos anos, Goiânia cresceu mais do que o previsto por conta dos movimentos de colonização do interior do país. “À sombra dessas torres em Goiânia, vislumbrei como o Brasil está mudando. Mas, ao caminhar pelas ruas de Goiânia, encontrei estabelecimentos como a China Construction Bank, refletindo os laços comerciais que ligam a fazenda brasileira à economia global”, escreve o jornalista Simon Romero, autor da matéria. 

Cara limpa

O projeto Cara Limpa, que foi uma ação feita no governo do ex-prefeito Pedro Wilson (PT), tinha como objetivo amenizar a poluição visual das fachadas dos prédios déco do Setor Central.  O projeto, todavia, foi agregado a outro do vereador Elias Vaz (PSB), que propõe padronização das publicidades nas fachadas das lojas de Goiânia. 

De acordo com Gutto, o projeto, caso fosse continuado, talvez mudasse a conjuntura da poluição visual e preservasse a memória arquitetônica de Goiânia. “Os gestores deveriam ter responsabilidade continuada em respeito ao progresso e qualidade de vida dos cidadãos”, afirma.  

História

O estilo art déco ficou conhecido em 1925, na feira mundial realizada em Paris, a Arts Décoratifs ET Industriels. Na década de 1930, a art déco começou a ganhar aspecto suave, aproximando-se das formas modernistas. De fato, o que se desejava era efeito visual que haveria de expressar uso da racionalidade, a exemplo do Roquefeller Center, nos EUA, onde o déco faz sucesso. 

A Praça Cívica, por exemplo, concentra a maioria dos prédios do mesmo estilo, que estão espalhados pelo centro. 

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