Estresse e falta de civilidade aumentam acidentes no trânsito em Goiás

Goiás conta com 4,23 milhões de automóveis, sendo 1,2 milhão somente na Capital, o que significa que para cada 100 habitantes existem 80 veículos. Goiânia ocupa o 6° lugar no quesito maior frota de carros do Brasil

Postado em: 07-03-2022 às 08h43
Por: Daniell Alves
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Goiás conta com 4,23 milhões de automóveis, sendo 1,2 milhão somente na Capital, o que significa que para cada 100 habitantes existem 80 veículos. Goiânia ocupa o 6° lugar no quesito maior frota de carros do Brasil | Foto: Pedro Pinheiro

O número de acidentes de trânsito em Goiás registrou aumento com oito mil vítimas a mais no último ano, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-GO). Em 2020, foram 90,2 mil vítimas, contra 98,4 mil em 2021. Somente neste ano, foram 14 mil acidentes no Estado. Comportamentos agressivos e a falta da direção defensiva resultam no aumento da violência e, consequentemente, mais acidentes no trânsito, conforme aponta a psicanalista Mayara Vieira, em entrevista ao O Hoje. 

A psicanalista explica que a falta de civilidade vem de uma rotina de estresse. “Pessoas agressivas tendem a estourar em momentos de estresse, seja uma fechada no trânsito, uma seta que não foi dada. O nível de raiva acumulada faz com que elas aflorem os sentimentos que estão vivendo naquele momento. Por isso, esse aumento em relação a violência no trânsito. Eu mesma já presenciei briga com arma de fogo no meio da rua”, relata. 

Mayra Vieira ressalta que grande parte das pessoas ainda não está disposta a investir em momentos prazerosos e acaba descontando no outro. “Até mesmo uma atividade física para poder extravasar toda essa energia que acumulamos durante o nosso dia a dia.

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Somado a isso, faltam campanhas de conscientização voltadas para os motoristas. “Há tempos eu não vejo nada disso sendo feito. Hoje, muitos dos homicídios são provocados em brigas de trânsito e isso é um absurdo. Seria importante também apoio psicológico de qualidade para essas pessoas”, afirma Mayara Vieira. 

Ela avalia que seria possível reduzir os acidentes por meio de campanhas, oferecimento de profissionais qualificados com o intuito de ouvir pessoas que estão dispostas, de alguma forma, a controlarem suas emoções. “Deveria haver um programa do governo que tratasse o tema com mais responsabilidade, não somente no mês de maio, afinal a cada dia que passa o número de violência no trânsito vem crescendo cada vez mais”, finaliza. 

Trânsito lento e muitos veículos 

Conforme dados do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO), Goiás tem 4,23 milhões de automóveis, sendo 1,2 milhão somente em Goiânia. A Capital possui 80 veículos a cada 100 habitantes. Aparecida de Goiânia aparece em segundo lugar no ranking, com 320 mil veículos. Com relação às motocicletas, são cerca de 920 mil em Goiás. O último estudo divulgado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) mostrou Goiânia em 6° lugar no quesito maior frota de carros do Brasil. Na categoria motos, a Capital ficou em 4° lugar.

O número justifica o quanto o trânsito de Goiânia é lento e estressante, conforme explica o professor do Instituto Federal de Goiás (IFG) e engenheiro de transportes, Marcos Rothen. Segundo ele, a cada ano são novos carros e o trânsito piora. “E não tem opção, quem decide ir a pé tem de andar por calçadas inclinadas, obstruídas. O transporte coletivo não oferece conforto”, reclama.

Marcos enfatiza que as normas de trânsito precisam ser respeitadas, reduzindo, assim, o número de acidentes e mortes, inclusive aqueles que envolvem os pedestres. “É necessário que as pessoas tenham condições de andar pela cidade com mais segurança”, destaca.

Mesmo diante da crise que se instalou com a pandemia e o desemprego crescente, Goiás registrou um aumento no número de veículos em 2021. Os dados do Detran apontam para o acréscimo de 3,5% da frota, passando de 4,17 milhões em 2020 para 4,23 milhões no ano passado. Em apenas seis anos, o aumento no número de veículos no Estado foi de 20,6%, o que corresponde a 738.971 carros, motos e caminhões a mais. 

Ações 

O Detran Goiás alega ter realizado ações educativas nas rodovias estaduais e nas faixas de pedestres na Capital. A última foi realizada no feriado de Carnaval. Os agentes enfatizaram aos condutores o uso de dispositivos de segurança para as crianças, uso do cinto de segurança e cuidados ao realizar ultrapassagem, além de reforçar o quão prejudicial é a soma de aparelhos eletrônicos, álcool e direção. 

De acordo com o Departamento, a abordagem educativa obedece ao que determina o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O objetivo é orientar os condutores sobre a adoção de comportamentos e atitudes seguras no trânsito, assim, salvar vidas no trânsito. 

Sequelas

Além de afetar o psicológico, acidentes podem deixar sequelas para o resto da vida. O autônomo Leonardo Gomes Sousa, 19 anos, sofreu um acidente de moto há um ano em uma avenida de Goiânia. Com o acidente, ele quebrou o braço, um dedo e ficou com diversos arranhões por todo o corpo. 

Impossibilitado de trabalhar, Leonardo precisou ficar por mais de um mês em casa se recuperando. “Senti muitas dores e muita queimação, também era difícil na hora de tomar banho”, lembra. 

O acidente fez com que ele ficasse mais atento ao trânsito. “Comecei a prestar atenção e percebi que deveria dirigir por mim e por todos os outros. Também sempre evito passar em areias ou locais com brita”, revela. Atualmente, ele faz um trajeto de 22 quilômetros todos os dias para ir e voltar do trabalho e fica por cerca de três horas no trânsito entre Aparecida de Goiânia e a Capital. 

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