Violência e desigualdade aumentam em Goiânia

Especialistas divergem sobre causa dos problemas, mas cidade tornou-se uma das mais temidas do País

Postado em: 12-06-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Especialistas divergem sobre causa dos problemas, mas cidade tornou-se uma das mais temidas do País

Marcus Vinícius Beck

É inegável a ligação entre violência e desigualdade. Em época de desemprego, a marginalização social torna-se evidente nas praças públicas e faltam espaços de convivência, em Goiânia. E os que têm são usados majoritariamente por determinados segmentos da população goianiense. Bairros da zona oeste de Goiânia são repletos de lugares onde as pessoas se encontram e conversam ao fim da tarde. Mas nem todos tem acesso a eles.

Segundo o cientista político Ian Caetano, mestrando na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as praças públicas mal distribuídas pela cidade acentuam as disparidades entre ricos e pobres. “A sociologia e a geopolítica dos espaços têm apontado que um dos fatores de segurança passa de maneira incontornável pelo fomento dos espaços públicos”, discorre, alertando para a falta de espaço de lazer em bairros periféricos.

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A Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP) diz, em relatório, que reduziu o número de homicídios em 14,36%, comparado com o mesmo período do ano passado. Segundo a SSPAP, Goiânia apresentou queda em sete das 12 modalidades pesquisas. Os homicídios, porém, cresceram 11%, latrocínios 50%, roubos em residências 4,62%, furtos em residências 20,16% e furtos a transeuntes 5,91%.

Mas o especialista em Direto Penal, Tácito Alves Araújo, acredita que houve aumento no número de homicídios na capital por conta da falta de investimento em segurança pública. “A questão da segurança pública é problemática, pois Estados como São Paulo, que investiram sumariamente em segurança, reduziram o número de homicídios”, garante o professor. 

Atlas da violência

Homens, negros e jovens são as principais vítimas de homicídio. Pelo menos é o que aponta o Atlas da Violência, que foi divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Os assassinatos representam hoje quase a metade (48,7%) das causas de morte entre jovens de 15 a 29 anos. A taxa de homicídios nesta faixa etária cresceu 17,2% entre 2005 e 2015. Na década passada, no entanto, houve estagnação neste número.

Em Goiânia, o Atlas registrou aumento de 104,2% na quantidade de homicídios no Estado. De acordo com o estudo, em 2015 foram 2.997 mortes do tipo no estado. O crescimento da taxa de homicídios por 100 mil habitantes foi de 10,6%, enquanto em Goiás de 73,6%. O Estado ocupa a nona posição com maior porcentual na taxa e o décimo com maior aumento de homicídios em 10 anos.

Infelizmente, a cor da pele também é considerada um fator que desencadeia assassinato. De cada cem pessoas que são mortas no Brasil, 71 são negras e, de acordo com o estudo, a chance de um negro ser assassinato é de 23,5% maior do que um branco. Mas o drama mesmo dessas pessoas encontram-se em atos corriqueiros do cotidiano. Às vezes, ir a panificadora pode ser um problema. E para muitos, de fato, é um problema. Mas tal problema, por exemplo, poderia ser amenizado com estímulo à educação e à cidade. 

Violência

A Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária de Goiás (SSPAP) diverge dos dados apresentados pelo Atlas. O número de homicídios, por exemplo, é 10% a 13% do que o apresentado pela Secretaria. Mas a quantidade de jovens, entre 15 e 29 anos, vítimas de homicídio em Goiás é alta. Em 2015, representou o equivalente a 54% do total de homicídios. Apesar de ter diminuído de 2005 a 2015, o número variou ao longo dos anos, de 51,4% a 56,5%.

“Não é de se esperar que diminua a violência dos setores segregados, já em situação de dificuldade, uma vez que batalham para sobreviver e compor a sobrevivência de seus próximos”, assevera Ian, ressaltando que o acesso ao sistema educacional é, muitas vezes, precário. “Não existe alquimia, não existem respostas para colher resultados amanhã. A solução passa por políticas de longo prazo”, finaliza.

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