Planos de saúde podem sofrer reajuste de até 18%, estima Associação Brasileira de Planos de Saúde

Em Goiás, há 1,2 milhões de beneficiários com planos de assistência médica e 775 mil com planos exclusivamente odontológicos

Postado em: 07-04-2022 às 08h23
Por: Daniell Alves
Imagem Ilustrando a Notícia: Planos de saúde podem sofrer reajuste de até 18%, estima Associação Brasileira de Planos de Saúde
Em Goiás, há 1,2 milhões de beneficiários com planos de assistência médica e 775 mil com planos exclusivamente odontológicos | Foto: Secretaria de Estado da Saúde

Neste dia 7 de abril, data que comemora o Dia Mundial da Saúde, os consumidores reclamam do aumento dos preços dos planos de saúde e dos medicamentos. Uma parcela da população gasta a maior parte do dinheiro com remédios e planos. Além da alta de 10,89% no preço dos remédios, os planos de saúde devem sofrer reajuste de até 16,3%, o maior em duas décadas, estima a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge). 

O teto de correção a ser aplicado pelas operadoras de saúde começa a valer entre maio de 2022 e ainda será definido neste mês pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Em Goiás, há 1,2 milhões de beneficiários com planos de assistência médica e 775 mil com planos exclusivamente odontológicos. 

A pensionista Dorzina Divina de Andrade, 78 anos, afirma que vai se “virar nos 30” para conseguir pagar mais um aumento. Ela gasta mais de R$ 1 mil por mês somente com o plano de saúde. “Eu dependo da minha filha que me ajuda e separa o que eu gastei”, revela. Além dos gastos com plano, tem as despesas com medicamentos, que também giram em torno de R$ 1 mil. “Isso sem contar o aluguel e as compras”. 

Continua após a publicidade

Para economizar, Dorzina ressalta que irá deixar de comprar alguns itens, a exemplo da carne. “Está tudo muito caro. Vamos ter que economizar ainda mais”, avalia. Ela conta que a pandemia da Covid-19 afetou bastante a rotina. Tanto no aumento dos produtos quanto no que diz respeito ao isolamento social. 

Encontrar alternativas para reduzir as despesas também é uma das metas da aposentada Ana Maria Sampaio, 72 anos. Ela possui os mesmos gastos que a dona Dorzina com plano de saúde e medicamentos. No total, somente os dois já ultrapassam R$ 2 mil mensal. “Além disso, há algumas coisas que o plano não cobre. Os preços estão muito abusivos”, relata. 

A aposentada Ana Maria mora na cidade de Pires do Rio, distante cerca de 150 quilômetros de Goiânia. “Tem sido muito difícil esses aumentos e com a pandemia agravou ainda mais. Tenho ficado mais em casa e é preciso economizar porque senão não vamos dar conta”, alerta. 

Pós-pandemia

O superintendente executivo da Abramge, Marcos Novais, explica que o setor registra um aumento de custos neste período. “Observamos um novo padrão de utilização dos serviços após a pandemia. As altas nos preços dos medicamentos, em 2 anos, somam quase 24%, o que é significativo para as operadoras”, destaca. 

De acordo com a ANS, o percentual máximo de reajuste a ser autorizado para os planos individuais se baseia principalmente sobre a variação das despesas assistenciais (VDA) dos planos individuais ocorridas entre os 2 anos anteriores à divulgação do índice. Os dados utilizados são aqueles enviados à ANS pelas próprias operadoras.

Consumidor não negocia

Professor mestre em Economia, Luiz Carlos Ongaratto esclarece que o aumento dos planos de saúde segue uma regulamentação própria e o consumidor não conta com margem para negociação. “O mesmo segue para o reajuste do preço de medicamentos, o qual ocorre anualmente, corrigindo pelo menos os custos da inflação, câmbio e outros”, informa. 

Segundo ele, o ideal para alguém com a renda comprometida e  altos gastos com saúde é rever os planos e preços, pesquisar os custos com outros concorrentes. “Sobre medicamentos é buscar opções na farmácia popular, rever prescrições com os médicos, revisar medicamentos mais baratos, genéricos e outros. É importante consultar periodicamente para fazer essas revisões, ajuda na saúde financeira também”, finaliza. 

Estudos 

As projeções de especialistas e analistas do setor apontam que os reajustes deste ano devem ficar entre 15% e 18,2%, superando o recorde de 13,57% registrado em 2016. No último ano, os planos individuais tiveram um desconto de 8,2%, devido à redução da demanda para uso dos serviços médicos oferecidos em 2020.

Um estudo do Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS) calcula alta de 18,2%. Foi levado em consideração a variação dos custos médico-hospitalares (VCMH) para um conjunto de 704,9 mil beneficiários de planos individuais. 

A pesquisa observa que até fevereiro de 2021, a VCMH estava negativa em 1,7%, “refletindo a opção dos beneficiários em adiarem procedimentos e consultas devido a pandemia”. Já no segundo trimestre de 2021, houve aumento da despesa per capita para OSA (Outros Serviços Ambulatoriais) (23,3%), Exames (20,8%) e Internação (20,0%). Para esses itens, o custo aumentou durante todo o período desde o início da pandemia, consta no relatório. 

Já a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) informa que vários fatores interferem no reajuste dos planos de saúde. Entre eles estão: o aumento do preço de medicamentos e insumos médicos, o crescimento da utilização de recursos dos planos e incorporação de novas coberturas obrigatórias aos planos de saúde, como medicamentos e procedimentos.

Alta nos medicamentos força população a pesquisar 

Com o aumento de 10,89% no preço dos medicamentos anunciado pelo Governo Federal, a orientação é para que os consumidores façam a cotação em farmácias para economizar. Isto porque nem todas as unidades irão repassar o reajuste de forma imediata aos clientes. Assim explica o presidente executivo do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas no Estado de Goiás (Sindifargo), Marçal Henrique Soares, em entrevista ao jornal O Hoje. 

A melhor maneira de economizar é fazendo cotação nas farmácias. “Deixar de comprar naquela unidade que sempre comprou, se ela reajustou. Mesmo após os reajustes ainda teremos descontos. O consumidor precisa pesquisar, entrar nos sites, ligar e ir às farmácias”, explica Marçal. 

O reajuste no valor dos medicamentos ocorre anualmente. “O coeficiente é calculado de acordo com uma fórmula que considera diversos fatores, estabelecendo níveis de preço. Para os medicamentos que possuem muitos concorrentes no mercado, a exemplo da dipirona e paracetamol, o reajuste é aplicado integralmente”, pontua.  

Segundo o Sindicato dos Produtos da Indústria Farmacêutica (Sindusfarma), o aumento dos preços deve atingir cerca de 13 mil apresentações de remédios disponíveis no varejo brasileiro.

Repasse

Em algumas drogarias de Goiânia, o reajuste já está sendo repassado para os clientes, conforme explica o farmacêutico Matheus Xavier. “Estamos fazendo publicação no whatsapp da loja e telemarketing informando aos clientes sobre esse reajuste”, explica. 

Ele revela que a procura também cresceu nos últimos dias. “Estamos tendo aumento na procura, principalmente em alguns medicamentos de uso contínuo. Os clientes estão comprando mais caixas e o fluxo de pessoas também aumentou”, avalia o farmacêutico.

Veja Também