Santa Casa cumpre paralisação anunciada e suspende atendimentos por 24 horas

Suspensão foi realizada ontem (19); atendimentos já foram retomados hoje

Postado em: 20-04-2022 às 09h18
Por: Maiara Dal Bosco
Imagem Ilustrando a Notícia: Santa Casa cumpre paralisação anunciada e suspende atendimentos por 24 horas
Suspensão foi realizada ontem (19); atendimentos já foram retomados hoje | Foto: Divulgação

A Santa Casa de Misericórdia de Goiânia suspendeu, ontem (19), os atendimentos eletivos, como consultas, exames e cirurgias. Segundo informou a entidade, a paralisação durou 24 horas e fez parte de um movimento nacional das Santas Casas, que alerta para o risco de fechamento definitivo destes hospitais diante da pior crise enfrentada por eles. Ainda de acordo com a Santa Casa, todos os atendimentos agendados para ontem (19) já foram remarcados e o funcionamento hoje (20) já está normalizado.

Nos últimos dias, em diversas entrevistas à imprensa, em reuniões com colaboradores, em publicações do hospital e em um encontro com o presidente da Santa Casa, arcebispo metropolitano de Goiânia, Dom João Justino, e com o vice-presidente, Dom Levi Bonatto, a superintendente falou sobre a crise enfrentada. “É um pedido de socorro, pois precisamos de recursos para manter o funcionamento das Santas Casas”, afirma a superintendente Geral da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, Irani Ribeiro de Moura.

O assunto também foi abordado em uma audiência com o prefeito da capital, Rogério Cruz, e com o secretário municipal de Saúde, Durval Pedroso. “Agora, com essa mobilização, queremos chamar a atenção de toda a sociedade, do poder público e de parlamentares sobre as dificuldades vividas pela rede filantrópica de hospitais e a Santa Casa de Misericórdia de Goiânia”, diz Moura, enfatizando que se nada for feito, os hospitais podem fechar definitivamente, deixando milhares de pessoas sem assistência.

Continua após a publicidade

“Nossas entradas de recursos não batem com as saídas e, a cada dia, estamos nos endividando mais e, sem apoio, vamos fechar. E as Santas Casas não podem fechar”, aponta. A superintendente destaca também que as contas estão à disposição de toda a população. “Estão disponíveis de forma transparente para que vejam como são aplicados os recursos disponíveis, e contamos com o apoio de todos para que possamos continuar atendendo, salvando vidas com qualidade e, sobretudo, de forma humanizada”, diz a superintendente.

Entenda

Conforme dados divulgados pela entidade, uma olhada rápida nos números já deixa clara a gravidade da crise enfrentada pelas Santas Casas: nos últimos 28 anos, desde o início do Plano real, a tabela Sistema Único de Saúde (SUS) e seus incentivos foi reajustada em média em 93,77%. No mesmo período, o INPC subiu 636,07%, e o salário-mínimo 1.597,79%. 

Este descompasso representa R$ 10,9 bilhões por ano de desequilíbrio econômico e financeiro na prestação de serviços ao SUS pelas filantrópicas. Moura destaca que há uma enorme discrepância entre os valores recebidos e os custos da assistência prestada, principalmente à parcela mais carente da população que depende do SUS e representa mais de 95% dos atendimentos da Santa Casa.

“A Santa Casa de Misericórdia de Goiânia é responsável por mais 70% do atendimento do SUS na capital. Somos o hospital de alta complexidade do município”, frisa Moura, ressaltando que, em contrapartida, a Santa Casa recebe do SUS R$ 10 por uma consulta médica.

Aumentos e atrasos

Para agravar a situação gerada pela defasagem da tabela do SUS, a Santa Casa de Misericórdia de Goiânia ainda enfrenta o reajuste de medicamentos e o atraso nos repasses dos pagamentos pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Segundo afirma, o Governo Federal repassa os valores aos municípios 60 dias após a prestação dos serviços, mas, em Goiânia, os repasses ao hospital estão demorando mais de 100 dias.

“E todos os casos cirúrgicos que chegam judicializados à SMS de Goiânia são encaminhados à Santa Casa, sendo que nem todos temos condições de atender”, diz a superintendente, ressaltando que já comunicou esse fato à SMS, mas os encaminhamentos continuam sendo feitos.

No início da semana, a reportagem de O Hoje já havia questionado a Prefeitura sobre o assunto. Em nota, a Prefeitura de Goiânia, por meio da SMS afirmou que a tem feito um esforço concentrado para quitar, com recursos próprios, todos os contratos ou convênios com prestadores de serviços na área da saúde. 

Segundo a pasta, os repasses junto à Santa Casa de Misericórdia de Goiânia foram colocados em dia, mas recentemente um problema no sistema do SUS levou a liberação de apenas uma parte dos recursos, o que provocou um mês de atraso. “A situação vem sendo discutida entre a Secretaria Municipal de Saúde e gestores da Santa Casa e caminha para uma solução”, destaca o comunicado.

Veja Também