Especialista diz que transporte público precisa melhorar antes de pensar em mobilidade elétrica
Profissional alerta que antes de ampliar a ideia do uso de veículos elétricos, é necessário garantir a qualidade dos ônibus coletivos
A mobilidade elétrica tem sido discutida amplamente em várias cidades brasileiras, principalmente quando o assunto é mobilidade. O fato é que, os variados tipos de veículo elétricos, como bicicletas, motos, skates, ônibus e carros, são uma realidade e já disputam espaços na paisagem urbana. Em Goiânia, as patinetes elétricas, por exemplo, chegaram, saíram e retornaram mais uma vez. No entanto, se não for resolvida a questão da baixa qualidade do transporte coletivo, de nada valerá discutir as inovações dos meios de transporte com zero de emissões de gases poluentes.
Esse é o pensamento do mestre em Engenharia, César Augusto Nogueira Jahnecke. Integrante do Mova-se Fórum de Mobilidade, ele afirma que o desafio não é a mobilidade elétrica (bicicletas, patinetes, motos e carros compartilhados), mas sim em como melhorar o transporte público de maneira que o usuário demova a ideia de querer comprar uma moto (elétrica) ou um carro (elétrico) em detrimento do transporte coletivo. “Infelizmente não se planeja modais facilitadores e infraestrutura correta para o ônibus. Mesmo elétricos, sofrerão pela falta de vontade de planejamento”, destaca.
César Jahnecke diz que, em linhas gerais, o transporte coletivo em Goiânia padece de melhor planejamento. Segundo ele, os usuários de ônibus sofrem em rotas com elevados, curvas acentuadas, ruas estreitas, corredores ineficazes e pontos sem recuo. Diante dessa realidade, na perspectiva do especialista, há muita a ser feito antes de discutir o uso em massa de veículos elétricos. “A discussão é urgente e não envolve somente players da mobilidade elétrica. Envolve a preparação da cidade, a legislação e vontade política. Definitivamente, o último quesito é o mais difícil”, enfatiza.
Ele argumenta que, antes de tudo, a infraestrutura do sistema elétrico da capital teria que ser revisada e melhorada, pois não suportaria simultaneamente um grande volume de recargas. Além disso, o especialista reitera que se faz necessário o melhoramento na infraestrutura de geração, transmissão e distribuição de energia e das instalações elétricas dos estabelecimentos. “Analisando Goiânia, ela é uma cidade organizada para carros e motos à combustão. Não há planejamento para o transporte coletivo, muito menos para os veículos elétricos”, observa.
“Em países desenvolvidos, ônibus, trens e metrôs e de outros modais integradores são usados por classes sociais mais altas. Aqui não. Se for feita uma enquete, o anseio do trabalhador que usa o coletivo não é que melhore, mas a vontade que ele tem é comprar uma moto ou um carro para vencer o martírio de ter que andar de ônibus. O desafio não é a mobilidade elétrica, mas sim em como melhorar o transporte público”, conclui Jahnecke.