Com taxa de 1,62% em março, alta nos alimentos puxa a inflação do país

Os setores que mais impactaram na alta foram o dos transportes (3,02%) e o de alimentação e bebidas (2,42%). Os dois grupos, juntos, contribuíram com cerca de 72% do índice do mês.

Postado em: 09-04-2022 às 09h00
Por: Redação
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Os setores que mais impactaram na alta foram o dos transportes (3,02%) e o de alimentação e bebidas (2,42%). Os dois grupos, juntos, contribuíram com cerca de 72% do índice do mês. | Fotos: Pedro Pinheiro

Por Ítallo Antkiewicz

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), taxa que mede o crescimento da inflação oficial do País, cresceu em 1,62% em março, conforme divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ontem (8). Esse foi o maior resultado para o mês desde 1994, antes da implantação do Real.

Com a taxa de março, o IPCA registrou alta de 11,30% nos últimos 12 meses, acima dos 10,54% observados nos 12 meses anteriores, informou o instituto. Os valores ficaram acima da expectativa do mercado, que esperava alta de 1,30% no período e de 10,98% no acumulado em 12 meses.

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Trata-se do maior índice para 12 meses desde outubro de 2003 (13,98%). Com o resultado de março, já são sete meses seguidos com a inflação rodando acima dos dois dígitos, o que reforça as apostas de que a taxa básica de juros (Selic) será elevada em 2022 para além de 13% ao ano. 

O resultado veio bem acima do esperado. O intervalo das projeções para o IPCA de março de 41 instituições financeiras e consultorias, ouvidas pelo Valor Data, era de avanço de 0,54% a 1,43%, com mediana de 1,32%.

Os setores que mais impactaram na alta foram o dos transportes (3,02%) e o de alimentação e bebidas (2,42%). Os dois grupos, juntos, contribuíram com cerca de 72% do índice do mês. No caso dos transportes, a alta foi puxada, principalmente, pelo aumento nos preços dos combustíveis, com destaque para a gasolina.

No grupo dos alimentos e bebidas, a alta de 2,42% decorre, principalmente, dos preços dos alimentos para consumo no domicílio (3,09%). A maior contribuição foi do tomate, cenoura, leite longa vida, do óleo de soja, das frutas e do pão francês.

“Foi uma alta disseminada nos preços. Vários alimentos sofrem uma pressão inflacionária. Isso aconteceu por questões específicas de cada alimento, principalmente fatores climáticos, mas também está relacionado ao custo do frete. O aumento nos preços dos combustíveis acaba refletindo em outros produtos da economia, entre eles, os alimentos”, analisa o gerente do IPCA Pedro Kislanov.

Comerciantes

Bruna Ciqueira Cavalcante, 38 anos, empresária do ramo alimentício, afirma que depois da guerra na Ucrânia, os preços começaram a subir absurdamente. “Os preços estão fora do comum. Carne, frango, farinha de trigo e gás foram os que mais aumentaram. Por conta disso, tenho que aumentar os valores finais dos alimentos que vendo para o consumidor, que acaba prejudicando um pouco os comerciantes”, afirma.

Bruna Ciqueira revela que, por conta da alta dos preços da matéria-prima, tem aumentar os valores finais dos alimentos que vende para o consumidor | Foto: Pedro Pinheiro

A empresária relata que tem que realizar algumas manobras em seu comércio, para equilibrar as dificuldades que estão surgindo. “Cada dia que passa as coisas estão ficando mais difíceis, hoje é um preço, amanhã já é outro preço. Sempre mais caro, que já faz diferença no nosso bolso, impactando cada vez mais a vida da população”, ressalta.

Lourival Neto Silva, 67 anos, comerciante do ramo de bebidas, ressalta que todos os dias os preços estão cada vez mais caros. “Hoje temos muitas concorrências no comércio, cada um sempre alterando os preços, para tentar tirar um lucro e ir sobrevivendo. Com essa inflação nesse valor, acabam nos prejudicando, se aumentarmos os preços os consumidores acabam deixando de comprar”, afirma.

“Coloco um produto mais barato, aumento um pouco o outro, para dar uma equilibrada”, afirma o comerciante Lourival Neto | Foto: Pedro Pinheiro

Segundo o comerciante, para driblar as dificuldades, é necessário realizar constantes ajustes nos preços. “Coloco um produto mais barato, aumento um pouco o outro, para dar uma equilibrada e ir tentando vender, para sobreviver. Mas sempre pensando nos clientes em não ser desonesto, mas é o que o momento de produtos tão caros nos oferece”.

Menos qualidade de vida

O economista Luiz Carlos Ongaratto afirma que o aumento generalizado de preço na economia foi puxado, especialmente, pelos preços dos alimentos. “Com uma logística mais cara e com as questões climáticas cada vez mais diversas, houve esse agravamento dos aumentos dos preços”.

O especialista ressalta que a inflação significa menos poder de compra, menos qualidade de vida e bem-estar. Há um potencial maior para dívidas, inadimplência e a renda do trabalhador ainda mais prejudicada. 

“Esse aumento foi repassado ao consumidor, que para ter acesso a estes bens, precisará gastar mais. Há que observar a mudança de hábitos de consumo, mudança de marcas, produtos e o consumo menor poderá ser observado, é onde há estagnação econômica e inflação”, afirma.

O economista destaca que a economia prejudicada pela inflação significa menos comida no prato do cidadão brasileiro. Agrava ainda mais a desigualdade social porque a família já não tem de onde tirar recursos para pagar seu sustento”, ressalta o economista.

Luiz Carlos afirma que a alta nos transportes causa um aumento em cadeia de todos os preços. “Podemos observar que uma ampla gama de produtos teve seu preço elevado. A inflação não teve somente um vilão, tudo aumentou de preço e parece ser algo mais estrutural do que pontual”.

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