Tiroteio em escola de Goiânia deixa dois estudantes mortos
O suspeito dos disparos é um estudante do próprio colégio, filho de militares. O adolescente está apreendido. De acordo com colegas do menino, ele sofria bullying
*Atualizado em 15h52
*Atualizado em 17h11
O clima foi de completo
caos na manhã desta sexta-feira (20) em Goiânia. Um tiroteio no Colégio
Goyases, escola particular de ensino primário e fundamental localizada no Setor
Riviera, deixou mortos João Vitor Gomes e João Pedro Calembo, ambos de 14 anos.
Os baleados foram socorridos pelo Corpo de Bombeiros.
O Corpo de Bombeiros
relatou que pouco depois das 11h50 da manhã uma mulher ligou para o 193,
identificando-se como professora e dizendo que uma pessoa invadiu a escola e
fez diversos disparos. Alguns alunos disseram ter confundido o barulho dos
tiros com balões estourando. A notícia teve repercussão internacional.
Com os disparos, que teriam sido feitos sem ter um alvo, o jovem,
que está apreendido na Delegacia de Apuração de Atos Infracionais (Depai)
baleou além dos colegas mortos, segundo a Polícia Militar, quatro outros
adolescentes e só parou ao ser contido por um professor e outros alunos
enquanto tentava recarregar a arma. Ao todo, três meninas e um menino, identificados
como Yago, Marcela, Lara e Isadora foram encaminhados para hospitais da região.
Todas as crianças são estudantes do 8º ano do ensino fundamental.
Os corpos, até o início da tarde, não haviam sido retirados do colégio pelo Instituto Médico Legal (IML). Após o crime, curiosos, pais e alunos se concentraram na porta da escola em clima de comoção. A família de João Pedro Calembo estaria em choque.
Segundo o Hospital de
Urgências de Goiânia, o estado de saúde de 3 dos feridos é grave. Yago estaria
orientado, consciente e respirando espontaneamente, passando por uma avaliação
multidisciplinar na Emergência do Hugo; Marcela também estaria consciente e
passando por avaliação, embora respirando com a ajuda de aparelhos. A situação
mais complicada seria a de uma das outras duas meninas, que está sedada e
entubada.
De acordo com
colegas do menino, o garoto autor dos disparos, que seria filho de militares, sofria bullying por parte dos colegas: “O pessoal
chamava ele de fedorento, pois não usa desodorante. No intervalo da aula, ele
sacou a arma da mochila e começou a atirar. Ele não escolheu alvo. Aí todo
mundo saiu correndo”, contou um colega da classe.
Uma
outra criança que estuda no colégio relatou que o aluno dava indícios de uma
postura agressiva: “Ele lia livros satânicos, falava que ia matar alguns
dos colegas. Um dos garotos que foi morto falava que ele fedia e chegou a levar
um desodorante para sala”. O tenente Marcelo Granja, assessor da PM,
afirmou que a arma usada no crime, uma pistola .40 que é de uso restrito da Polícia Militar, passará por perícia.
Autoridades
O Governo do Estado de Goiás lamentou por meio de nota a
tragédia, decretando luto oficial de três dias em solidariedade aos envolvidos
no lamentável acontecimento. O governador em exercício, José Eliton, cancelou
toda sua agenda pública desta sexta-feira a fim de acompanhar as investigações
e prestar apoio às famílias e à comunidade escolar envolvida.
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO), por
meio de sua Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente, também veio a
público comentar o caso, manifestando pesar:
“Nos unimos a todos os brasileiros em condolência às vítimas, pais, familiares, professores e funcionários da referida unidade de ensino.
Como um dos integrantes da rede de proteção e garantias dos Direitos de Crianças e Adolescentes do Estado de Goiás, a OAB-GO se coloca à disposição de todos os envolvidos para viabilizar o melhor atendimento institucional em orientação e apoio jurídicos necessários aos envolvidos neste triste ocorrido.
Reforçamos desde já que a OAB-GO atua de modo a garantir a todas as crianças e adolescentes envolvidos nessa tragédia o tratamento adequado, célere e exitoso de forma a assegurar na elucidação dos fatos, bem como todos os desdobramentos jurídicos deles decorrentes, o respeito aos princípios constitucionais da prioridade absoluta e proteção integral dos direitos das crianças e adolescentes.
É imperioso ressaltar que a divulgação de imagens de crianças e adolescentes por meios eletrônicos, sem autorização dos pais ou responsáveis, especialmente em um contexto tão vulnerável como esse, configura-se ato ilícito, que vai de encontro ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e à Constituição Federal.
A Prefeitura do município também emitiu em nota sua tristeza com o acontecimento:
Nesse momento de dor, em que se busca respostas para tamanho absurdo, a Prefeitura se solidariza com as vítimas e seus familiares e expressa os mais sinceros sentimentos pelas irreparáveis perdas de vidas tão jovens e que tinham todo um futuro pela frente. Pela relevância do ocorrido e das vidas ceifadas, o excelentíssimo senhor prefeito Iris Rezende decreta luto oficial de três dias no âmbito do município de Goiânia.
Durante coletiva de imprensa realizada no Hugo, o delegado
titular da Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais, Luiz Gonzaga
Júnior, afirmou que o adolescente prestou depoimento nesta tarde. No momento do
crime, segundo apurado, suspeito estava sentado, assistindo aquela que seria a
6ª aula do dia normalmente e teria dado um primeiro tiro, acidental.
Após os colegas terem se assustado, o garoto atirou em um
dos garotos que morreram, que seria seu principal desafeto e responsável por praticar
bullying contra ele. Diferente do que havia sido informado, no total, 5 alunos
ficaram feridos.
O menor ainda disse que tentava recarregar a arma para
posteriormente se matar, mas foi impedido por um professor, que travou a
pistola e a guardou até a chegada da Polícia. Ainda em depoimento, o garoto
afirmou que se inspirou em massacres como Columbine, nos Estados Unidos, e
Realengo, no Rio de Janeiro.
O boato de que o motivo do crime teriam sido chacotas sobre
o uso de desodorante não foi comentado. Está programada uma outra ouvidoria
para aprofundamento das investigações, ainda sem data definida. Os pais do
garoto também foram ouvidos e disseram nunca ter suspeitado das intenções do
filho.
O adolescente foi apreendido em flagrante e segue neste
momento detido na Depai. A Polícia Civil concluirá o auto de investigação e
encaminhará em breve ao MP o inquérito, que junto ao Juizado da Infância, deve
requerer sua internação.