Cerca de 600 goianas poderão ter câncer de colo do útero em 2022, estima Inca

Março Lilás reforça importância da prevenção à doença, que mata cerca de sete mil todos os anos no Brasil

Postado em: 03-03-2022 às 07h59
Por: Maiara Dal Bosco
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Março Lilás reforça importância da prevenção à doença, que mata cerca de sete mil todos os anos no Brasil | Foto: Reprodução

O câncer do colo do útero é o terceiro tipo de câncer que mais incide na população feminina no Brasil, com exceção dos tumores de pele não melanoma. É o que apontam os dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Em 2020, o risco estimado foi de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres. Este é, ainda, o segundo tipo de câncer mais incidente na região Centro-Oeste, com 12,35 casos a cada 100 mil mulheres. Neste mês, lembrado por ser o Mês da Mulher, é realizada a Campanha de Conscientização e Combate ao Câncer de Colo de Útero, o Março Lilás.

Neste cenário, o Inca aponta ainda que cerca de cerca de sete mil mulheres morrem de câncer de colo de útero no Brasil todos os anos. O Instituto prevê também o registro de 16.590 mil novos casos da doença ao longo de 2022, sendo quase 600 apenas em Goiás. Para a Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG), estes números estão no centro do debate sobre a baixa adesão à vacina contra o HPV, que segue como maior entrave para o controle da doença, bem como uma das maiores preocupações do Setor de Ginecologia e Mama (SGM) do Hospital do Câncer Araújo Jorge (HAJ).

A reportagem conversou com a médica oncologista Danielle Laperche, que esclareceu diversas dúvidas sobre o tema. Danielle, que é médica oncologista do Hemolabor e membra titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, explica que o exame de Papanicolau é a melhor ferramenta que se tem para a identificação do câncer de colo de útero. 

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“O exame já detecta células alteradas. É um exame simples, feito em consultório e que colhe material a ser avaliado em microscópio para verificar as alterações presentes nessas células. Às vezes conseguimos detectar lesões que não são visíveis até mesmo a olho nu, ou seja, em uma fase bem inicial, o que torna possível fazer um tratamento sem deixar sequelas e erradicando a doença”, afirma.

Sobre os sintomas, a especialista destaca que o câncer uterino só aparece com sintomas em fases mais avançadas da doença e que por isso é extremamente importante a realização dos exames preventivos. “O [exame] Papanicolau detecta a doença na fase quando ela ainda é assintomática. Quando a doença já está em uma fase mais avançada é que os sintomas começam a surgir. Os principais são sangramento vaginal anormal, principalmente durante ou após as relações sexuais, sensação de peso e dor no baixo ventre, na região da bacia e dor pélvica”, ressalta Danielle.

Além destes, a oncologista frisa que podem haver, ainda, sintomas urinários e retais, além de dor para urinar, sangramento na urina e sangramento retal. “Isso porque são órgãos muito próximos que podem estar sendo acometidos pela doença. O corrimento vaginal, de odor desagradável, persistente, que não responde a tratamentos e a coloração alterada, às vezes um pouco sanguinolento, também pode ser um sinal de alerta”, destaca.

Contudo, a médica frisa que é necessário saber que os sintomas descritos não são unicamente exclusivos do câncer de colo de útero, podendo ser, inclusive, em decorrência de outras doenças. “Por isso, diante de um sintoma desses, sempre se deve passar por avaliação médica, para fazer essa diferenciação. Os sintomas também podem estar relacionados a doenças benignas. Então é uma situação que a gente tenta evitar a suspeita do diagnóstico, a partir dos sintomas e realmente agir antes com os exames preventivos periódicos”, afirma Danielle.  

Fator de risco

A especialista alerta que o principal fator de risco para a doença é a infecção pelo HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano). O Ministério da Saúde (MS) define que o HPV é um vírus que infecta pele ou mucosas (oral, genital ou anal), tanto de mulheres quanto de homens, provocando verrugas na região genital e do ânus e, ainda, câncer, a depender do tipo de vírus. Por isso, a infecção pelo HPV é classificada como uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST).

Ela explica que todos os fatores que aumentam as chances de infecção pelo HPV aumentam também a chance de câncer de colo do útero e que, em uma proporção menor, há, ainda, neste aspecto, um papel também do tabagismo no aumento da incidência deste câncer. “Além disso, alterações imunológicas como a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) com comprometimento imunológico são um fator de risco para o câncer uterino, bem como uma vida sexual promíscua, com um início precoce de vida sexual, um maior número de parceiros, má condição de higiene genital e histórico familiar também podem ter papel na incidência da doença”, afirma a médica.

“Aprendi a lição”

“Descobri o HPV quando tinha 19 anos. Peguei o vírus na minha primeira relação sexual. Tinha acabado de entrar na faculdade e, por mais que eu tivesse estudado sobre o assunto na escola, acabei resistindo para ir ao médico, o que fez com que a doença se espalhasse”. Este relato é de uma mulher que hoje tem 28 anos e preferiu não ser identificada pela reportagem.

Ela contou que, diante dos sintomas como coceira e o aparecimento de verrugas, procurou auxílio médico. “Fui a dois médicos e um deles foi muito sensível comigo. Fizemos raspagem e foi um dos piores dias da minha vida porque eu senti muita dor, passei mal muito mal com o efeito da anestesia”, destaca. Após, ela conta que a doença foi tratada com pomadas, que auxiliaram na cicatrização do procedimento.

“Precisava, ainda, tomar as vacinas [contra o HPV], que à época ainda eram pagas. As três doses saíram cerca de R$ 1,3 mil reais, e eram escassas. Hoje, faço acompanhamento ainda, mas nunca mais apresentei nenhum sintoma. Aprendi a lição”, frisa.

Prevenção

O Ministério da Saúde (MS) destaca que meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos podem tomar a vacina contra o HPV gratuitamente no SUS. Para os que vivem com HIV, a faixa etária é mais ampla (9 a 26 anos) e o esquema vacinal é de três doses (intervalo de 0, 2 e 6 meses), sendo que, no caso dos portadores de HIV, é necessário apresentar prescrição médica.

Outros grupos etários podem dispor das vacinas em serviços privados, se indicado por seus médicos. De acordo com o registro na Anvisa, a vacina quadrivalente é aprovada para mulheres entre 9 a 45 anos e homens entre 9 e 26 anos, e a vacina bivalente para mulheres entre 10 e 25 anos.

A vacina quadrivalente faz parte do calendário vacinal do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e deve ser administrada em duas doses, com intervalo de seis meses, as meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Meninas e meninos que chegaram aos 15 anos sem completar as duas doses da vacina podem também atualizar o esquema vacinal.

Desde 2017, a vacina contra o HPV está também disponível para mulheres e homens vivendo com HIV, ou que sejam pacientes transplantados ou oncológicos. Em 2021, o Ministério da Saúde ampliou a indicação da vacinação para as mulheres com até 45 anos com uma destas condições.

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