Terça-feira, 19 de março de 2024

Professor peruano diz ter sido vítima de xenofobia durante programa de rádio goiano

Carlos Santander afirmou ter sido alvo do preconceito, após criticar as políticas sanitárias e de combustíveis do atual governo brasileiro

Postado em: 20-10-2021 às 18h30
Por: Maria Paula Borges
Imagem Ilustrando a Notícia: Professor peruano diz ter sido vítima de xenofobia durante programa de rádio goiano
Carlos Santander afirmou ter sido alvo do preconceito, após criticar as políticas sanitárias e de combustíveis do atual governo brasileiro | Foto: Reprodução

O professor de Ciência Política da Universidade Federal de Goiás (UFG), Carlos Santander, afirmou ter sido vítima de xenofobia durante o programa ‘Opinião em Debate’, da rádio Bandeirantes Goiânia. Na entrevista em que participou, nesta terça-feira (19/19), Carlos teria sido alvo do preconceito após criticar as políticas sanitária e de combustíveis do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

O entrevistado professor Mário Vasconcelos, no programa apresentado por Rosenwal Ferreira, questionou a nacionalidade de Carlos e, após ele dizer ser peruano, sugeriu que ele deveria voltar ao país de origem, afirmando que ele teria a oportunidade de transformar o Peru no “maior país do mundo”.

Em resposta, o professor disse que seria irracional retornar ao Peru, uma vez que tem um ótimo emprego no Brasil. Na sequência, Mário diz que ele deveria transformar o Peru no “país de esquerda mais evoluído de todas as américas”. “Não lhe parece oportuna a oportunidade de mostrar ao seu país o quanto que o senhor conhece de evolução política e sendo de esquerda, o senhor transformar o peru no país de esquerda mais evoluído de todas as américas e depois exportar essa mentalidade para os outros”, disse Mário.

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Após o episódio, o peruano diz que este foi um recurso “retórico muito baixo e um pouco ignorante”.

Além do entrevistado ter demonstrado preconceito, nos comentários do ao vivo, transmitido pelo YouTube, internautas também demonstraram xenofobia com falas como “Parabéns por não deixarem esse “professor“ fazer doutrinação nesse programa. Já ia desligar, mas resolvi confiar no Rosenwal” e “Só no Brasil gringo tem esse espaço na imprensa”.

Notas

A UFG divulgou uma nota de repúdio, afirmando que “é inadmissível que se questione a nacionalidade de uma pessoa, sobretudo a partir de provocações e ironias relativas à sua ideologia. A Direção da FCS, em nome de todo seu corpo discente, docente e administrativo, registra aqui sua solidariedade e seu apoio ao professor Santander e a todos os estrangeiros/as de nossa comunidade acadêmica, especialmente os irmãos e irmãs latino-americanos/as, que são vítimas frequentes de xenofobia.

Com muita competência e disponibilidade, todos/as têm construído conosco a trajetória do ensino e da pesquisa na UFG e nas demais instituições de ensino superior em nosso País, mesmo em meio a todo o descaso com a educação e ciência que vivenciamos em nossa atual conjuntura”.

Resposta

Em resposta, a rádio disse que na “qualidade de veículo de comunicação e propagador da informação, trabalhamos para que qualquer ato que possua cunho ou menção discriminatória ou que, de alguma forma segregue pessoas, em qualquer ambiente, seja rechaçado. Defendemos também que a diferença de opiniões e a liberdade de expressão devem ser pautadas primordialmente no respeito à dignidade humana”.

“Esclarecemos que a Rádio Bandeirantes possui orientação clara e estabelecida junto aos seus colaboradores e programas parceiros de combate às ações que tenham cunho preconceituoso. Contudo, os comentários advieram dos convidados do programa no momento de debate acalorado de opiniões, sendo oportunizada a fala para o Ilmo. Professor Carlos Ugo Santander que, por sinal, se posicionou com sabedoria durante todo o tempo.

Em relação aos comentários dos ouvintes feitos tanto no canal do Youtube quanto no Facebook, vetar a participação ou “excluir comentários” pode ser interpretado como censura. Entende-se que os inscritos em tais plataformas possuem presunção de capacidade civil, e apesar de adotarmos condutas visando minimizar esse tipo de acontecimento, entendemos que cabe a cada um arcar com seus atos.

É nosso dever, como veículo propagador da informação, preservar a liberdade de expressão e trabalhar para a construção de uma sociedade justa para todos”.

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