Quinta-feira, 28 de março de 2024

Precário: Cais agonizam em Goiânia com falta de estrutura e até álcool em gel

Servidores e usuários relataram falta de iluminação, extintores de incêndio, insumos para pacientes e até álcool gel nos Cais de Goiânia

Postado em: 21-12-2021 às 08h13
Por: Carlos Nathan Sampaio
Imagem Ilustrando a Notícia: Precário: Cais agonizam em Goiânia com falta de estrutura e até álcool em gel
Servidores e usuários relataram falta de iluminação, extintores de incêndio, insumos para pacientes e até álcool gel nos Cais de Goiânia | Foto: Carlos Nathan

Sem iluminação apropriada e a devida assistência, pacientes dos Centro de Assistência Integral à Saúde (Cais) padecem com falta de até mesmo álcool em gel para se protegerem de doenças infecciosas como as variantes gripais  em circulação no Estado  e a própria Covid-19.

A reportagem do jornal O Hoje constatou que ao chegar em uma noite aleatória no Centro de Assistência Integral à Saúde (Cais) do Jardim Novo Mundo, após denúncias de leitores sobre a atual situação do local que não havia  iluminação suficiente, com muitos ambientes à meia luz, falta de extintores de incêndio (em conformidade com exigência do Corpo de Bombeiros) e até mesmo, ‘todos’ os dispensers de álcool gel vazios. 

Os detalhes citados acima foram as primeiras observações minutos após a chegada da equipe no local.

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Ao conversar com usuários e servidores presentes no Cais, o retorno era o mesmo: a situação tem se agravado muito a cada ano que passa e, em 2021, houve “piora extrema”, de acordo com uma enfermeira que não quis se identificar. “Se fossem só os extintores e o álcool em gel, estava ‘bom’, mas está faltando quase tudo: muitos insumos, vários equipamentos estão velhos, a situação dos quartos – sem ventilação adequada e reforma – onde ficam os pacientes é um absurdo e também nos sentimentos inseguros”, denunciou ela.

Do outro lado, uma usuária que também não quis se identificar reforçou a fala da enfermeira sobre a situação do atendimento no local. “Chegamos aqui, pegamos uma fila para sermos atendidos, e até aí tudo bem, mas depois começa a enrolação. Uma hora é o biomédico que não está presente, outra é a falta de médicos, o atendimento de alguns funcionários também deixa muito a desejar, mas eu até entendo, já que o local parece abandonado pelo poder público. Da entrada até os banheiros, é tudo um nojo, parede, tetos, janelas, portas, nada tem aspecto de limpeza, por mais que vemos funcionários limpando”, disse.

Ainda no Cais Jardim Novo Mundo, a reportagem constatou outras diversas irregularidades. Um médico, que não teve o nome revelado, estava cobrindo um colega no local e, por ser de outra especialidade, não estava conseguindo atender a demanda dos pacientes com aptidão. Isso tudo aconteceu enquanto usuários esperavam por atendimento em um dos corredores escuros, ou em outro que, até estava iluminado, mas não contava com cadeiras para a espera.

Além disso, sem álcool gel nos dispensers que estavam vazios pelo corredor, os pacientes, muitos com sintomas e suspeitas de Covid-19, assinavam documentos e trocavam papéis utilizando utensílios públicos do Cais e, sem poder fazer a higienização das mãos, colocavam a si e outras pessoas em risco de contaminação pelo vírus da pandemia ou outros comuns.

A situação segue a mesma linha em outros Cais visitados pela reportagem. Na unidade do Setor Vila Nova, a aposentada Maria José Morais, de 63 anos, garantiu que, dos Cais que ela conhece, o Vila Nova é um dos piores. “Já vi médico sair em horário de expediente, já vi de enfermeiros a médicos atenderem mal a mim e outras pessoas que conheço e aqui sempre tem muita gente e não muda: sempre é uma demora no atendimento”, contou.

Outra reclamação constante aparece nos canais do Jornal da internet: centenas de pessoas questionam sobre dúvidas que não são sanadas e afirmam que ninguém, nunca, atende os telefones informados dos centros de atendimento.

Já no Cais de Campinas, as reclamações continuam. Um morador da região que estava no local quando a reportagem esteve na unidade afirmou que a lotação é constante e o atendimento não “costuma ser dos melhores”. A reportagem constatou, também, que a estrutura do local carece de reparos, assim como na unidade do Setor Vila Nova.

A reportagem também procurou pela Prefeitura de Goiânia e pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da Capital e deu o prazo de uma semana para que eles explicassem o porquê da situação atual dos Cais. Porém, nenhum dos assessores respondeu o jornalista pelo aplicativo de mensagens e, pelo e-mail. Foi enviado, apenas, um release sobre uma prestação de contas feita pelo secretário de Saúde, Durval Pedroso. 

No texto, há a afirmação de que a prefeitura investe mais do que o previsto em lei na Saúde, porém, infelizmente, nem o secretário ou o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, parecem conhecer, de fato, a real situação dos Centros de Saúde da capital.

Investimento 

No texto enviado pela assessoria, há a informação de que de janeiro a agosto de 2021, a Prefeitura de Goiânia aplicou 19,46% de recursos próprios em saúde, índice acima dos 15% previstos na LC 141/2012. Os dados, como explicados anteriormente, fazem parte da prestação de contas do segundo quadrimestre apresentada pelo secretário Durval Pedroso, na última quarta-feira, 15, na Câmara Municipal.

No mesmo período, a SMS afirmou que realizou 226 auditorias, 94,7% tiveram como demandantes os prestadores de serviços de saúde. “As auditorias são o olhar do poder público na aplicação dos recursos pagos pelo contribuinte, ou seja, acompanhamos de perto se o serviço contratado está sendo prestado a contento aos usuários”, afirmou o secretário.

Foram realizados também 4,307 milhões de procedimentos na Atenção Básica, 2,522 milhões foram de ação de promoção e prevenção em saúde.  Na urgência, foram 296.971 mil procedimentos. A meta para cobertura populacional estimada pelas equipes de Atenção Primária foi ultrapassada, a previsão era atingir 57,32% da população e chegou a 59,29%. A Atenção Primária é a porta de entrada na rede de saúde pública.

Também foram 19 mil acompanhamentos psicossociais e 4,4 mil tratamentos dos transtornos mentais e comportamentais realizados no período, 50,7 mil internações pelo SUS de residentes em Goiânia, sendo a maioria, 11,8 mil, de doenças infecciosas e parasitárias, entre elas, a Covid-19.

Ainda de janeiro a agosto, 12,4 mil pessoas foram internadas em UTIs de hospitais da capital, sendo mais 6,4 mil moradores de Goiânia e mais de 5,9 mil de pessoas de outros municípios. Um total de 10,2 mil pessoas foram a óbito, sendo que 44,7% tiveram como causa morte as doenças infecciosas e parasitárias, entre elas a Covid-19. Houve o registro 13, 2 mil nascimentos vivos contra 13,3 no mesmo período de 2020.

Dentro das ações de enfrentamento do novo coronavírus destacam-se a vacinação: mais de 1,3 milhões de doses aplicadas no período. “Sobre imunização aplicamos mais de 7 mil doses nas vans que levam as vacinas nos locais de maior movimentação de pessoas”, disse Durval.

Os números da Central Humanizada de Orientações sobre o Coronavírus, também foram destaque. Foram 165.696 ligações telefônicas, 39,8 mil pessoas monitoradas pelo telemonitoramento, 2.245 pré-cadastro para aplicação das vacinas contra Covid-19 em pacientes acamados e 75 para tomar a H1N1, também de pacientes acamados.

Durval Pedroso também falou da prestação de contas sobre a inauguração de duas Unidades de Saúde da Família (USF), a do Alto do Vale e a do São Carlos e o Centro de Especialidades Pediátricas (Ciped). “E vamos aumentar ainda mais a rede de assistência ao usuário do SUS em Goiânia. Até fevereiro, estaremos inaugurando a USF do Conjunto Riviera. Ainda em 2022 vamos começar a construir Unidades Básicas de Saúde (UBSs), quatro serão iniciados ainda no primeiro semestre”, anunciou.

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