No aniversário de 7 anos, obras do BRT Norte-Sul revelam sonho inacabado de Goiânia

Era uma quinta-feira de março de 2015 quando a então presidente Dilma Rousseff (PT) veio a Goiânia lançar as obras do corredor rápido de ônibus ao lado dos já falecidos prefeitos Paulo Garcia (PT) e Maguito Vilela (MDB), além do hoje ex-governador Marconi Perillo (PSDB) e do à época ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD)

Postado em: 19-03-2022 às 14h10
Por: Augusto Diniz
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Era uma quinta-feira de março de 2015 quando a então presidente Dilma Rousseff (PT) veio a Goiânia lançar as obras do corredor rápido de ônibus ao lado dos já falecidos prefeitos Paulo Garcia (PT) e Maguito Vilela (MDB), além do hoje ex-governador Marconi Perillo (PSDB) e do à época ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD)

A quinta-feira 19 de março de 2015 se tornou motivo de grande festa em Goiânia. A então presidente Dilma Rousseff (PT), acompanhada do à época ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), desembarcou no hoje destruído heliponto do Paço Municipal para fazer o lançamento das obras do BRT (Bus Rapid Transit) Norte-Sul.

O painel ao fundo do palco onde estavam as autoridades não escondia o otimismo com o início da intervenção urbana para criar o corredor exclusivo para ônibus rápidos do Terminal Recanto do Bosque, em Goiânia, até o Terminal Veiga Jardim, em Aparecida de Goiânia: era possível ler “BRT Norte-Sul – a maior obra de mobilidade da história de Goiânia”.

E a festividade para 3 mil convidados, com isolamento para evitar que 25 manifestantes, que protestavam contra a corrupção, chegassem perto das autoridades no lançamento do BRT, era compreensível. Uma obra inicialmente orçada em R$ 210 milhões que cortaria Goiânia de Norte a Sul em 21,8 quilômetros seria concluída em 20 meses, até o final de 2016, de acordo com o então coordenador do projeto, Ubirajara Abud.

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Naquele dia, a previsão de custos já mostrava que a construção custaria R$ 340 milhões. R$ 210 milhões viriam do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, e R$ 130 milhões seriam dos cofres da Prefeitura de Goiânia. 30 dias depois do lançamento, as obras seriam iniciadas. Então, pelo cronograma inicial, o BRT Norte-Sul deveria ter ficado pronto em dezembro de 2016, no final da gestão Paulo Garcia na capital goiana.

Obras não acabaram

Como você, que leu até aqui, já sabe, as obras continuam em andamento. Sete anos depois do lançamento. Neste sábado (19/3), é hora de soprar as velas para a construção de um sonho de mobilidade urbana que segue com novos problemas. O mais recente foi a desistência de uma das empresas do contrato do trecho I (parte Sul do BRT), que vai do Terminal Isidória ao Terminal Cruzeiro, no final de 2021. Com isso, a Prefeitura de Goiânia terá de fazer o distrato para, depois, inciar um novo processo licitatório, que deve durar cerca de seis meses.

Em fevereiro, a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) informou que os atrasos nos pagamentos às empresas responsáveis pela construção do trecho II (parte Norte do BRT) e pela supervisão da edificação começaram a ser regularizados. “A obra do Trecho II [do Terminal Recanto do Bosque ao Terminal Isidória] está em andamento e, conforme o previsto pelo consórcio, deve ser finalizada até o final de julho de 2022”, disse a Seinfra no dia 15 de fevereiro de 2022.

Desde o lançamento daquele projeto audacioso, que previa o atendimento de 120 mil passageiros por dia a partir de 2016, o que atingiria 140 bairros e até 500 mil pessoas na cidade. “É um transporte de muito maior qualidade, conforto, pontualidade, regularidade, e que contará com ar-condicionado. Haverá redução de 50% do tempo do trajeto, sendo que a velocidade passará de 14 para 30 quilômetros por hora (km/h)”, disse Ubirajara Abud naquele 19 de março de 2015.

BRT cruzaria com o VLT

À época, havia uma indefinição no projeto na parte do cruzamento das avenidas Goiás e Anhanguera, no Centro. Tudo por conta da expectativa de que o governo estadual transformaria o Eixo Anhanguera, que é o BRT Leste-Oeste de Goiânia, em veículo leve sobre trilhos (VLT). “Estamos aguardando o posicionamento do Estado”, declarou Abu há exatos sete anos.

O projeto inclui o uso de 82 ônibus na linha do BRT, 52 deles biarticulados e 30 convencionais. Vale lembrar que a Prefeitura de Goiânia comprou seis ônibus para serem utilizados no corredor em construção pelo valor de R$ 4,5 milhões. Cada veículo custou R$ 750 milhões. Até agora, sem poder rodar.

Quando concluiu a construção da primeira plataforma de embarque e desembarque, na Avenida Goiás Norte, o então prefeito Paulo Garcia, em julho de 2016, já falava sobre a compensação por árvores retiradas no trajeto. “Mais de 6 mil árvores já foram plantadas em compensação pela obra do BRT. Em maio deste ano [2016], por exemplo, 188 ipês da cor amarela, branca e rosa foram plantados no trecho que compreende a Praça do Violeiro e a Alameda Fernando de Noronha.”

Árvores da Praça Cívica

De acordo com nota da prefeitura, a Amma autorizou a retirada de 24 árvores pela Seinfra na Praça Cívica para substituir por outras 360 mudas nativas do Cerrado que serão doadas pelo consórcio responsável pelas obras no local | Foto: Nathan Sampaio/O Hoje

Em reportagem publicada pelo O Hoje no último sábado (12/3), houve o registro da retirada das árvores da Praça Cívica no trecho em passará o BRT Norte-Sul. Procurada nesta semana, a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) informou, por meio de nota assinada junto com a Seinfra e a Prefeitura de Goiânia, que autorizou a Secretaria de Infraestrutura a substituir as 24 árvores do canteiro central da Praça Cívica por outras 360 mudas nativas do Cerrado que serão doadas pelo consórcio BRT-Goiânia até abril. “As mudas serão plantadas no canteiro central e nos passeios públicos da Praça Cívica e imediações.”

Ainda, de acordo com a nota, a substituição das árvores será feita em cumprimento ao termo de ajustamento de conduta (TAC) assinado “entre as partes envolvidas e interessadas na obra”. “No local em que estavam as 24 árvores, o consórcio vai construir estações de embarque e desembarque e completará a pavimentação do anel interno, por onde circularão os ônibus”, informaram Amma, Seinfra e a prefeitura.

Sete anos depois do lançamento das obras do BRT Norte-Sul, a Prefeitura de Goiânia informou ao O Hoje que “aproximadamente 85%” da pavimentação está concluída. “Faltam as intervenções complementares (sarjetas, meio-fio e outros). A previsão é de conclusão no mês de abril. Já as estações de embarque e desembarque do BRT na Praça Cívica e na Avenida Goiás devem ser concluídas em agosto de 2022.”

BRT no Centro para quê?

Quando assumiu novamente o cargo de prefeito, em janeiro de 2017, Iris Rezende (MDB) se posicionava contra a passagem do BRT pelo Centro de Goiânia. “Vamos violentar a Avenida Goiás se não se justifica tanto? […] Por que violentar a Praça Cívica com esse trambolho de concreto? Para quê? Estragar o canteiro do Centro? Na minha opinião, teríamos que fazer dois BRTs: um da região Norte até a Rodoviária e o outro nos ligando Aparecida”, foi o que disse o emedebista na Câmara Municipal no dia 20 de fevereiro de 2017.

Ainda durante a gestão Iris, em 8 de outubro de 2020, a prefeitura assinou um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público Federal (MPF), por contar com recursos da União no BRT Norte-Sul, para adiar a entrega da obra em mais seis meses. Com isso, a conclusão da construção ficou para o prefeito eleito Maguito Vilela (MDB). Mas Maguito faleceu no dia 13 de janeiro de 2021 em decorrência da covid-19. Agora quem toca as obras é o prefeito Rogério Cruz (Republicanos), eleito vice na chapa do emedebista em novembro de 2020.

Em agosto de 2021, já na gestão Rogério Cruz, a prefeitura anunciou que estava com 90% das obras do BRT concluídas e entregaria o corredor até o final do ano passado. Um dos trechos que tinha até data de inauguração era o viaduto no cruzamento da Avenida Perimetral Norte com a Goiás Norte: 24 de outubro, o aniversário de 88 anos da capital. Mas não deu certo. A Seinfra disse que as chuvas causaram o rebaixamento da cabeceira, o que colocaria em risco a construção.

Em agosto de 2021, a Prefeitura de Goiânia anunciou que concluiria as obras do BRT Norte-Sul até o final do ano passado | Foto: Jucimar de Sousa

Praça Cívica vira estacionamento

No dia 24 de julho de 2021, a Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM) interditou o anel interno da Praça Cívica. Seriam iniciadas as obras do BRT Norte-Sul na Rua 82. A previsão da entrega do trecho era inicialmente em 75 dias. Depois de mais de 90 dias de intervenções no local, a Seinfra disse que terminaria tudo na Praça Cívica até novembro.

Em novembro, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) liberou o projeto arquitetônico para construção das plataformas de embarque e desembarque na Praça Cívica, já que trata-se de trecho tombado. No início de 2022, a empresa que fornecia o serviço de acompanhamento arqueológico das obras comunicou a prefeitura que paralisaria os trabalhos por falta de pagamento.

“Agora teremos o acompanhamento de um profissional da área de arqueologia na construção das estações na Praça Cívica e na Avenida Goiás”, comunicou a Seinfra em fevereiro deste ano. Neste sábado em que a obra completa 7 anos de seu lançamento, a interdição do anel interno da Praça Cívica chegou a 238 dias.

Muita coisa mudou

Do anúncio da “maior obra de mobilidade da história de Goiânia” na tarde daquela quinta-feira 19 de março de 2015, muita coisa mudou. A presidente Dilma Rousseff foi afastada do cargo pelo Senado em 12 de maio de 2016 e destituída do cargo no dia 31 de agosto do mesmo ano. O então prefeito Paulo Garcia, sete meses após deixar o cargo, morreu aos 58 anos vítima de um infarto fulminante em 30 de julho de 2017.

Quem assumiu as obras depois do petista, Iris Rezende, se aposentou da carreira política no dia 31 de dezembro de 2020. O emedebista faleceu pouco mais de dez meses após deixar a prefeitura de Goiânia. No dia 9 de novembro de 2021, o ex-governador Iris Rezende morreu em decorrência de um acidente vascular cerebral hemorrágico (AVC hemorrágico) sofrido em 6 de agosto do ano passado.

Naquela foto do lançamento das obras do BRT, além de Paulo Garcia e Dilma Rousseff, estão o falecido ex-governador Maguito Vilela e o também ex-governador Marconi Perillo (PSDB), que deixou o governo do Estado em abril de 2018. Desde a queda de Dilma, passaram pelo Palácio do Planalto os presidentes Michel Temer (MDB), que era vice da petista, e Jair Bolsonaro (PL), atual inquilino do Palácio da Alvorada. No Palácio das Esmeraldas está hoje o governador Ronaldo Caiado (União Brasil).

História sem fim?

Enquanto a história continua a seguir seu curso, com a troca de ocupantes nos cargos de poder, as obras do BRT Norte-Sul seguem seu curso, lento, atrasado, com novas paralisações, sem uma previsão definitiva de entrega. Quem sabe um dia possamos ver um ônibus concluir o trajeto de 21,8 quilômetros do projeto anunciado naquele 19 de março de 2015 como “a maior obra de mobilidade da história de Goiânia”.

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