Nova técnica de cirurgia auditiva no Brasil já está sendo feita em São Paulo

Cinco pacientes foram submetidos à cirurgia da prótese auditiva ancorada no osso; o procedimento é coberto pelo SUS

Postado em: 15-07-2017 às 14h00
Por: Amanda de Oliveira
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Cinco pacientes foram submetidos à cirurgia da prótese auditiva ancorada no osso; o procedimento é coberto pelo SUS

Uma nova técnica cirúrgica revolucionária, que beneficia pacientes auditivos em 25 países já está sendo desenvolvida na cidade de São Paulo. A primeira cirurgia da capital paulista foi realizada na última quarta-feira (12), no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (FMUSP).  

A técnica MIPS é minimamente invasiva e inédita no Brasil e em toda a América do Sul. Cinco pacientes de São Paulo foram submetidos à cirurgia da Prótese Ancorada no Osso Ponto™, realizada inicialmente em Ribeirão Preto pelo médico otorrinolaringologista Prof. Dr. Miguel Hyppolito e, em seguida, na capital, pelo médico otorrinolaringologista Prof. Dr. Ricardo Bento.

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A nova técnica cirúrgica é feita com uma pequena e única incisão de 5 mm; a utilização de uma cânula e instrumentos específicos (brocas) desenvolvidos pela empresa dinamarquesa Oticon Medical. 

A técnica permite uma recuperação mais rápida na etapa pós-operatória. A cirurgia pode ser realizada em regime ambulatorial, sem o uso de anestesia geral, e o paciente tem a possibilidade de ir para casa no mesmo dia. “Isso minimiza os riscos potenciais de um procedimento cirúrgico e permite ao paciente uma recuperação rápida, podendo usufruir dos benefícios da prótese auditiva ancorada já em duas semanas”, afirma o Prof. Miguel Hyppolito.

O procedimento consiste em um implante de titânio fixado na calota craniana, atrás da orelha, pelo cirurgião otorrinolaringologista. Esse sistema é indicado para pessoas que apresentam perda auditiva condutiva ou mista e surdez unilateral e, até mesmo, crianças com idade superior a cinco anos podem ser beneficiadas. 

A Prótese Ancorada no Osso Ponto™ transmite o som diretamente à cóclea por condução óssea, substituindo a passagem do som pelas orelhas externa e média. Dessa forma, o processador sonoro capta as ondas sonoras de maneira semelhante aos aparelhos auditivos convencionais, mas ao invés dessas ondas sonoras serem enviadas através do canal auditivo externo, elas são transformadas em vibrações e transmitidas diretamente para a orelha interna (Cóclea).

“As indicações são espeíificas para pacientes que apresentam perda auditiva condutiva ou mista e surdez unilateral, e que não se beneficiam do uso dos aparelhos auditivos convencionais”,explica o Prof. Dr. Miguel Hyppolito. De acordo com o Prof. Dr. Ricardo Bento, “uma outra vantagem deste tipo de prótese é que o paciente pode testá-la antes mesmo da cirurgia e avaliar o seu real benefício”.

Casos

Um dos pacientes submetidos à cirurgia em Ribeirão Preto é Fabio José da Silva Brito, de 33 anos. Ele nasceu com perda auditiva do lado esquerdo e com o canal auditivo dos dois ouvidos fechados. Já havia feito três cirurgias de reconstrução, sem sucesso. Por causa da deficiência só conseguiu estudar até a 1ª série do Ensino Fundamental. “Eu tentava estudar, mas não entendia o que a professora falava e tinha muita vergonha. Estou muito feliz porque agora vou poder realizar meu sonho de voltar a estudar. Essa é a minha maior expectativa”, revelou.

O sistema auditivo de condução óssea Ponto™ é composto por três partes: um implante de titânio de 3 ou 4 milímetros, um processador sonoro e um pilar (abutment), que fica junto à pele e faz a conexão entre o implante e o processador de som por meio de um encaixe simples, podendo ser removido sempre que houver necessidade, como para dormir ou tomar banho, por exemplo. E o que é melhor, com alta qualidade de som.

“Mesmo antes da cirurgia, fiz o teste com esse novo sistema e é transformador! A diferença entre o que eu ouvia e o que comecei a ouvir é absurda. Você passa a ouvir coisas que nem imaginava que existiam, como o chiado do ar-condicionado, o motor da geladeira. É fantástico!”, contou a advogada Andrea Cristina Zaninelo, de 34 anos. 

Aos 22 anos, ela teve uma doença respiratória que afetou a sua audição. Ao longo dos anos seguintes, fez diversas cirurgias para tentar abrir o tímpano e chegou a usar aparelho auditivo, sem sucesso.  Sua maior dificuldade era no ambiente de trabalho, pois ela não conseguia distinguir de onde vinham os sons da fala dos colegas. “As pessoas acham que você não está dando atenção a elas, mas na verdade você não entende o que elas falam. Isso me deixava muito tensa e acabou me isolando do convívio social”, comentou.

Outro caso emocionante é o de Kátia Aparecida Rosa, de 43 anos, que é casada e tem dois filhos. Sua mãe teve toxoplasmose durante a gestação e, por isso, ela nasceu sem as duas orelhas e com a audição comprometida. Já fez várias cirurgias para reconstrução das orelhas, sem sucesso, e nunca pôde usar aparelhos. Ouve apenas do ouvido direito. Agora, sonha em conseguir um emprego e ser uma pessoa menos tímida e mais alegre. “As pessoas falam e eu não escuto; então, para não pedir que elas repitam, eu acabo me isolando. Com a cirurgia vou poder ouvir bem e fazer amizades, conversar mais, ser mais alegre e menos tímida. Espero muito arrumar um trabalho”.

A cirurgia para implante de prótese auditiva ancorada no osso também é coberta pelo SUS. Essa nova técnica cirúrgica estará disponível em cerca de 20 hospitais, públicos e privados, previamente selecionados por todo o Brasil.

  

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