Pacientes com diabetes reclamam de falta de insulina e insumos

Déficit prejudica o tratamento dos pacientes, que podem apresentar sequelas graves – problemas nos rins, na visão e no coração – e ir, inclusive, a óbito

Postado em: 16-04-2022 às 09h09
Por: Redação
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Déficit prejudica o tratamento dos pacientes, que podem apresentar sequelas graves – problemas nos rins, na visão e no coração – e ir, inclusive, a óbito | Foto: Pedro Pinheiro

Por Daniell Alves

Pacientes diagnosticados com diabetes enfrentam dificuldades para manter o tratamento por falta de insulina e insumos, que são fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia. De acordo com eles, a secretaria está há cerca de cinco meses sem fornecer a insulina, hormônio que representa a vida para os pacientes. Em Goiás, estima-se que 7,8 mil pessoas morreram por complicações por conta da diabetes nos últimos 13 anos, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO). 

Conforme a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a diabetes é uma doença crônica na qual o corpo não produz insulina ou não consegue empregar adequadamente a insulina que produz. Em algumas pessoas, o sistema imunológico ataca equivocadamente as células beta. Logo, pouca ou nenhuma insulina é liberada para o corpo. Como resultado, a glicose fica no sangue, em vez de ser usada como energia. Esse é o processo que caracteriza o tipo 1 de diabetes. 

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A estudante Eloanna Lopes, 16, foi diagnosticada com diabetes tipo 1 há seis anos. “Há cinco meses estamos sem insulina. Todo ano ocorre esse mesmo problema e isso acaba afetando o meu tratamento”, revela. Para ela, a insulina representa vida, pois com o medicamento tem uma qualidade de vida melhor. A estudante destaca a dificuldade financeira para bancar o tratamento. “Temos que fazer bastante sacrifícios porque os insumos são muito caros”. 

Desse modo, a falta do hormônio compromete o tratamento. “Eu acabo não me alimentando direito, pois tenho que reduzir a quantidade de doses de insulina. É um meio de sobrevivência para mim, sem ela não consigo sobreviver e acaba tendo sequelas no decorrer do tempo”. 

Bacharel em Direito, Mariângela Alves de Melo, 49, também tem diabetes tipo 1. Ela reclama que na rede de saúde ainda faltam fitas para aferir a glicose. “A falta de insulina traz muitos problemas, já que é caro manter os insumos. O prefeito de Goiânia nem com a reportagem se compadece. Nós estamos ilhados, sem condições para comprar. Temos quatro grupos e ajudamos uns aos outros, fazemos troca e emprestamos”. 

De acordo com Mariângela, os pacientes estão sem condições de fazer trocas de insulina. “Sem expectativa de chegada dos insumos. É isso que escutamos quando ligamos na farmácia. Acabaram também com as insulinas de efeito rápido. Precisamos ir até o Juarez Barbosa [Central Estadual de Medicamentos de Alto Custo Juarez Barbosa ] para pegar e em outros dois lugares”, aponta. 

Tipo 2

Já a diabetes Tipo 2 aparece quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz; ou não produz insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia. Dados da SBD apontam que cerca de 90% das pessoas com diabetes têm o tipo 2, como é o caso da autônoma Andréia Borges, 47 anos. 

“Aqui, na minha casa, somos três diabéticas. Eu, minha mãe e minha filha. A importância do tratamento é a vida. Sem a insulina ocorrem várias complicações porque estamos sempre com a glicemia muito alta. No meu caso, eu já estou com neuropatia e fibromialgia. A diabetes mal controlada causa vários problemas podendo levar ao óbito. Minha família não tem mais condições de comprar”, lamenta. 

Para os pacientes diagnosticados com a doença, a Secretaria de Saúde fornece a quantidade de insulina que o usuário necessita, porém as ampolas estão em falta. “A médica faz um relatório baseado na glicemia do paciente para direcionar a quantidade de insulina”, explica Mariângela. 

Sequelas

Luzia de Cássia Ribeiro, presidente da Associação Metropolitana de Apoio ao Diabético (Amad) de Goiânia, ressalta que, com o déficit de insulina, o tratamento fica prejudicado, pois a maioria das pessoas que não tem condições de comprar volta para as insulinas antigas, que não têm o mesmo efeito que o organismo está acostumado. 

“Quando as pessoas deixam de usar a insulina, as glicemias ficam alteradas e podem causar problemas nos rins, na visão e no coração. Se o meu organismo necessita da insulina para reagir, como ele vai ficar sem? Isso vai causar sequelas”, alerta. 

A insulina para o diabético representa qualidade de vida. “Nós não somos respeitados pelas autoridades competentes. A partir do momento que você deixa mais 3 mil pacientes diabéticos com falta das tiras para controlar a glicemia durante cinco meses e não faz nenhuma compra emergencial, é como se tivesse ajudando a morrer a cada dia. Por que esse descaso?”, questiona. 

Luzia avalia que deve ser cumprido o que está no papel. “De vez em quando eles dizem que estão em processo licitatório. Todas as pessoas são cadastradas e a Secretaria sabe a quantidade de pessoas que precisam. Por que deixa faltar? Não tem um tratamento direcionado a pessoas com doenças crônicas”, questiona a presidente. 

Complicações e tratamento 

A endocrinologista Lívia Marcela dos Santos, professora de Medicina do Centro Universitário São Camilo (SP), explica que os pacientes diabéticos tipo 2 normalmente iniciam o tratamento com medicamentos por via oral, porém, com a evolução da doença muitos acabam necessitando de insulinoterapia para o controle do diabetes. 

“Já o diabético tipo 1, desde o início da doença, já necessita de insulina para controlar a doença. A falta da insulina pode levar a complicações como a cetoacidose diabética, no diabetico tipo 1; e o coma hiperosmolar no diabético tipo 2. Esses quadros são graves, se caracterizam por um aumento importante da glicemia. Pode ser necessária a internação e pode levar o paciente ao óbito”, finaliza. 

Readequação 

Em nota encaminhada à reportagem de O Hoje, a SMS de Goiânia informa que a entrega de insulina já está sendo normalizada por parte da Secretaria. “Quanto à insulina Lantus está sendo entregue pelo fornecedor e estará disponível para os usuários a partir da próxima terça-feira (19)”. 

Anteriormente as fitas eram retiradas pelos usuários na Farmácia de Insumos e Medicamentos Especiais, na Farmácia Distrital Oeste e no Centro de Referência em Diagnóstico Terapêutico (CRDT). 

“Com o objetivo de facilitar para os usuários, passou a ser distribuídas também em unidades de saúde. Por conta dessa readequação, da distribuição dos pacientes por Distrito Sanitário de Saúde, houve atraso na entrega de algumas unidades”, esclarece em nota. 

Obesidade e sedentarismo estão entre fatores de risco 

Segundo Nota Técnica do Ministério da Saúde (MS), em busca do diagnóstico de novos casos de diabetes, alguns grupos que apresentem fatores de risco para a doença devem ter a glicemia avaliada. Os fatores de risco mais importantes são: idade maior ou igual a 45 anos, sobrepeso ou obesidade, sedentarismo, hipertensão arterial sistêmica, doença cardiovascular, história familiar de diabetes, história prévia de diabetes gestacional, pré-diabetes, níveis de HDL colesterol menores que 35 mg/dl e/ou triglicerides maior que 250mg/dl, uso crônico de corticoide ou tabagismo.

Os indivíduos que apresentem sintomas do diabetes como aumento no volume da urina (poliúria), aumento da sede (polidipsia), fome exagerada (polifagia), perda de peso não intencional, fraqueza e turvação visual devem procurar uma unidade de saúde para avaliação.

O tratamento do diabetes compreende medidas farmacológicas e não farmacológicas, que se referem a mudança de estilo de vida como a prática de exercícios físicos regularmente e hábitos alimentares saudáveis como evitar alimentos ultraprocessados, evitar o açúcar, evitar gorduras, consumir carboidratos com moderação e aumentar a ingestão de legumes e verduras.

Para grande parte dos pacientes será necessário o uso de medicamentos para o tratamento do diabetes, o que poderá ser definido somente após a avaliação médica. O uso de medicamentos, quando indicado, deve ser feito rigorosamente, bem como os exames de controle e consultas médicas. 

Esse acompanhamento regular permite ajuste do tratamento e possibilita que complicações como doenças cardiovasculares, alterações de fundo de olho, renais e de neuropatia sejam diagnosticadas e tratadas. (Especial para O Hoje)

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