Vereadores definem atitude da Prefeitura de Goiânia contra professores de “assediosa”, “truculenta”, “mentirosa” e “marginal”

Aava Santiago e Mauro Rubem foram os únicos parlamentares que conversaram com os grevistas durante ida da categoria à Câmara Municipal

Postado em: 01-04-2022 às 21h09
Por: Augusto Diniz
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Aava Santiago e Mauro Rubem foram os únicos parlamentares que conversaram com os grevistas durante ida da categoria à Câmara Municipal | Foto: Reprodução

Os únicos vereadores que decidiram dialogar com os professores da rede municipal de educação que estão em greve em Goiânia definem as agressões e a falta de diálogo da prefeitura com a categoria como gestos de assédio, truculência e mentira. Os parlamentares Aava Santiago (PSDB) e Mauro Rubem (PT) estiveram com os educadores no plenário da Câmara Municipal na manhã de quinta-feira (31/3), quando a base de prefeito Rogério Cruz (Republicanos) não compareceu para evitar a abertura da sessão ordinária.

Além de a base do prefeito no Legislativo ignorar a greve dos professores municipais, integrantes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) são acusados pelos educadores de agredirem três participantes do protesto que a categoria fez na porta do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Vila Areião, no Setor Pedro Ludovico, que foi inaugurado pelo prefeito Rogério Cruz (Republicanos). Uma professora levou um soco no rosto de um guarda civil e dois servidores do município foram jogados no chão, algemados e presos. Horas depois, os educadores foram soltos na Central de Flagrantes de Goiânia.

Enquanto a prefeitura e Rogério Cruz correram para “lamentar agressões dos manifestantes”, os vereadores Aava Santiago e Mauro Rubem repudiaram a atitude da gestão municipal de “perseguir os professores” e realizar “ataques covardes” contra aqueles que estão em greve.

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“Depois de muita perseguição e repressão, a SME [Secretaria Municipal de Educação] acabou de chamar o Sintego [Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás] e representantes dos administrativos! Isso só está acontecendo pela luta e resistência das trabalhadoras e trabalhadores da educação, que não se intimidaram diante dos ataques covardes do Paço”, escreveu Aava em sua conta no Twitter na quinta-feira.

Nota de repúdio

Em nota de repúdio, Mauro Rubem afirmou que “os professores [Renato Régis e Hugo Rincón] e a professora [Juliana Rosa] se encontravam no local exercendo legitima e pacificamente seu direito de greve, como último recurso diante da atitude marginal do prefeito Rogério Cruz, que se mostra irredutível no descumprimento da Lei ao não pagar a data base e o piso salarial”. “É significativo que essa violência ocorra no dia em que se celebram os 58 anos da implantação da Ditadura Militar, cujo legado arbitrário foi encerrado com a promulgação da Constituição Cidadã de 1988.”

Aava, que é presidente da Comissão de Educação da Câmara de Goiânia, disse que se reuniu com representantes da categoria desde as 8 horas da manhã de ontem “para não permitir intimidações de nenhuma espécie”. “Lugar de parlamentar é ao lado de quem luta por direitos! Piso não é favor, é lei!”, declarou a vereadora.

Como uma professora levou um soco na cara dado por um guarda da Ronda Ostensiva Municipal (Romu) e outros dois foram imobilizados, algemados e presos pela GCM durante o protesto em frente ao CMEI que era inaugurado, Mauro Rubem definiu na nota a atitude como uma determinação para que os servidores da segurança de Goiânia reprimissem de forma violenta o protesto. “O prefeito marginal Rogério Cruz vai além de descumprir a Lei, pisoteando a Constituição. Trata-se de prática que tem sido recorrente na sua gestão durante as ações dos integrantes da Guarda Civil Metropolitana, o que é inadmissível e não pode continuar.”

O vereador do PT defende na nota como urgente que “a Defensoria Pública e o Ministério Público adotem medidas concretas para cessar o arbítrio e a violência na atuação da corporação municipal para que violações de direitos como essas não se repitam”. “A manutenção da atividade policial custa muito caro à sociedade que não suporta mais essas práticas violentas, que configuram crimes de abuso de autoridade”, apontou Mauro Rubem.

A vereadora do PSDB reclama da postura da prefeitura, que até ontem se negava a receber a categoria para ouvir as reivindicações dos professores. Nesta sexta-feira (1º/4), depois de toda a confusão, o prefeito resolveu receber o Sintego e fazer uma proposta. Só que os termos do que apresentado só será revelado aos educadores em assembleia geral do sindicato na segunda-feira (4/4). “A educação está em greve há quase 20 dias e sequer foi recebida. No lugar de negociação repressão e mentiras”, reclamou a parlamentar.

Não condiz com a realidade

Para Aava, a alegação do prefeito de que a média salarial na rede municipal de educação é de R$ 6 mil não condiz com a realidade. “Prefeito, o senhor sabe que para chegar a R$ 6 mil vocês estão somando dobras e gratificação por titularidade. Pare de jogar a comunidade contra os trabalhadores da educação.” A resposta da vereadora veio após publicação no Twitter de Rogério Cruz: “Tenho orgulho em dizer que a média de remuneração de um professor da rede municipal é superior a R$ 6 mil e vamos aumentar ainda mais, de forma a valorizar os trabalhadores, mas dentro das possibilidades fiscais do município”.

O prefeito disse que, durante a inauguração do CMEI, prometeu apresentar uma proposta aos aproximadamente 30% de “profissionais que estão em greve para que haja o retorno integral das aulas aos mais de 100 mil alunos”. Aava rebateu as informações. “O senhor mente quando diz que apenas 30% da educação está em greve. Vocês sabem que estão coagindo trabalhadores de contrato a abrirem as escolas e receberem duas, três turmas apenas para dizerem que as unidades estão funcionando. As mães e os pais não são idiotas e não vão cair nisso”, disparou a veradora.

A tucana reclamou do fato de que, no meio de uma greve, sem receber, até então, os professores para negociar, o prefeito decidir fazer “uma festa de inauguração de CMEI”, “com trabalhadores administrativos ganhando um salário mínimo e até menos, professores há três anos sem reajuste”. “A escolha feita é pela afronta pelo deboche e pela mentira.”

“Lamento profundamente”

Antes, o prefeito Rogério Cruz lamentou “profundamente as cenas de desrespeito e violência gerados hoje por alguns manifestantes, que mancham uma categoria que exerce um trabalho tão nobre, que é ensinar pela educação e o bom exemplo”. Mas a vereadora disse que “nNão adianta tentar culpar trabalhadores da educação”. “Eles só estavam protestando na festa de inauguração de um CMEI porque durante toda essa greve a postura da prefeitura foi assediosa, truculenta e mentirosa”, afirmou Aava.

Para a parlamentar, “quem quer negociar não mente sobre trabalhador, chama para conversar”. “Minha equipe jurídica está desde o final da manhã [de ontem] na Central de Flagrantes acompanhando os trabalhadores detidos. Não vamos permitir a criminalização do direito de greve e muito menos que mintam para a população sobre os trabalhadores! Os inimigos da educação não vão vencer!”

De acordo com Rogério Cruz, o trabalho tem sido para “chegar a um acordo que atenda aos pleitos dos profissionais da Educação na concessão do piso salarial e da data-base integral de 2020 e 2021”.

“Intoleráveis”

“São intoleráveis as práticas violentas que têm sido adotadas em Goiânia em relação a quem se manifesta criticamente em relação à gestão municipal, como o que ocorreu hoje com os professores e a professora. A Constituição Federal deve ser respeitada. Hoje, mais que nunca, é dia de dizer: Ódio e nojo à ditadura!”, enfatizou no fim da nota Mauro Rubem.

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