Restaurante popular se tornou opção para tentar driblar a inflação

Em comparação com 2021 os números representam um aumento de mais de 20% na quantidade de refeições servidas nas duas unidades em Goiânia

Postado em: 15-04-2022 às 08h30
Por: Redação
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Em comparação com 2021 os números representam um aumento de mais de 20% na quantidade de refeições servidas nas duas unidades em Goiânia | Foto: Pedro Pinheiro

Por Sabrina Vilela

A alta da inflação tem tornado os alimentos cada dia mais caros. Itens como carne e verdura estão sendo excluídos da lista de compras de muitas pessoas. Para driblar essa situação, por conta dos preços caros dos alimentos, as pessoas estão optando por comer no Restaurante do Bem, que serve refeições a preço popular – a R$ 2.

Nas filas que dobram a rua do Restaurante do Bem é possível ver pessoas de várias idades e profissões diferentes. É o caso do funcionário público Victor Nunes, 27, que trabalha próximo ao Restaurante do Bem, que fica na unidade do Centro. Ele resolveu migrar para essa opção de comida mais barata para economizar. 

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“Desde janeiro que eu comecei a pegar as marmitas no restaurante para comer no serviço. É uma forma de economizar e dá menos trabalho do que trazer de casa”. Segundo Victor, a comida servida no restaurante popular é melhor que muitos que são bem mais caros. 

O vendedor Ivanilde Mendes, 30, almoça no restaurante há cinco anos. “Eu gosto de comer aqui para economizar. Eu gasto com alimentação fora em torno de R$100, mas é porque às vezes eu não consigo chegar a tempo para almoçar aqui ou a fila fica muito grande e eu não arrisco para não atrasar no emprego”, conta.

Alex Pereira,33, ajudante de pedreiro, está trabalhando em uma obra na região há seis meses, que é o mesmo tempo em que ele come no restaurante. “A comida aqui é boa e o preço é bom também. Eu gasto em média R$40 por mês comendo só aqui”, relata. 

O vendedor Gabriel Souza, 21, começou a pegar marmitas há três meses, mas ele já tem o hábito de fazer pesquisas para conseguir comer bem e barato. “Eu como no Restaurante do Bem porque a comida é boa e eu economizo ainda mais. Antes eu comia marmita de R$8 porque era a mais barata que eu encontrava”. 

Já a aposentada Sônia Maria de Oliveira, 64, não mora e nem trabalha próximo do restaurante, mas sempre que precisa passar no Centro em horário de almoço ela vai no estabelecimento popular para não ter que pagar caro em marmitas de outros restaurantes próximos. “Eu tenho que economizar. A carne custa mais de R$40. Esses dias eu fui comprar cenoura e deu mais de R$10, comer aqui é a melhor opção”, explica.

O Restaurante do Bem serve refeições em 13 unidades no estado, sendo duas na Capital. As duas unidades de Goiânia, localizadas em Campinas e no Centro, atendem à população em vulnerabilidade social das 10h30 às 14 horas, de segunda a sexta-feira. O primeiro Restaurante do Bem, antes chamado de Restaurante Cidadão, foi inaugurado em julho de 2003, na Avenida Goiás, no Centro de Goiânia. 

Inflação e preços dos alimentos 

Com a taxa de março, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 11,30% nos últimos 12 meses, acima dos 10,54% observados nos 12 meses anteriores, segundo o informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os valores ficaram acima da expectativa do mercado, que esperava alta de 1,30% no período e de 10,98% no acumulado em 12 meses.

Esse é o maior índice para 12 meses desde outubro de 2003 (13,98%). Com o resultado de março, já são sete meses seguidos com a inflação rodando acima dos dois dígitos, o que reforça as apostas de que a taxa básica de juros (Selic) será elevada em 2022 para além de 13% ao ano. 

O economista Luiz Carlos Ongaratto explica como esse valor impacta no bolso. “Esse valor histórico desde 1994 tem um impacto muito grande porque quando a gente tem a inflação a gente fala de perda no poder de compra, ou seja, menos coisas podemos comprar com aquele nosso mesmo dinheiro”, explica. 

Esses percentuais interferem na pobreza, pois fica mais difícil o acesso a itens básicos. “Comer em um restaurante popular é uma boa forma de economizar porque pode ter uma economia mensal de 30% a 80% do valor reservado para a alimentação”, explica o especialista.

Os setores que mais impactaram na alta foram o dos transportes (3,02%) e o de alimentação e bebidas (2,42%). Os dois grupos, juntos, contribuíram com cerca de 72% do índice do mês. No caso dos transportes, a alta foi puxada, principalmente, pelo aumento nos preços dos combustíveis, com destaque para a gasolina.

No grupo dos alimentos e bebidas, a alta de 2,42% decorre, principalmente, dos preços dos alimentos para consumo no domicílio (3,09%). A maior contribuição foi do tomate, cenoura, leite longa vida, do óleo de soja, das frutas e do pão francês.

O problema quando acontece esses reajustes é que com a falta de dinheiro a população começa a se alimentar mal, porque itens como macarrão instantâneo são mais baratos, por exemplo. 

“Os restaurantes populares democratizam a boa alimentação, porque é importante uma boa alimentação balanceada e saudável. Porque quando tem o aumento dos preços as pessoas tem pouco dinheiro para se alimentar e acaba comendo macarrão instantâneo ou alguma coisa que não é tão nutritiva assim”. 

Ações sociais por meio da alimentação 

 O Restaurante do Bem – fruto de programa promovido pela Organização das Voluntárias de Goiás (OVG) por meio do Governo de Goiás – serve refeições a R$ 2 para pessoas em vulnerabilidade social, em 13 unidades no Estado. O primeiro Restaurante do Bem antes chamado de Restaurante Cidadão foi inaugurado em julho de 2003, na Avenida Goiás, no Centro de Goiânia. 

Juntas, as 13 unidades do Programa serviram, desde janeiro de 2019, quase 10 milhões de refeições. A unidade do Setor Campinas serve, atualmente, 2.200 refeições por dia; e a unidade do Centro, 2.115 refeições, levando em consideração a necessidade da região e de acordo com a capacidade de funcionamento da unidade, bem como o quantitativo diário previsto em contrato de acordo com a OVG.

Em comparação com o ano anterior, os números representam um aumento de mais de 20% na quantidade de refeições servidas nas duas unidades que, em 2021, serviam 1.800 refeições em Campinas e 1.700 no Centro. 

Mesmo em meio à pandemia, não houve a redução ou interrupção do atendimento. Todas as unidades do Restaurante do Bem ofereceram marmitas acompanhadas de uma fruta e talheres descartáveis. O preço da refeição não sofreu custos adicionais, e se manteve no valor de R$ 2.

Segundo a Diretora de Ações Sociais da OVG, Jeane Abdala, que após a pandemia o perfil de pessoas que vão em busca do restaurante mudou. “Muitos enfrentaram o desemprego ou não conseguem pagar o custo alto das compras”, explica.

A diretora afirma que desde o ano de 2019 o Restaurante do Bem passou por mudanças que passaram a focar na assistência social. “Oferecemos marmitas de graça para pessoas em situações de rua desde 2020 e também para venezuelanos. São 150 marmitas para venezuelanos e 200 para por dia para pessoas em condições de rua”.

O almoço é feito em cozinhas instaladas nas próprias unidades com horário de funcionamento de segunda a sexta-feira, das 10h30 às 14 horas. O programa atende, principalmente, pessoas em situação de rua, idosos, desempregados, aposentados e trabalhadores. Uma iniciativa importante para o combate à fome em Goiás. Unidades

O cardápio é variado e sempre contém verduras, legumes e frutas de sobremesa. De acordo com a diretora de Ações Sociais da OVG, existe uma equipe de nutricionistas para fazer o cardápio mensal. Todo o processo segue normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e cada restaurante conta com um fiscal capacitado para garantir o bom atendimento e a qualidade da alimentação servida.

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