Risco de calamidade: Meia Ponte pede socorro no seu dia estadual de proteção; entenda

Estima-se que 150 km de água que saem de Goiânia estejam em péssima qualidade.

Postado em: 12-03-2022 às 09h35
Por: Redação
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"A situação vai de mal a pior, tanto em termos de quantidade de água como em qualidade", declara membro dos Guardiões do Meia Ponte. | Foto: Pedro Pinheiro

Por Sabrina Vilela

O rio Meia-Ponte é de longe um dos rios mais importantes de Goiás, afinal a sua bacia hidrográfica é responsável por 50% da água da população goiana e banha 18 municípios no Estado.  O rio nasce na Serra dos Brandões em Itauçu, a 70 km da Capital, e percorre 500 km até desaguar na Bacia do Rio Paranaíba em Cachoeira Dourada.

Mas, a cada dia que passa o rio goiano fica em situação de calamidade. Apesar das chuvas intensas entre o final de 2021 e início de 2022 a tendência é que o nível da água baixe. Então é necessário ficar alerta com essa situação ambiental que só piora. 

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Foto: Pedro Pinheiro

Membro dos Guardiões do Rio Meia Ponte, uma rede de articulação entre a sociedade civil organizada que tem como objetivo recuperar o manancial, Ernesto Renovato diz que a situação está indo de mal a pior, tanto em termos de quantidade, quanto da qualidade da água. “A bacia, está tão degradada que não consegue mais armazenar essa água que vem das chuvas, ela escorre, em sua maioria, de forma superficial”, explica. Ele aponta ainda que, apesar das generosas chuvas, “quando o período de estiagem chegar, o rio vai começar a baixar rapidamente”.

Dia Estadual da Preservação

Com o objetivo de incentivar e promover ações de conscientização da importância e de preservar o rio, no dia 12 de março é comemorado o Dia Estadual de Preservação ao rio Meia Ponte. A lei tem como meta encorajar o desenvolvimento sustentável dos municípios da bacia através da sensibilização dos diferentes atores da comunidade para a questão social.

Segundo Renovato, a cobertura vegetal ao longo do rio e de seus afluentes foi quase toda destruída. A Capital, com cerca de 1,6 milhão habitantes, é a que mais gera preocupação para os que lutam pela preservação do rio Meia Ponte. A maior parte do problema é por falta de conscientização da própria população.

Ernesto aponta ainda problemas com relação à poluição principalmente na região metropolitana de Goiânia. “Ainda temos muitos pontos de lançamento in natura de esgoto e a maior estação de tratamento do rio ainda faz um tratamento primário, com uma taxa de eficiência muito baixa”, relata. O integrante da rede fez a última visita em 18 de julho de 2020, e afirma que nada mudou desde então.

De acordo com Ernesto algumas ações voltadas para a recuperação do rio Meia Ponte da parte do poder público é a ampliação do sistema de coleta de esgoto e obras na Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) que ainda, segundo ele, precisam ser mais rápidas. “Essas obras estão acontecendo a passos de tartaruga. Nunca cumprem o cronograma”.

O membro dos Guardiões do rio Meia Ponte chama a atenção para a conscientização da população com relação a evitar jogar lixo no rio principalmente dos goianienses, onde a situação é mais crítica. “Ele sai de Goiânia em estado deplorável e só 150 km depois que ele vai ter condições melhores de qualidade de suas águas”.

A nossa equipe presenciou por alguns momentos o que os moradores da região sentem durante todos os dias: mau cheiro, sujeira e até aves lutando pela sobrevivência em meio a poluição causada pelo ser que deveria apenas preservar. 

Em um trecho localizado no setor Jaó, Edson Ribeiro de Sá é comerciante e vende ovos há mais de cinco anos e fala do que o incomoda. “Aqui já foi pior, o pessoal jogava muito lixo, parava  o carro no meio da rodovia pra jogar entulho. E aqui no calor fica pior por causa do cheiro, além de ter muitas aves que bebem dessa água poluída”, explica.

Ao andar pela região, a nossa equipe flagrou um cano que libera um líquido parecido com óleo no rio e, de acordo com moradores da região, toda sexta-feira na parte da tarde cai desse mesmo cano um óleo de cor escura que causa um mau cheiro na região. Testemunhas relataram à nossa equipe que a situação está assim por volta de dois anos e que a suspeita é que seria de algum posto de gasolina.

Inquéritos já foram instaurados para grandes empresas por não preservar o rio

Segundo o titular da Delegacia Estadual do Meio Ambiente (Dema), desde 1999, quando o Programa de Nascentes foi criado, a delegacia trabalha com princípio da prevenção para que as devidas providências sejam tomadas em caso de degradação ao Meio Ambiente. “Em 1999 três nascentes foram recuperadas, em 2000 foram 70 e agora já passam de 500 nascentes recuperadas”.

O delegado afirma ainda que ao longo dos anos vários inquéritos foram instaurados e encaminhados indiciando grandes empreendimentos como granjas e frigoríficos.

No final do ano passado a nossa equipe fez uma matéria sobre o rio Meia Ponte e uma propriedade foi denunciada por usar caminhões para despejar entulhos  no rio. O delegado fala do caso: “Eu deveria olhar na delegacia para ver o desenrolar e a tramitação. Mas, eu posso dizer que solicitamos perícia. Normalmente devido a grande demanda não tenha sido concluído. Mas, o inquérito foi instaurado e os responsáveis serão indiciados caso o laudo pericial dê positivo”.

Conheça o rio goiano

No ano de 1732 nascia o nome rio Meia-Ponte quando o Anhanguera, Bartolomeu Bueno, na tentativa de atravessar o rio fez o uso de duas toras, mas ao retornar só tinha uma por ter sido levada pela enchente, por isso recebeu o nome que está presente até hoje.

Já em 1933 nasceu a capital goiana e um dos motivos de escolher o lugar para a capital foi a hidrografia. Dois anos depois foi construída a Usina do Jaó , nas proximidades do rio, devido a demanda por energia. No dia 3 de abril de 1945, uma chuva forte danificou os equipamentos da usina, então geradores foram usados como alternativa.

Somente em 1947 que a usina foi reconstruída e em 1959 entrou em operação a quarta etapa da Usina. Com o crescimento em massa na Capital, em 1970 o rio começou a ficar poluído e as usinas foram desativadas em seguida.

A Estação de Tratamento de Água no rio Meia Ponte (ETA) Eng. Rodolfo José da Costa e Silva foi inaugurado em 1988. Em 2003 quatro novas nascentes foram descobertas em Taquaral de Goiás. A estação de tratamento de esgoto de Goiânia nasceu em 2004 com a meta de tratar 80% dos esgotos da grande Goiânia.

Os municípios banhados pelo Rio Meia Ponte são; Itauçu (onde o rio nasce), Santo Antônio de Goiás, Nova Veneza, Brazabrantes, Goiânia, Goianira, Inhumas, Aparecida de Goiânia, Bela Vista de Goiás,  Senador Canedo, Pontalina, Aloândia, Joviânia, Goiatuba e Panamá. (Especial para O Hoje).

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