Como os espaços verdes transformam a relação dos goianienses com o meio ambiente

Em meio ao caos do trânsito da de Goiânia e rodeados por grandes edifícios, os parques trazem a infraestrutura de lazer aliada à preservação ambiental e ao bem estar da população

Postado em: 12-10-2021 às 11h11
Por: Augusto Sobrinho
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Em meio ao caos do trânsito da de Goiânia e rodeados por grandes edifícios, os parques trazem a infraestrutura de lazer aliada à preservação ambiental e ao bem estar da população | Foto: Luciano Magalhães

Para além do amarelo do pequi e do ipê, o povo goiano também possui reconhecimento nacional quanto ao verde espalhado pela capital do Estado. De acordo com o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, Goiânia possuía mais de 900 mil árvores, de 382 espécies diferentes, isto é, 94 m² de área verde por habitante. Neste ano, a capital foi considerada a cidade mais arborizada do país. O Superintendente de Gestão Ambiental e Licenciamento da Prefeitura de Goiânia, Ormando Pires, afirma que esta realidade está relacionada com a qualidade de vida do goianiense, pois essas áreas filtram partículas de poluição, trazem conforto térmico, infiltram água da chuva e recarregam o lençol freático. Além disso, dão beleza e leveza estética para nossa cidade.

Todo este verde está espalhado em 33 parques e bosques da cidade que, além de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e contribuir para o desenvolvimento de uma cultura mais sustentável, são verdadeiros “quintais” dos moradores. Os meus 94 m² de área verde chamava-se Praça da Liberdade, que ficava  há dois quarteirões da casa da minha avó Deja ou, como os vizinhos costumavam chamá-la, Dona Dejanira, famosa nas redondezas  de sua residência. Dos meus 21 anos de idade, dezessete deles morei na casa dela e tinha a praça como um dos lugares favoritos da minha infância e dos meus primos.

Localizada na divisa entre os setores Vila Jardim Pompéia e Vila Jardim São Judas Tadeu, em Goiânia, a praça era – e ainda é – um ponto de encontro dos moradores. Na minha última visita ao local, minha avó, que faleceu em julho de 2021, me levou até a praça para participar de um jogo de bingo promovido pela distribuidora de bebidas que fica em frente. O prêmio era uma caixa de cerveja e um porco. Mas, para mim, a maior recompensa foi revisitar a praça e reviver um sentimento nostálgico de quando implorava para “ir brincar” lá com meus primos.

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São bastante frescos na minha memória afetiva os momentos que passei naquela praça. Lembro-me de ir comer um x-salada no pit dog instalado nela, de me divertir nos brinquedos colocados pela Prefeitura naquele espaço público, de caminhar no entorno, admirando a bela paisagem que mesclava pequenos coqueiros, jatobás e flores tagetes patula (também conhecidas como cravos de defunto) e hibisco, das quais eu e meus primos costumávamos sorver o mel que fica no “ovário” da planta.

Ormando Pires fala sobre como a comunidade costuma se relacionar com as praças e os parques da capital. “Quanto maior a convivência da  comunidade, maior conhecimento da área em que habitam, sua importância ecológica. Os parques se tornam quintais desses moradores. Quando a comunidade se envolve, o sucesso na preservação ambiental é maior e a qualidade de vida daquela região melhora”, disse. Com certeza, a Praça da Liberdade era, para mim, um “quintal” fora da casa da minha avó, onde o tempo passava como um relâmpago enquanto eu brincava com meus primos.

Além disso, segundo Ormando, a implantação de parques traz a infraestrutura de lazer aliada à preservação ambiental e ao bem estar da população, pois ela passará a contar com opções para passar o tempo em contato com a natureza. “Vários estudos já comprovaram que uma cidade arborizada e com áreas verdes estão diretamente ligadas ao bem estar da população, uma cidade voltada para infraestrutura verde oferece à população maior conforto térmico, melhor qualidade do ar, entre outros benefícios”, destaca.

Lembro-me bem de “respirar fundo” e sentir como se o “ar puro” pudesse abastecer novamente todas as minhas energias para continuar correndo e vencer a aposta de concluir a volta no entorno da praça em primeiro lugar. Era como se houvesse uma árvore só para mim. Esta qualidade do ar é motivada, principalmente, pelas nossas praças, canteiros, reservas e matas que possuem muitas árvores para adornar Goiânia com muito verde. A manutenção delas é importante para a preservação e valorização da vegetação local. Com certeza esta consciência sustentável não ocupava minha cabeça quando criança, pois apanhava flores para minha mãe. Mas a experiência vivida na Praça da Liberdade, hoje, desperta-me para a importância da preservação dessas praças, que abrigam diversas plantas e animais nativos do Cerrado. 

“O Cerrado, por muitos anos, foi discriminado por conta da sua fitofisionomia, mas esse preconceito tem sido superado. Este bioma está diretamente ligado à preservação das águas, pois os maiores aquíferos estão localizados aqui. Isto o torna a “caixa d’água” do Brasil. Além disso, temos exemplares arbóreos únicos”, diz Ormando. De acordo com o Superintende, estas vivências fomentam a reflexão sobre a importância e a beleza das árvores nativas do Cerrado. “Nós derrubamos o velho tabu de que as árvores do Cerrado são feias e tortas”, ressalta. Com floração e frutificação acontecendo em diferentes épocas do ano, este bioma tem um mecanismo único, eficiente e de beleza paisagística exclusiva do coração do Brasil. Por isso, as árvores do Cerrado, que estão presentes no nosso cotidiano, estão ligadas à cultura do povo goiano.

“Espécies como o ipê, o pequi, entre outras, são retratadas em músicas, poemas e histórias do Estado”, exemplifica Ormando. Provavelmente, na minha infância eu não tinha noção do que aquela praça significaria para mim, mas, após anos, olha eu escrevendo sobre ela. Se minha preocupação era somente “ir brincar” na Praça da Liberdade com meus primos, hoje é com a manutenção dela para que as novas gerações possam vivenciar a mesma experiência de contato com a fauna e flora do Cerrado.

Além da Praça da Liberdade, conforme levantamento feito pela Prefeitura de Goiânia, a cidade possui no seu catálogo outros 32 parques e bosques. Em meio ao caos do trânsito da capital e rodeados por grandes edifícios, encontramos lugares para ter contato com a natureza. Como por exemplo, o Parque Municipal Flamboyant Lourival Louza, no Jardim Goiás, o Parque Municipal Cascavel, no Jardim Atlântico, o Bosque dos Buritis, nos setores Central e Oeste, o Parque Municipal Botafogo, nos setores Central e Leste Vila Nova, o Parque Municipal Areião, nos setores Pedro Ludovico, Marista e Sul, este também abriga a Vila Ambiental (Projeto de Educação Ambiental), o Parque Municipal Campininha das Flores, no Setor Campinas e Vila São José, entre outros.

Muitos deles surgiram junto à origem da capital goiana. De acordo com o artigo do professor emérito, José Ângelo Rizzo, publicado no portal da Universidade Federal de Goiás (UFG), o Jardim Botânico Amália Teixeira Franco, por exemplo, foi inaugurado em 1978 para realização do XXIX Congresso Nacional de Botânica e o II Congresso latino-americano de Botânica, na capital e em Brasília. Com 1 milhão de m² de extensão, o botânico está localizado na divisa entre o Setor Pedro Ludovico, Vila Redenção, Bairro Santo Antônio e Jardim das Esmeraldas. Ele abriga a cabeceira do Córrego Botafogo e possui uma cobertura vegetal com espécies centenárias de grande porte como Bálsamo, Aroeira, jatobá da mata e os ipês. Segundo ele, esses espaços potencializam a relação entre os goianienses e o meio ambiente no qual estão inseridos, o que “maximiza” a conservação dos elementos naturais.

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