Crise faz disparar número de goianos que querem morar fora

Dados vão de encontro a estudo brasileiro divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores

Postado em: 02-10-2021 às 08h07
Por: Redação
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Caio vai com visto de estudante para aprender inglês em Orlando, mas se surgir oportunidade pretende ficar legalmente nos Estados Unidos. | Foto: Jota Eurípedes

Falta de emprego, recrudescimento da crise financeira e o sonho de inserir-se em novas culturas têm levado brasileiros de todas as classes sociais a deixarem a pátria mãe em busca de novas oportunidades. Em Goiás, de acordo com uma agência especializada em assessoria consular, de 2019 até agora houve aumento de 55% de pedidos de visto para outros países, em especial para os Estados Unidos e depois, Portugal.

Dayana Braga, que atua na assessoria para retirada de passaportes e outros serviços consulares tem vivenciado essa experiência no dia a dia. Ela traz a perspectiva de grande aumento em Goiás no grupo entre 30 e 45 anos de pessoas que querem deixar o Brasil. Os mais jovens porque não conseguiram se fixar na área de atuação em nível superior e os mais maduros porque, em sua maioria, perderam renda com a crise durante a pandemia, fizeram dívidas e veem na vida fora do País a chance de juntar dinheiro.

“Não é fácil planejar essa mudança. Um casal, por exemplo, com duas crianças precisa desembolsar de R$ 15 a 20 mil por mês para conseguir manter-se no país desejado”, diz. A maior parte de quem sai do Brasil tem um familiar ou amigo que possa dar o primeiro suporte em terra estranha. “São poucos os que desejam aventurarem-se sozinhos”, completa.

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Segundo a assessora, o maior perfil é de quem vai com visto de turista para, com o tempo, conseguir trabalho fixo e poder buscar residência permanente.  “Mas as oportunidades que aparecem são para atender demandas de serviços mais pesados que incluem a construção civil, serviço doméstico, trabalho em restaurantes, bares e serviços de entrega”. “Ou seja: é para encarar o que aparecer”, resume.

Do outro lado da fila, existem emigrantes com perfil melhor estruturado. “Como um casal de aposentados que ainda não contou a novidade para família, vai de mudança para Portugal”, exemplifica. Já que aquele país abre essa possibilidade mediante a renda apresentada. Outros se preparam para passar meses em programas de intercâmbio para estudos, e, se vislumbrarem um ambiente propício, pretendem tentar, legalmente, oportunidade de visto.

Estudo é porta de entrada

O gastrônomo Caio Alves da Silva, de 21 anos, está de malas prontas para seguir para Orlando, nos Estados Unidos, na próxima semana. Ele vai com visto de estudante para aprender inglês e, se vislumbrar uma oportunidade de manter-se legalmente naquele país, não vai deixar passar. “Minha especialidade é comida brasileira. Se eu encontrar um chefe americano que queira investir no meu trabalho, estarei pronto”, conta.

Daniela dos Santos, de 45 anos, já está com passaporte pronto para seguir para Portugal. Ela que é modelista, diz que deseja estar mais próxima do filho que mora lá e que pretende na oportunidade ver se consegue uma boa adaptação para atuar na nação patrícia. “No meu caso, tenho outro filho em Brasília. Mas quero viver novos ares e buscar melhores ganhos profissionais, também”, completa.

Multidão de emigrantes

Dados recentes do Ministério das Relações Exteriores apontam que cerca de quatro milhões de brasileiros estão morando fora do Brasil. O que não conta, por exemplo, os que estão em situação ilegal. Cálculos aproximados mostram que é possível que haja 50% a mais de brasileiros nessa situação. Muitos passam mais de 20 anos vivendo ilegalmente em buscar de documentos que garantam a cidadania no país desejado.

Segundo o Ministério, o ranking na busca de destinos mais procurados atualmente começa pela Irlanda (aumento de 300% a mais de brasileiros nos últimos três anos), México (217%) e Portugal (149%). As maiores comunidades brasileiras fora da terra natal são: Estados Unidos (1 milhão e 775 mil, aproximadamente), 276 mil em Portugal e 240 mil no Paraguai.

Dayana aponta que essa guinada para o México tem grande possibilidade daquele país ser apenas uma ponte para o destino final seja a terra do Tio Sam.   Na Irlanda, o preço mais em conta dos cursos de intercambio tem sido a isca para muitos brasileiros viverem por lá, ao passo que no Reino Unido existe a possibilidade, ainda que bem burocrática, de obter visto que permita o emigrante estudar e trabalhar, conjuntamente. Na Irlanda também não existe a necessidade de visto de entrada no país.

Cuidado

Já Austrália e Canadá oferecem boas oportunidades para intercambistas com abertura de vagas de trabalho qualificado. Em 2016, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) elegeu a região da América do Norte como a mais promissora para esse público.

Um dos motivos do país ser aberto à imigração é a idade média do povo canadense. A The World Factbook (entidade não governamental que agrega dados diversos para quem deseja conhecer outros países) estimou a idade média de homens canadenses em 41,6 anos, enquanto a de mulheres é de 43,1 anos. Para se ter uma ideia de como este número é alto, no Brasil, o número de anos da maioria da população fica em cerca de 31,2 segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).

O governo canadense estima que a quantidade de pessoas idosas no país tende a crescer, na contramão da taxa de natalidade, que é de cerca de 1 filho por mulher, que tende a diminuir. Áreas que sofrem mais com a falta de mão de obra naquele país são construção civil, tecnologia da informação, com espaço para médicos, enfermeiros, formação em recursos humanos, finanças e área alimentícia.

Em busca de talentos

Na Austrália, foi criado desde 2019, um projeto para atrair talentos de outros países. Segundo estudo publicado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) a Austrália e Canadá são os destinos favoritos de jovens imigrantes. Embora ambos sejam países continentais que se assemelham ao Brasil, um ponto de diferenciação entre ambos diz respeito ao clima. Muitos buscam a Austrália não só pelo aprendizado do idioma inglês, pela possibilidade de se trabalhar em paralelo aos estudos ou pela qualidade de vida, razões estas que serão detalhadas neste relatório. Ainda assim, como ficou fortemente evidenciado, o “clima quase brasileiro” passa a ser uma “vantagem competitiva” da Austrália sobre o Canadá, fator este que influencia a decisão de imigrar ou mesmo de realizar um intercâmbio estudantil, ou período de aprendizado do idioma.

A pesquisa foi realizada com 610 imigrantes do Brasil que já viviam em território australiano. Segundo estudos atuais, os imigrantes brasileiros têm aumentado a cada ano, o que acontece devido à preocupação que eles têm com seus níveis educacionais. As pesquisas mostram que 82,6% dos estudantes que foram para a Austrália tinham bacharelado ou estavam fazendo um curso de nível terciário, incluindo MBAs, mestrados ou doutorados. (Alzenar Abreu, especial para O Hoje)

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