PM é indiciado por abuso de autoridade

Investigação conclui que policial usou força desleal ao desferir pancada contra Mateus. Foi constatado ainda que estudante não participou de nenhuma depredação

Postado em: 10-06-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: PM é indiciado por abuso de autoridade
Investigação conclui que policial usou força desleal ao desferir pancada contra Mateus. Foi constatado ainda que estudante não participou de nenhuma depredação

Marcus Vinícius Beck

A Polícia Civil finalizou inquérito que apura agressão sofrida pelo estudante de Ciências Sociais Mateus Ferreira das Silva, de 33 anos, durante protesto em 28 de abril. Após analisar mais de 40 horas de imagens no dia da manifestação, as investigações apontam que ele não havia depredado nada durante o protesto. O capitão da Polícia Militar (PM) Augusto Sampaio, autor da pancada que acertou Mateus na cabeça, foi indiciado por abuso de autoridade. Sampaio também responderá por lesão corporal no âmbito militar. 

“Qualquer atentado contra incolumidade física do cidadão configura abuso de autoridade. Houve uma desproporção na ação policial, que provocou o segundo crime, que é a lesão corporal grave. Como ele estava em serviço, isso passa a ser crime militar. Vamos encaminhar ao juiz, que deve enviar cópia do inquérito para o Ministério Público Estadual e para o Ministério Público Miltar”, diz o assessor de imprensa da Polícia Civil, Gylson Ferreira. 

Continua após a publicidade

O inquérito ainda conclui que não houve tentativa de homicídio, uma vez que os dois são se conheciam e que Mateus não alvo realmente o alvo do policial. “O estudante não era alvo do capitão, eles não se encontraram em nenhum momento anterior a agressão. Qualquer pessoa que passasse por ali seria agredida”, salienta o assessor. 

De acordo com Ferreira, a análise das imagens comprova que não houve intenção de o PM espancar Mateus. “É possível notar que o policial avança com o cassetete contra o estudante e o estudante, em uma atitude de reflexo, flexiona os joelhos, diminuindo a silhueta. Em seguida, ele é atingido”, diz. 

Ricardo Mendes, assessor de comunicação da Polícia Militar, afirmou que já foi concluído inquérito Policial Militar (IPM) e deve a PM deve se manifestar na próxima semana sobre o caso. 


Agressão

Gritos, correria e terror. Em tumulto que se formou próximo em frente a Praça dos Bandeirantes, Mateus Ferreira da Silva sentiu o barulho da pancada e caiu no chão completamente ensanguentado. Em seguida, ele foi levado para o hospital de urgência de Goiânia, onde ficou internado por 18 dias, sendo 11 deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). 

A Praça dos Bandeirantes, em 28 de abril, parecia a Passeata dos Cem Mil, de 1968, que vitimou estudante o secundarista Edson Luís. O jornalista Luiz da Luz, que fotografou o protesto, afirmou à época que a polícia agrediu desproporcionalmente Mateus. “A polícia quando vai às ruas é para agir de forma obscura e violenta”, diz. 

Júlia Aguiar, de 20 anos, estudante de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), foi agredida por um policial no momento em que a confusão se iniciou. Ela correu para o meio do conflito e fez algumas imagens, mas um policial bateu-lhe com cassetete. Com a pancada, seus óculos foram parar no chão, e em seu rosto marcas foram despontadas. “Sem dúvida, o policial queria me acertar, porém acabou me acertando bem no meio da cara”, garante.


Depredação

O delegado da Policia Civil ainda investiga casos de depredação ao patrimônio público. No entanto, ele ressaltou que ao ver e analisar as imagens ficou claro que Mateus participava do ato de forma pacífica e não efetuou qualquer tipo de depredação. 

“Não há nenhum elemento no inquérito que envolva Mateus em atividade de depredação. Foram analisadas mais de 40 horas de gravação”, afirma o delegado. 

Veja Também