Treinamento funcional tem crescido nas academias de Goiânia

Victor Lisita*

Está estabelecido na sociedade que o padrão de beleza tem a ver com a magreza e a definição corporal. Basta abrir uma de suas redes sociais que é possível encontrar fotos de algum amigo ou seguidor que mostre seu corpo nos moldes do que é “belo”. A mídia e a indústria do entretenimento também não deixam por menos, com uma superexposição de artistas e seus corpos idealizados, além de zombarias com aqueles que não se enquadram no que se tornou padrão. Essa construção intelectual de massa calcada em uma exposição densa de comportamentos convencionais construiu uma sociedade insegura com a própria vida. 

De acordo com o personal trainer Thiago Vieira Bastos, de Goiânia, os dois maiores motivos para a procura de academias atualmente estão ligados ao emagrecimento ou à necessidade de reabilitação, para fortalecer a musculatura em virtude de alguma cirurgia ou desconforto. “Grande parte dos alunos visa atingir um corpo parecido com uma personalidade do mundo. A mídia dita qual corpo é o perfeito e, em alguns casos, até mesmo qual exercício pode ser usado para se chegar nele”. Ele lembra que cada corpo tem sua individualidade biológica, e, às vezes, o que é bom para uma pessoa, não é bom para outra. 

Já Fernando de Araújo Freitas, também personal trainer na capital, percebe a vaidade como um dos fatores determinantes. “A possibilidade de vestir uma roupa que não está servindo motiva muito as pessoas”. O caso do radialista Victor Machado de Morais mistura dois fatores. Ele resolveu emagrecer não só para algumas de suas roupas servirem, como também por conta da mídia. “Principalmente o Instagram, onde há uma exposição do corpo. Esse conteúdo influencia e acaba deixando a autoestima baixa”. Com academia e dieta, Victor emagreceu 9 quilos em suas férias. Apesar disso, atualmente ele se sente mais seguro e não tem nenhum problema com sua aparência. 

Etapas

Para não correr o risco de manter uma prática corporal errada, Thiago destaca que o primeiro passo é procurar um profissional de nutrição, que indicará algum medicamento ou dieta adequada. A dica é semelhante ao que aconteceu com o estudante de Educação Musical, Bruno Augusto, que acabou indo para a academia por indicação de uma nutricionista. “Eu buscava melhorar minha alimentação e reduzir meu peso, porque estava acima do ideal para minha saúde”. Com a reeducação alimentar, que ele garante não ter passado fome, e os exercícios, o estudante perdeu 8 quilos em seis meses e transformou parte de sua gordura em massa muscular. 

“É difícil atingir uma meta de emagrecimento, e o que vejo são muitas pessoas utilizando medicamentos prejudiciais que prometem fazer milagres”, contou Thiago. No caso da suplementação, Fernando frisa que se trata de uma etapa posterior à mudança de alimentação e lembra que o cardiologista também é crucial para verificar se o corpo está com tudo nos conformes antes de iniciar os exercícios. “A nutrição e a atividade física trabalham juntas”, complementa Thiago. 

A universitária Gislaine Xavier combinou uma dieta indicada pelo endocrinologista com a academia, o que resultou em uma perda de 3 quilos em menos de 6 meses. Ela diz que o que mais a agradou foi em relação as medidas que perdeu. Thiago explica que, para emagrecer da maneira correta, deve-se ter em mente que 70% do trabalho é constituído pela alimentação. A atividade física vem para acelerar o processo, constituindo 20%, e os outros 10% é o descanso. “Com o aumento do cortisol pelo estresse, uma série de desequilíbrios no corpo dificultam o ganho de massa muscular e a perda de gordura”. 

Métodos

Entre os novos exercícios que estão despontando nas academias, existe o treinamento funcional. A prática envolve movimentos de reforço muscular para o dia a dia das pessoas. “Uma doméstica que utiliza muito seu braço para o trabalho e, portanto, pode prejudicar o ombro, teria de fortalecer seu membro para não gerar prejuízos no futuro”, explica Thiago. O treinamento visa fortalecer a parte mais usada do corpo durante o dia, assim, o corpo todo acaba sendo beneficiado no processo. 

Fernando destaca que a busca pelo novo método tem crescido cada vez mais. “Por serem exercícios que podem ser praticados em locais abertos, como parques ou até mesmo em casa, as pessoas que não se adaptaram ao ambiente fechado da academia veem como uma possibilidade interessante”. O personal também trabalha com intensidades altas e baixas, o chamado HIIT (Treino Intervalado Intenso, no português). O procedimento ajuda a acelerar o metabolismo, com momentos de exercícios intensos e de recuperação. 

O radialista Victor conta que praticou o TRX, sigla em inglês para “Exercício de Resistência do Corpo Inteiro”, e a experiência foi interessante. “O praticante segura em uma corda posicionada na parede e libera todo seu corpo, utilizando seu próprio peso para adquirir mais resistência”, explica. Para ele, o bom da academia era que a cada aula se praticava um exercício diferente, o que ajudava a quebrar a monotonia e não deixava o ambiente chato. 

Conquistas

Geralmente, o primeiro mês dos exercícios funciona para o corpo se adaptar a nova rotina. A partir do segundo mês, uma diferença pequena já pode ser observada. Entretanto, uma mudança considerável poderá ser notada apenas a partir de 90 dias. “Atualmente sinto meu corpo muito mais vivo, minha coordenação motora melhorou, assim como meu alongamento e minha resistência”, contou Bruno Augusto. Thiago usa uma tática peculiar para que seus alunos percebam a diferença corporal. Ele pede para a pessoa pegar uma camiseta que não serve no momento e traçar uma meta para que em determinado mês seja possível vestir ela sem problemas. 

Do outro lado, Fernando faz parte de um projeto conhecido como “Desafio de 15 dias”. A proposta consiste em fazer os participantes mudarem seus hábitos em um período de 90 dias. A cada quinzena, com treinamentos funcionais ininterruptos e orientações de alimentação e suplementação, o participante que perder o maior percentual de gordura ganha um prêmio, como compras em um shopping ou passagens para um cruzeiro. “É uma forma de incentivar o aluno a treinar e a cuidar da alimentação”. 

Thiago aconselha quem está iniciando essa nova rotina de exercícios a seguir todas as instruções que os profissionais indicarem. “Treinar e se alimentar corretamente não é fácil, porém tenho certeza que se uma meta for traçada e cumprida, é possível se adequar aos novos hábitos”. Não perder o foco e manter a disciplina são outros lembretes que Victor deixa a partir de sua experiência. 

“A pessoa deve buscar uma atividade em que ela se sinta bem para ter o estímulo de continuar. Se não tiver o prazer, é melhor buscar outras formas de se exercitar”, lembra Fernando. 

O estudante de Educação Musical complementa ao frisar que “nunca devemos ficar sem praticar nada. Uma caminhada diária já significa muito”. 

O importante é sentir-se bem e viver de maneira plena, tendo
respeito por suas limitações e dando a atenção necessária para a própria saúde.
Sempre buscar ajuda profissional antes de adentrar novas experiências. “Várias
vezes, me vi com dores no corpo inteiro por conta de ego”, conta Gislaine, acrescentando
que mesmo que demore, é possível atingir sua meta. “Não vale a pena se
expor além do que o organismo consegue”, conclui. 

*Victor Lisita é integrante do programa de estágio do jornal O Hoje, sob a supervisão de Naiara Gonçalves. (Fotos: Thiago Vieira Bastos)