Mulheres goianas que souberam fazer da adversidade um bom negócio

Goianas que são donas do próprio negócio representam cerca de 4% dos negócios no Brasil.

Postado em: 28-04-2022 às 07h55
Por: Redação
Imagem Ilustrando a Notícia: Mulheres goianas que souberam fazer da adversidade um bom negócio
Goianas que são donas do próprio negócio representam cerca de 4% dos negócios no Brasil | Foto: Pedro Pinheiro

Por Sabrina Vilela

Desempregada com o fechamento do comércio, Jéssica Ketlin Salles, 23, e o marido, Ranniery Batista de Oliveira, 28, investiram os últimos R$ 400 que tinham no bolso, para iniciar uma loja de calçados pela internet. Aberta em agosto de 2020, ainda com as restrições impostas pela pandemia, a empresa driblou as adversidades e saiu do status de pequena empresa para se tornar uma empresa que recebe pedidos de todo o País. A empreendedora faz parte das 8,6 milhões de brasileiras donas dos próprios negócios. Em Goiás, são mais de 305 mil empresárias, segundo estudo do Sebrae em parceria com a Unidade de Cultura Empreendedora (UCE).

Começar em meio às restrições de circulação de pessoas não foi o único desafio enfrentado por Salles. “Como nossa loja é online, tivemos dificuldade em atrair os primeiros clientes. Quem está começando encontra logo de cara a dificuldade de ser aceito no mercado e de passar confiança e credibilidade para o cliente”, lembra. 

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A loja online da Jéssica coleciona 28,7 mil seguidores no Instagram e atende tanto no atacado como no varejo. Embora não tenha sido fácil de início ela conta feliz de tudo o que conquistou em quase dois anos de negócios. “Começamos com um investimento R$400 que era o que tínhamos na época, com a cara e a coragem. No ano de 2021 tivemos um faturamento de mais de R$400 mil e com isso conquistamos nossa liberdade financeira, e estamos realizando nossos maiores sonhos”, conta com orgulho.

Ela destaca ainda que o segredo para o sucesso é simples: começar. “Apenas comece, a gente fica esperando o melhor momento e ele nunca chega. Pegue as dificuldades e use como combustível, adquira conhecimento, estude muito e tire suas ideias do papel. Tem uma frase que eu ouvi lá no começo e ela é a mais pura realidade pra nós ‘daqui a um ano, você vai desejar ter começado hoje’”, finaliza. 

Às vésperas do lockdown

10 dias antes do decreto de isolamento social em Goiás em março de 2020,  a empresária Brenda Grazyelly, 24, deixou a carreira no ramo administrativo e começou a empreender no ramo da beleza. “Foi muito difícil segurar a barra, porém meus conhecimentos administrativos me salvaram. Mas, até hoje o principal desafio que enfrentamos é o preconceito das pessoas com as curvaturas de seus cabelos, tendo a ideia de que cabelo cacheado é um cabelo desarrumado é que não transmite elegância”, conta.

Ela tem um salão especializado em cachos no Jardim América, a ideia surgiu por sofrer pela falta de especialistas  na área. “O salão nasceu por meio de uma necessidade que eu tinha de encontrar alguém que soubesse cuidar dos meus cachos e que respeitasse os meus limites, sofri muito na mão de profissionais que cortavam demais meu cabelo por não entender minha curvatura, ou que diziam que meu cabelo era ‘ruim’ e que o único jeito pra ele era alisamento”, desabafa.

As adversidades não desanimaram Brenda que atualmente atende em um espaço bem maior e conseguiu aumentar a equipe que conta com outras cinco cabeleireiras. “Sou muito grata a cada mulher que me permitiu cuidar de suas madeixas também, pois elas que me trouxeram até aqui”, agradece. Ela conclui afirmando que é importante ser “grato a cada pequena conquista e use seus erros como os melhores ensinamentos”.

Brenda Grazyelly, 24, abriu seu próprio salão para cuidar de cachos dez dias antes do primeiro decreto de fechamento do comércio | Foto: Pedro Pinheiro

Pouco investimento, coragem de sobra

A empresária do ramo de confeitaria, Amanda Guilard Silva tem apenas 18 anos, ela afirma que foi picada pelo bichinho do empreendedorismo desde cedo. “Desde pequena sempre gostei de mexer com vendas, de ter meu próprio negócio. Então, isso foi um sonho desde criança porque eu já vendia coisas, comprava semijoias para comercializar e vendia docinhos na escola”, conta. Em de setembro de 2020 ela amadureceu o sonho e resolveu trabalhar vendendo bolos, mesmo em uma época considerada desfavorável por conta da pandemia. 

Ela brinca dizendo que um dos seus maiores desafios foi “não saber fazer o bolo”. “Eu inventei de fazer da noite para o dia e eu simplesmente já tinha postado umas fotinhas de uns bolos que a minha tia havia feito. Então, essa ideia foi com a ajuda da minha tia e eu comecei a postar, divulgar e apareceram pedidos. Eu vi que o negócio iria dar certo então eu tive que aprender”. 

Ela investiu inicialmente cerca de R$500 e com o sucesso do empreendimento dos bolos Amanda atingiu metas graças ao suor do próprio trabalho. “Comprei meu próprio forno, paguei a minha carteira de habilitação. Agora estou com um projeto de aumentar a loja. Porque a gente funciona somente delivery e agora a gente vai ter a nossa lojinha em que o cliente possa comer no local. Graças a Deus e por eu não ter desistido vou conseguir realizar isso”. Amanda atualmente conta com cinco funcionários na sua confeitaria. 

Já Giovana Barros,25, é dona de uma loja online de lingeries, sua história no mundo dos negócios começa desde a infância, pois cresceu em confecções com as avós e tias. Ela se formou na área de biologia, mas teve interesse em trabalhar com vestuários com os pais e depois criou a própria loja. Em 11 de maio de 2020 a sua loja nasceu e ela uniu os conhecimentos de fotografia com projetos voltados para mulheres. “Trabalhar com lingerie unia muito a ideia do que eu já fazia que é a elevação das mulheres, da aceitação e autoestima”, lembra. 

Ela enfrentou dificuldades com o valor de investimento na empresa inicialmente. “A empresa foi iniciada com menos de R$10 mil reais em crédito, na carteira mesmo eu só tinha R$600 reais. Eu fui na confiança, na fé e usei todo o meu limite do cartão de crédito. Depois teve a oscilação do mercado por causa da pandemia”.  

A empresa é nova ainda, mas Giovana está feliz com os feitos até o momento. “Temos mais de cinco mil clientes cadastrados, mais de dez mil vendas feitas além dos eventos como a Black Friday, após um ano apenas com vendas online abrimos a loja física e pedidos que já são enviados para o exterior”, conta. 

Perfis das goianas empreendedoras

Embora as mulheres representem, hoje, 51% da população goiana, quando se fala em empreendedorismo, elas estão à frente de apenas 34% das unidades de negócio registradas no Estado de Goiás. São dados levantados pelo “Perfil da Empreendedora Goiana”, estudo feito em uma parceria da Faculdade de Administração e Ciências Econômicas da Universidade Federal de Goiás (FACE/UFG) conforme afirma a analista do Sebrae Goiás, Vera Elias de Oliveira.

Além do desafio de ter capital para começar o próprio negócio, as mulheres se deparam diariamente com outras dificuldades como: preconceito e a dupla jornada. Pesquisa realizada pela Rede Mulher Empreendedora (RME), mostrou que dentre 1.376 mulheres empreendedoras no Brasil, cerca de 55% têm filhos, 44% são chefes de família e cerca de 75% delas decidiram ter o próprio negócio depois de se tornarem mães.

Segundo o Sebrae, para a mulher que deseja abrir o próprio negócio algumas questões merecem atenção, por exemplo: em relação à organização pessoal, as dinâmicas da sua vida pessoal ao empreender novas rotinas serão necessárias, o negócio vai precisar de comprometimento, avaliar seu propósito de vida.  Um dos desafio para se empreender é conhecimento. É a forma como ela se organiza para buscar conhecimento. As atividades do Empreendedorismo feminino que mais cresce são as ligadas aos serviços domésticos, comércio e a prestação de serviços na área de estética e cuidado com o corpo e alimentação.

Fomentar o empreendedorismo feminino é fundamental para que as mulheres possam aumentar seus rendimentos, gerar empregos, ter sustentabilidade no mercado e, sobretudo, ser independentes e protagonistas de suas vidas segundo Vera Elias.

A analista do Sebrae Goiás afirma ainda que “o serviço empreende ações de desenvolvimento para toda e qualquer mulher que queira ir mais além, que deseja melhorar seu potencial gerencial e sua capacidade empreendedora. A trilha de desenvolvimento ofertada propõe ser percorrida com encontro, webinar, cursos online, palestras, dentre outras atividades visando impulsionar o crescimento econômico e fazer as comunidades ligadas para as participantes prosperarem”.

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