Moradores resistem em deixar áreas de risco

Neste ano, a Defesa Civil não realizou nenhuma desapropriação de áreas inadequadas para habitação. Processos estão em trâmite no Ministério Público para desabrigar essas famílias

Postado em: 04-10-2017 às 07h00
Por: Guilherme Araújo
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Neste ano, a Defesa Civil não realizou nenhuma desapropriação de áreas inadequadas para habitação. Processos estão em trâmite no Ministério Público para desabrigar essas famílias

Marcus Vinícius Beck*

Quem mora em áreas de risco não
pretende deixar suas residências, mas a Defesa Civil garante que habitantes
destes locais são orientados sobre os riscos de construir moradias próximas aos
córregos. Em época de chuva, a chance de ocorrer alagamentos e inundações é
alta. Ao todo, em Goiânia, existe aproximadamente 18 áreas de risco. Neste ano,
não foram realizados nenhuma desapropriação de famílias que habitam às margens
de córregos e rios.

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Entretanto, em maio, técnicos da
defesa civil analisaram situação de famílias que moravam à beira dos córregos
Anicuns, Ribeirão Cascavel e Rio Meia Ponte. Para desabrigar famílias que estão
no local – e protegê-las -, o coordenador executivo da Defesa Civil, Francisco
Vieira, diz que processos judiciais estão em tramite no Ministério Público
(MP-GO), e as famílias devem deixar as áreas de risco após a decisão do
processo.

“Durante o período de chuvas, a Defesa
Civil entra em estado de alerta constante com monitoramento de prevenir e
avisar aos moradores dessas áreas nos casos de alagamentos os riscos que estão
correndo”, explica Vieira. Ele ainda afirma que o trabalho de monitoramento de
construção irregular é feito durante todo o ano, o que não contribui para
esclarecer às famílias os riscos de fixar residências às margens de rios.

Além disso, especialistas ouvidos pelo
O Hoje apontam que Goiânia é uma das cidades mais desiguais do Brasil. Segundo
a professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Lúcia Moraes,
a especulação imobiliária é um dos fatores que leva a cidade a tirar famílias
de baixa renda dos centros urbanos. Para ela, as remoções feitas pelo Estado
levam as famílias para localidades distantes dos centros urbanos, e não
fornece-lhes condições dignas de habitação.

“A remoção das famílias que estão em
áreas de risco precisam ser feitas”, pontua. A arquiteta declara que as
famílias de baixa renda não podem ser jogadas para lugares insalubres e
afastados da cidade. “Como temos visto, eles vão continuar morando sem mínimas
condições de dignidade”, completa.

Formação
de Goiânia

O mau aproveitamento do espaço urbano é
característica de Goiânia desde a Marcha para o Oeste, em 1937, que estimulou a
criação da capital. A arquiteta Lúcia Moraes frisa que na cidade encontra-se um
espaço urbano vazio, o que se originou nos primeiros bairros ocupados por
famílias de baixa renda, como o Setor Leste Universitário, Leste Vila Nova e
Nova Vila.

“Na época, durante a Marcha para o
Oeste, que aconteceu no governo de Getúlio Vargas, o Estado era dono de parte
da terra, e a população não tinha onde morar. Todavia, vale ressalvar, esse
tipo de ocupação é constante em Goiânia até os dias atuais”, esclarece, dizendo
que a capital não possui – ao ser comparada com outras cidades – tantas áreas
de risco.

Estudos afirmam que a cidade de
Goiânia passou por três etapas de urbanização. A primeira delas, que era impulsionada
pela Marcha ao Oeste a 1950, foi ocupado por “uma função social”, cuja intenção
era manter a cidade como plataforma de progresso. Já a segunda etapa, ficou
marcada pela expansão da cidade, consolidando o acúmulo de capital prometido na
fase anterior. O último, que teve início em 1975, ficou conhecido como
“expansão urbana”. (Marcus
Vinícius Beck
é estagiário do jornal
O Hoje, sob orientação de
Rhudy
Chrystian
)

  

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