Professora denuncia assédio moral e perseguição em Cmei de Aparecida
Elane denuncia a gestora de Cmei por perseguição e assédio
Por Yago Sales
Um ambiente que deveria ser dedicado à Educação se tornou num verdadeiro cenário de confusão há pelo menos dois anos no Centro Municipal Infantil (Cmei) Cantídio Rodrigues da Silva, de Aparecida de Goiânia. A professora efetiva Elane Gomes denuncia a gestora do Cmei, Kellen Aparecida de Brito Messias, por perseguição e assédio moral dentro da unidade. Segundo a professora, a diretora, ao invés de discutir questões pedagógicas, utiliza as reuniões para dar sermões religiosos. Pastora, Kellen negou ao jornal O Hoje que tenha levado sua religião para dentro da unidade.
Em maio, durante uma reunião on-line, a gestora da unidade teria falado mal de outras religiões – que não seriam de “Deus”. Em um áudio a que a reportagem teve acesso, uma professora adepta ao Kardecismo, chorando, diz: “Eu não vou ficar com raiva de ninguém, mas ofende, sabe. Eu não falo para ninguém sobre a minha religião porque a Educação é laica”.
As letrinhas de papel E.V.A. nas paredes da unidade não contam, mas tanto a professora quanto a gestora estão em pé de guerra e levaram discordâncias para a delegacia. O que poderia ter sido resolvido internamente, ou até mesmo pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Seduc), tornou-se público e numa avalanche de acusações mútuas.
O caso já chegou à Secretaria de Educação, mas até agora não houve nenhuma mudança. Com isso, a professora se afastou, com laudo psiquiátrico, das atividades. Em um e-mail enviado à Supervisão Escolar da pasta, a professora fez um relato de 3.223 palavras. Ela reafirmou as denúncias à reportagem, mas teme mais represálias.
Tanto a coordenadora quanto a diretora Kellen Aparecida são conhecidas na comunidade escolar como alinhadas ao presidente Jair Bolsonaro. Em 2020, Kellen foi candidata a um cargo na Câmara dos Vereadores de Aparecida de Goiânia pelo Cidadania, mas saiu derrotada, quando obteve apenas 381 votos.
Na contramão do discurso de amor, a gestora foi gravada mandando a professora calar a boca. Elane define o que tem passado: “É duro enfrentar essa psicofobia. Pois nessa altura do campeonato você está tão mal e se sentindo tão culpada quanto querem que você seja”. Outro ato de represália, segundo a professora, ocorreu quando, no período menstrual, ficou com a roupa ensanguentada porque não tinha ninguém para ficar com a turma.
Ano passado, a professora teria sugerido deixar os grupos de WhatsApp abertos “porque os pais estavam argumentando que trabalhavam o dia inteiro e só poderiam fazer as atividades sugeridas e encaminhá-las no período noturno”. Segundo a professora, teria ouvido que estava “procurando brechas para pai de aluno mexer comigo”. Além disso, era comum ouvir palavras irônicas como “menininha” e “criancinha”.
Atualmente tratando a síndrome de Burnout, a professora tem medo de mais represálias, inclusive teve o atestado negado pela Aparecida Prev. A SME foi procurada e afirma que “está tomando todas as medidas cabíveis de acordo com as diretrizes que norteiam as decisões em casos dessa natureza”.
A pasta, no entanto, disse que “não houve nenhuma decisão ainda sobre o caso, pois, uma das partes envolvidas na questão está de licença por atestado médico e assim que a servidora retornar para suas atividades normais, as partes serão convocadas para prestar seus devidos esclarecimentos”.
A diretora do Cmei negou as acusações e que garantiu que deverá procurar medidas judiciais contra a professora. Afirmou que é mentira qualquer afirmação sobre desrespeito à laicidade, prevista na Constituição, ou críticas à vestimenta da professora em redes sociais. Sem reconhecer ao menos possíveis excessos cometidos neste caso, ela disse que tem 25 anos de profissão na área da Educação e que a professora “tem problemas”. “Essa professora chegou há uns dois anos e desde então tem causado vários problemas. Já entramos em contato com a Secretaria. Todas as falas que ela tem a gente tem a documentação rebatendo. Já fizemos um B.O. por calúnia e difamação por colocar essas coisas em redes sociais”, disse a gestora. (Especial para O Hoje)