Frete mais caro já repassa aos consumidores o aumento no valor dos produtos

Os transportes rodoviário, marítimo e internacional tiveram aumento de cerca de 100% nos custos e a alta será repassada ao preço final dos produtos ao consumidor

Postado em: 25-03-2022 às 07h56
Por: Daniell Alves
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Os transportes rodoviário, marítimo e internacional tiveram aumento de cerca de 100% nos custos e a alta será repassada ao preço final dos produtos ao consumidor | Foto: Pedro Pinheiro

Com os aumentos sucessivos no preço dos combustíveis, os goianos têm sido afetados em diversos setores da economia. Os transportes rodoviário, marítimo e internacional tiveram aumento de cerca de 100% nos custos e a alta será repassada ao preço final dos produtos ao consumidor. Em entrevista ao O Hoje, o professor e mestre em Economia Luiz Carlos Ongaratto explica que a elevação no valor do combustível pressiona o preço do frete. 

“Ainda precisamos aguardar essa nova média de fretes do mercado. Por outro lado, temos visto outras ações que contribuem para baixar o valor dos alimentos ou para amenizar”.  Ele cita como exemplo a decisão do Governo Federal de zerar a taxa de importação para o etanol e alguns alimentos da cesta básica. 

“Então, sobre o impacto ele vai pressionar os preços, mas precisamos saber do funcionamento das demais políticas. Isoladamente poderia afetar, mas existem outras políticas para saber o valor disso no final. Existem políticas que visam baixar o preço e outras pressionam os preços para eles subirem”, afirma. 

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Outra questão apontada por ele é o orçamento familiar. “Existem outras opções de mobilidade urbana, mas não são desenvolvidas em nossas cidades. Se está gastando mais dinheiro com combustível, automaticamente sobre menos dinheiro para comprar alimentos, pagar as contas em dia. Isso pode ter um impacto negativo na inadimplência. Nesses últimos meses, com a inflação, os alimentos aumentaram de preço”, avalia. 

O aumento expressivo no valor dos alimentos pode ser observado ao andar pelos supermercados de Goiânia. A dona de casa Maria Creonice, 56 anos, conta que só compra os produtos que estão na promoção. “Os supermercados já divulgam as promoções no whatsapp e eu fico de olho, mando no grupo da família, porque qualquer 10 centavos já faz diferença”, conta. 

A dona de casa tem evitado comprar alimentos que estão muito caros, a exemplo do tomate, que também registrou aumento. “A gente vai dando prioridade para os alimentos indispensáveis, como o arroz e feijão. A carne também está cara, então compramos mais frango”,explica. 

Mercadorias 

Uma transportadora que atua em Goiânia, na Região da 44, precisou aumentar o frete do preço para os clientes, conforme apurado pelo O Hoje. O valor mínimo, que antes era R$ 40, agora é R$ 45 e a previsão é de aumento para os próximos meses. A empresa transporta cargas de diversos tamanhos. Os preços são definidos a partir do peso da mercadoria. Nos últimos meses, a transportadora afirma ter sentido o impacto na alta do combustível. 

Além disso, os motoristas de transporte por aplicativo estão trabalhando apenas para se manter, sem lucros. O vice-presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo do Estado de Goiás (Amago), Rodrigo Vaz, ressalta que a gasolina e etanol equivalem à metade da soma dos gastos que os motoristas têm. “A conta não fecha. Se colocar na pauta, o motorista não trabalha. A diferença com o reajuste pode ser de centavos”, afirma. 

Caminhoneiros 

O cenário se repete também para os caminhoneiros, conforme explica o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas (Sinditac Goiás), Vantuir Rodrigues. De acordo com ele, uma parcela está parada porque não tem como realizar o trabalho. “A situação sem o caminhoneiro autônomo não é boa, vai virar um caos”, alerta. Vantuir afirma que os caminhoneiros ganham em real e convivem com os preços acompanhando o dólar. “Nunca vamos dar conta, mas os caminhoneiros são essenciais”. 

Guerra na Ucrânia 

Segundo a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a expectativa do governo é a de que o preço dos alimentos sofra uma alta, em mais uma consequência da guerra na Ucrânia e da escassez de fertilizante no mercado. “Isso tudo [essa alta dos alimentos] depende. Se a guerra acabar hoje ou amanhã, é um impacto [aumento de preço menor]. Se continuar por mais tempo, é outro”, disse a ministra.

O titular da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Thiago Mendonça, explica que a agricultura funciona em cadeia. “Se há escassez de fertilizante, a produção de grãos será menor, logo ficará mais caro. Como milho e soja são a base de muitos produtos industrializados, o preço também vai subir. Esse impacto pode ser sentido no preço da carne, do leite e dos ovos, afinal os grãos são a base da ração”, exemplifica. 

ANTT reajusta valores em até 14% para transporte rodoviário de carga

Considerando a divulgação, pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), do preço médio do óleo diesel S10 referente à semana de 13/03/2022 a 19/03/2022, no valor de R$ 6,751 por litro, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) atualizou os coeficientes do pisos mínimos do transporte rodoviário de cargas, mediante aplicação do percentual de 24,58% ao valor do óleo diesel utilizado para o cálculo das tabelas, o que resultou em uma variação de 11 a 14% do referencial mínimo de frete, a depender do tipo da carga e número de eixos. 

O reajuste foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União (DOU). A ANTT deliberou sobre a atualização após a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgar a variação do preço médio do diesel S10 na última semana, quando atingiu o valor de R$ 6,751 por litro.

A aplicação pelos estados da nova regra prevista para a cobrança do ICMS sobre o diesel pode passar a valer somente em abril. Até lá, os governadores seguirão cobrando a mesma taxa de imposto, o que deve se refletir no preço na bomba dos postos.

No último ano, o volume de frete cresceu 37,6%, aponta a 6ª edição do Relatório FreteBras – O Transporte Rodoviário de Cargas Transportadoras. De acordo com a pesquisa, o agronegócio puxou a oferta de fretes no período, com 36,6% das cargas registradas na plataforma da FreteBras. O setor movimentou cerca de R$ 23 bilhões em fretes. Os produtos mais transportados foram fertilizantes (31,5%), milho (10,9%) e soja (9,2%). Na comparação entre 2020 e 2021, os fretes do agronegócio aumentaram 46,9%.

Logo em seguida, estão no ranking os produtos industrializados responsáveis por 28,2% dos fretes anunciados na plataforma e crescimento de 31,1% em relação a 2020. E na terceira posição estão os fretes de insumos para construção que somaram 12,4% das cargas registradas. O número representa um crescimento de 44,5% em relação a 2020.

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