Goiano participa de estudo internacional para tratar Covid

Estudo envolve alternativas de tratamento como o uso de anticoagulantes para pacientes infectados com a doença

Postado em: 20-09-2021 às 08h28
Por: Almeida Mariano
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Estudo envolve alternativas de tratamento como o uso de anticoagulantes para pacientes infectados com a doença | Foto: Reprodução

O médico e pesquisador goiano, Mayler Olombrada, de 40 anos, natural do município de Caçu, foi o investigador principal em Goiás de um estudo internacional que busca novos métodos para o tratamento contra a Covid-19. Os estudos coordenados pela Universidade de Manitoba, no Canadá, contaram com a participação de pesquisadores de diversos outros países do mundo, como: Austrália, Brasil, Espanha, Estados Unidos, Holanda, México, Nepal, e Reino Unido.

Os estudos com o uso de anticoagulantes no tratamento contra a Covid-19 acompanharam 2.219 pessoas em estado moderado e 1.098 com quadro considerado grave, totalizando 3.317 pacientes envolvidos.

Em entrevista ao Jornal O Hoje, Mayler Olombrada falou sobre os desdobramentos da pesquisa e sobre a participação de Goiás, que foi um dos centros brasileiros que mais recrutou pacientes para a realização do estudo.

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Como foi a participação da coordenação de Goiás exercida junto à pesquisa?

‘’Fui investigador principal do centro de Goiás, então a gente tinha reuniões periódicas para a tratativa junto com os coordenadores dos outros centros, tanto do Brasil quanto do resto do mundo. A pesquisa acompanhou mais de três mil pacientes no mundo todo, sendo que no Brasil foram um pouco mais de 400 pacientes, a maioria deles provenientes de Goiás, com 111 pacientes recrutados. Esses pacientes, uma vez que internados com o diagnóstico de Covid-19, eram convidados a participar da pesquisa, e aqueles que tinham interesse, após terem todas as suas dúvidas esclarecidas, assinavam o termo de consentimento e eram randomizados para poder receber os anticoagulantes em dose terapêutica ou preventiva. ‘’

Qual foi conclusão que a pesquisa obteve?

‘’A conclusão do estudo é que para pacientes moderadamente enfermos, ou seja, aqueles que têm indicação de internação, mas ainda não necessitam de suporte de terapia intensiva, uma estratégia de utilizar uma anticoagulação plena, já na admissão, foi superior ao uso profilático. Isso reduziu a ocorrência de desfechos de maneira significativa, ou seja, pacientes com menos complicações e um número menor de mortes’’

Quais as diferenças entre as estratégias utilizadas no estudo?

‘’Com relação a diferenças das estratégias de tratamento do estudo, quando a gente fala de dose profilática, seria uma dose mais baixa da medicação, e dose terapêutica uma dose mais elevada. Por exemplo, pensando em um medicamento que se chama Enoxaparina, para um paciente de 80 quilos, a gente utilizaria na dose profilática 40mg uma única vez ao dia, enquanto na dose terapêutica a gente utilizaria 1mg por quilo, ou seja, 80mg, duas vezes por dia. Então a diferença básica das estratégias é a dose a ser utilizada da medicação’’.

Diante dos resultados dos estudos, qual sua perspectiva sobre o desenvolvimento de melhorias futuras para o tratamento contra Covid?

Comparando a evolução do tratamento da Covid-19, a gente consegue constatar que houve um grande aprendizado do início de 2020 até a data atual. O que pode ser evidenciado pela redução da mortalidade dos pacientes. Isso se deve a um aprendizado de como manejar melhor os pacientes, tanto do ponto de vista de estratégias não medicamentosas, como oxigenoterapia, fisioterapia com pronação nesses pacientes, quanto ao uso desses medicamentos, os próprios anticoagulantes que a gente abordou nesse estudo, quanto por exemplo o uso de corticoides nesses pacientes, reduzindo então o processo inflamatório.

Necessitamos de pesquisas sérias com rigor metodológico, para evidenciar o que realmente funciona e o que não. Seguindo aquilo que funciona e abandonando várias terapias que foram aventadas como de possível benefício, e que ao serem colocadas em prática, no ponto de vista empírico, demostraram não terem sucesso, como é o caso de inúmeras drogas testadas anteriormente.

Com a situação atual da doença e dos tratamentos disponíveis, qual a sua opinião sobre a retomada das atividades?

‘’Com relação ao cenário da pandemia, a gente constata que só no Brasil foram mais de 580 mil vidas perdidas. Então tudo aquilo que a gente conseguir desenvolver para poder melhorar, seja na prevenção com a vacina, seja no tratamento com a estratégia de novos medicamentos, ou uso de medicamentos já consagrados, o estudo é extremamente relevante para que a gente possa, gradualmente, retornar a nossa vida pré-pandemia sem as restrições que esse momento trouxe a todos, tanto do ponto de vista social quanto sanitário

De maneira geral, o que a gente precisa é ter uma retomada a vida com segurança, e aí é fundamental a gente utilizar os preceitos da ciência na busca das melhores formas de prevenção e de tratamento.

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