Usuários do Imas reclamam de falta de atendimento e dificuldades para conseguir procedimentos

Suspensão dos atendimentos afeta cerca de 80 mil pessoas, que são assistidas pelo Instituto na capital

Postado em: 26-03-2022 às 10h12
Por: Redação
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Suspensão dos atendimentos afeta cerca de 80 mil pessoas, que são assistidas pelo Instituto na capital | Foto: Reprodução

Por Ítallo Antkiewicz

Trabalhadores da Educação protestaram em frente à sede do Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores de Goiânia (Imas), na manhã de ontem (25). Em greve, a categoria pede melhoria nos serviços e se posicionam contra a privatização do instituto. Hospitais, clínicas e bancos de sangue suspenderam o atendimento aos usuários por falta de pagamento. Segundo as instituições credenciadas, há constante atraso nos pagamentos que deveriam ser feitos pela administração municipal. Apenas casos de urgência e emergência serão atendidos.

A suspensão dos atendimentos foi anunciada pela Associação de Hospitais Privados de Alta Complexidade de Goiás (Ahpaceg), no último dia 8. “A medida é extrema, mas se faz necessária diante da inviabilidade da manutenção da assistência, que tem um custo elevado, e da falta de compromisso por parte do Imas, que tem causado sérios prejuízos aos prestadores”, afirma o comunicado.

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Ainda de acordo com a Ahpaceg, a suspensão do atendimento ocorreu após inúmeras tentativas de negociação com a diretoria do Imas. De acordo com a Associação, a suspensão dos atendimentos afeta cerca de 80 mil pessoas, que são assistidas pelo Instituto na capital.

Funcionária pública municipal, Marilda Aparecida Campos Silva, 51 anos, ressalta que os servidores da Educação contam exclusivamente com o Imas como o único plano de saúde, mas por conta da suspensão dos atendimentos, estão desassistidos. “Todos os meses em nosso contracheque é descontado o plano de saúde. Se fizermos exames, tem co-participação e é descontado no nosso contracheque, e o prefeito não repassa o dinheiro para os prestadores. Estamos desamparados, não temos atendimento médico. Isso é inadmissível”, reclama.

Segundo a funcionária pública, a filha dela de 11 anos tem problemas renais e está na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) aguardando um urologista para fazer o tratamento adequado. “Ela está vivendo à custa de analgésico via oral ou injetável até conseguir passar por um especialista. Desde o início do mês de março que não tem urologista atendendo pelo Imas. Agendei uma consulta em fevereiro para o mês de março e foi cancelada por falta do repasse. Minha filha está passando mal há duas semanas”, afirma Marilda.

Essa não é a primeira vez que a Ahpaceg anuncia a suspensão dos atendimentos aos usuários do Imas. Em fevereiro de 2021, hospitais e demais instituições de saúde associados também suspenderam gradualmente os respectivos atendimentos.  

Na época, a Ahpaceg afirmou que as instituições estavam sendo obrigadas a realizar cortes no atendimento devido a decisões do órgão, como a definição unilateral e sem comunicado prévio de cotas de pacientes, o que caracteriza, segundo a Associação, uma clara violação do contrato firmado com os prestadores de serviços de saúde. 

Trajetória

A crise é reconhecida pela Prefeitura de Goiânia desde o início de fevereiro. As avaliações sobre as razões dos problemas têm diferentes perspectivas. O Paço afirma que soube do problema apenas no último mês e que busca resolvê-los. Já os membros do Conselho de Assistência à Saúde e Social dos Servidores Municipais (Conas), entidade que fiscaliza o Imas, informam que as questões já eram conhecidas e têm relação com a forma que a administração municipal faz a gestão dos recursos do instituto.

Para a conselheira Ludmylla Morais, o problema das dívidas é causado porque o dinheiro arrecadado pelo Imas não fica no caixa do instituto. “Vai para a conta única da Prefeitura. O gestor vive com o pires na mão. É uma autarquia que não tem fundo. Tem autonomia para pagar, mas não para receber”, diz a conselheira.

Na nota de suspensão dos atendimentos, as unidades de saúde amparam a afirmação do Conas. “Apesar de os recursos já terem sido descontados dos contracheques dos servidores municipais, a retenção pelo Imas e o não pagamento aos prestadores têm causado sérios prejuízos aos estabelecimentos, que não mais conseguem financiar gratuitamente suas atividades”.

Diante da crise, a prefeitura anunciou que realizaria uma reformulação completa na administração do instituto. Após reunião com membros do conselho de fiscalização do instituto, a gestão sinalizou que iria criar um fundo próprio para a autarquia, o que, na avaliação de conselheiros, é a pauta mais urgente. Duas semanas após o anúncio, porém, as ações concretas não foram anunciadas.

A nota publicada pela prefeitura de Goiânia informa que segue dedicando esforços para promover uma reformulação completa no instituto, “com o objetivo de garantir a autossustentabilidade do órgão e propiciar atendimento digno, eficiente e de qualidade aos milhares de segurados”.

“O Imas está empenhado em garantir uma solução definitiva para os problemas apontados e segue promovendo acerto de contas mediante entrega completa de documentação e de acordo com o fluxo de pagamentos do instituto”, acrescenta.

Presidente apresenta planilhas de pagamentos aos prestadores

Em reunião na sede do Imas, ontem (25), comitiva de vereadores liderada por Anselmo Pereira foi recebida pelo presidente da entidade, Jeferson Leite. Na ocasião, ele informou que os pagamentos têm sido realizados conforme instruções normativas do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), com repasses em ordem cronológica. “A determinação é tornar o Instituto autossustentável e eficiente”, assegura.

Jeferson Leite explicou que, ao tomar posse, deparou-se com alguns gargalos no que se refere aos pagamentos de prestadores. “Seguimos instrução normativa do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), e os pagamentos estão sendo realizados em ordem cronológica”, detalha. 

Aos vereadores, o presidente do Instituto apresentou as planilhas de pagamentos e explicou que os meses de agosto e setembro de 2021 já foram liquidados. Ele frisou ainda que já está programado o pagamento do mês de outubro de 2021. 

Jeferson Leite esclareceu ainda que serviços de urgências e emergências estão atendendo normalmente. Em relação a atendimentos eletivos de consultas e cirurgias, destacou que as paralisações são pontuais e, com a quitação da totalidade da folha, a expectativa é que sejam normalizados. 

O presidente do Instituto comentou a manifestação de servidores da Educação em frente ao Imas. Ele ressaltou que a mobilização é legítima e que está aberto ao diálogo, tanto com vereadores, prestadores e servidores, com objetivo de melhorar o atendimento aos usuários do Imas. 

“A determinação do prefeito Rogério Cruz é tornar o Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores autossustentável e eficiente”, assegura Jeferson Leite, ao endossar que não há possibilidade de privatização do Imas. “Essa discussão não está em pauta na Prefeitura de Goiânia”, arremata.

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