Desvios prejudicam atendimento

Usuários reclamam da falta de médicos em Aparecida de Goiânia; ex-diretora do Fundo Municipal de Saúde é presa

Postado em: 15-11-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Usuários reclamam da falta de médicos em Aparecida de Goiânia; ex-diretora do Fundo Municipal de Saúde é presa

Wilton Morais* 

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Após a operação da Polícia Federal (leia correlata), a reportagem de O Hoje esteve em Aparecida, para falar com usuários do SUS.  No Cais Nova Era, o pequeno agricultor Matheus Victor Pereira de Souza, que esperava por atendimento do lado de fora da unidade, reclamou da falta de médico, recorrente na saúde pública. “Devia ter mais gente atendendo. Pelo menos o atendimento melhor deveria ter. Direto tem greve na Saúde. Esse caos na Saúde, em Aparecida, é reflexo do desvio financeiro”, disse Matheus que aguardava por atendimento há 30 minutos. 

José dos Reis é auxiliar de serviços gerais, e ao levar a filha Louane Rayele, oito anos, questionou a situação da Saúde. “Está uma porcaria. Não conseguimos nenhum atendimento. Às vezes é um caso de urgência, mas ficamos morrendo de dor. A falta de medico é o principal problema. Eu vim para a consulta da minha filha, que está com algumas feridas na boca. Ele era a única criança quando chegamos, mas não foi atendida”, relatou José.

Sobre a operação, o usuário do SUS, questionou a limitação da população diante o tipo de crime. “O que podemos fazer? Não podemos fazer nada. O pouco que temos tiram da gente. Ficamos sem o direito. Falta muito para melhorar. A gente que pagará por essa bagunça”, problematizou o auxiliar de serviços gerais. 

Já o técnico de internet Wellington da Silva, que acompanhava a estudante Heloise Batista, que estava com dor de dentes, contou que funcionários do Cais orientou que eles fossem até embora, por conta da falta de atendimento. “Minha dor de ouvido começou tem dois dias”, disse Heloise. “Eles não estão atendendo direito. Hoje já esperamos por duas horas”, complementou Wellington. Para o técnico, o dinheiro dos desvios poderia estar sendo investidos na Saúde. “Esse dinheiro faz muita falta aqui”, disse.  

Acusados teriam desviados R$ 3 milhões de Fundo de Saúde 

Uma operação da Polícia Federal (PF), em Aparecida de Goiânia, resultou na prisão de uma ex-diretora do Fundo Municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia, e seu ex-marido, na última terça-feira (14). Conforme as investigações da Polícia, os presos desviaram R$ 3 milhões. Esse dinheiro tinha sido destinado ao Fundo pelo Sistema Único de Saúde. A Operação batizada de Anaideia tem como analogia ao grego, tratando da crueldade, ‘não ter vergonha’, o despudor, e o imperdoável. As ações da PF foram realizadas em Goiás, São Paulo e Paraná.

O coordenador da Operação, o delegado Junio Alberto das Dores, classificou o crime como imperdoável e cruel, conforme provas colhidas pela polícia. Para o delegado, o desvio mostrou uma conduta grosseira, com total desdenho e confiança na impunidade.

Denúncia 

A Operação teve as investigações iniciadas no ano passado. Á ocasião, à própria Prefeitura de Aparecida de Goiânia realizou a denúncia e demitiu a funcionaria. A mulher, conforme as investigações, utilizava da sua função para inserir dados falsos no sistema. Ao usar uma empresa de fachada, no nome do marido, em julho de 2015, os desvios eram repassados para uma empresa fria. Ao todo foram 10 pagamentos entre setembro de 2015 e março de 2016.

A Polícia Federal esclareceu ainda que a empresa de fachada não declarava nada a receita, e nem mesmo possuía funcionários. As operações que aconteceram em outros entes da federação tiveram como objetivo localizar o dinheiro que teria sido repassado para outras empresas. 

Foi identificado em Serranópolis, no Mato Groso, pela polícia, casas, lotes, veículos e uma fazenda em, no nome da ex-servidora e do seu ex-marido. A Justiça já ordenou o sequestro destes bens para futuro ressarcimento aos cofres públicos. Caso sejam condenados, eles podem pegar até 12 anos de prisão pelos crimes de peculato e associação criminosa.

Apoio

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que apoia a investigação. “Assim como o anterior, o atual governo não compactua com má gestão ou qualquer tipo de desvio de recursos públicos e defende que, comprovada a culpa, quem praticou tais atos seja submetido ao rigor da lei”. 

Além disso, a atual administração esclareceu que tem prezado pela transparência, publicidade e moralidade dos atos públicos, e se colocou à disposição para contribuir com a investigação e demais esclarecimentos.  (Wilton Morais é integrante do programa de estágio do Jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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