Inflação do cafezinho e lanche da tarde surpreende no retorno do presencial

Parte essencial da manhã de muitos brasileiros, o café teve 56,87% de reajuste nos últimos 12 meses, apesar do aumento na produção

Postado em: 10-05-2022 às 07h00
Por: Sabrina Vilela
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Luciano Borges teve que aumentar o valor de alguns produtos recentemente | Foto: Pedro Pinheiro

Parte essencial da manhã de muitos brasileiros, o café teve 56,87% de reajuste nos últimos 12 meses, apesar do aumento na produção do grão no país, e tem surpreendido os trabalhadores que passaram quase dois anos em regime de home office ou semipresencial.  Além do café, outros produtos sofreram aumento, como o pão e os ítens que compõem a cesta básica, que deixou o almoço fora mais caro. O aumento se deve ao valor mais alto nas matérias primas. 

Clenilda Tomé, deu início ao trabalho novo como vendedora em abril após ficar três anos desempregada. Ela toma café da manhã e almoça fora de casa e já sente no bolso os impactos de aumentos. “O café aumentou muito. Em lugares o valor da xícara é o mesmo que de um pacote”, brinca. 

A vendedora gasta em média R$10 reais por dia com o lanche da manhã. “De manhã eu costumo tomar café puro e um pãozinho. Já para o almoço eu procuro o mais barato e geralmente eu encontro de até R$15”. Para não ter que fazer uso do transporte público ela divide a gasolina com uma colega de trabalho. “Como é uma moto econômica, a gente gasta em média R$20 por semana. Eu dou metade porque venho todos os dias. 

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A vendedora Glauciene também mudou de emprego há cerca de um mês e ela costuma gastar apenas com café da manhã e gasolina já que o almoço é fornecido pela empresa. “Com café da manhã eu gasto em torno de R$7 diariamente. Com transporte eu gasto R$80 mensais porque minha moto é bastante econômica”. 

Comerciantes repassam reajuste a consumidor final 

Rafael Lemes ajuda o pai, Renato Araújo, em uma lanchonete da Avenida Anhanguera. O estabelecimento existe há 30 anos e funciona das 5h às 18h e recebe atualmente em média 200 clientes por dia. Ele conta que nos últimos dias teve que repassar reajuste de preços para os clientes. “Teve acréscimo nas quitandas, suco de caixinha e café. Tivemos que fazer isso porque teve aumento no preço de custo”. O momento mais difícil vivido pela lanchonete foi quando teve o decreto de fechamento de estabelecimentos. “Ficamos um mês fechados, nessa época o movimento caiu 30%”. 

Rafael relata que mesmo com o retorno de trabalhos presenciais e a liberação do uso de máscaras, o número de clientela ainda não é considerado “normal”. “Agora que se pode dizer que está voltando ao normal. Esperamos que possa voltar a ter mais clientes novamente”, conta com expectativa. 

Já Luciano Borges é autônomo e tem um ponto na Avenida Goiás desde 2007 onde começou como vendedor de quitandas. Agora ele comercializa tapiocas, pão e café. Ele também teve que aumentar o valor de alguns produtos recentemente. “O café eu aumentei só um pouco para não pesar para vendedores, que são a maior parte da minha clientela, agora está a R$1 o copo pequeno. Eu vendo cerca de sete litros de café por dia. A tapioca e o pão tiveram um reajuste de 50%”.

O comércio de Luciano também sofreu impactos durante a pandemia, mas ele não desistiu. “A pandemia desestruturou o meu negócio, pensei até em fechar porque diminuiu o número de clientes e as obras aqui na região impediam o fluxo”, relata. Durante a pandemia o autônomo não fechou nenhuma vez, mas passou por dificuldades. “Não parei na pandemia, tinham dias em que eu vinha só para não perder o ponto mesmo. Eu gastava R$25 reais de gasolina e quando eu vinha trabalhar consegui às vezes nem R$50”, relembra.

Home Office é uma alternativa para economizar mais 

O Home Office significa literalmente “trabalho à distância”, esse modelo de trabalho foi muito usado nos dois anos de pandemia para conseguir facilitar o distanciamento social e economizar gastos da própria empresa. A gestora de mídias sociais, Caroline Schafer, diferentemente da maioria, começou a trabalhar de home office em janeiro deste ano. Ela pediu demissão do antigo emprego para trabalhar por conta própria como Social Media. Agora ela fica a maior parte do tempo em casa por causa da nova função. Ela conta dos gastos que tinha quando trabalhava fora. “Eu tinha muitos gastos com transporte já que o combustível estava com o valor muito alto e com alimentação também”. 

Caroline economizou em média R$300 por mês apenas com transporte após a saída da empresa

Caroline economizou em média R$300 por mês apenas com transporte após a saída da empresa porque agora ela gasta mais com energia elétrica. “Eu gasto agora com as ferramentas para o meu trabalho, como cursos e com a energia elétrica. A energia fica em torno de R$120. O plano de internet de wi-fi fica R$140 e o meu de celular R$50”. Ela conta que os gastos com internet ela já tinha antes mesmo de sair do emprego e que além disso, ela afirma que “economiza tempo e consegue ser mais produtiva”. 

Especialista explica impactos a trabalhadores após a pandemia

O economista Danilo Orsida afirma que a inflação dos alimentos compromete o poder de compra dos brasileiros.  Segundo o especialista, os principais itens que impactaram a inflação nos últimos anos foram os alimentos e o custo de transporte, no caso de combustíveis. 

“O reajuste do salário mínimo para 2022 foi de 10,06% de 2021, mas os preços de muitos alimentos superaram esse índice. A título de exemplo temos, no último mês de março, comparado com anos anteriores, segundo dados do DIEESE, café 72,3%, açúcar 46%, tomate 27,22% , óleo de soja 24,1%”, explica. 

Sobre o Home Office ele afirma que tem uma redução de custos de deslocamento e despesas com alimentação fora de casa. Essa forma de trabalho também “ numa perspectiva  da empresa, de igual modo é possível vislumbrar redução de custos, tal como na redução de espaços físicos, aluguéis, condomínios, diárias e custos com traslado em hospedagem na realização de reuniões externas, etc”. 

De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aproximadamente 11% dos trabalhadores ativos no Brasil exercem suas atividades profissionais de forma remota. Danilo Orsida acredita dá dicas de como economizar ainda mais trabalhando de casa. “Evitando o uso de eletrônicos em horários de pico e estabelecendo uma rotina organizada de horários de trabalho. Também é importante um controle, via  meios eletrônicos, tal como registros em sistemas informatizados (sendo frequentes os sistemas de login/logout, em que os empregados logam em plataformas apenas quando estão trabalhando), como forma a assegurar um controle mais fidedigno do período trabalhado”, conta.

Brasileiros batem recordes de impostos 

Desde que o ano de 2022 se iniciou os brasileiros já pagaram mais de R$ 1 trilhão em impostos, segundo dados do “Impostômetro”, ferramenta da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). A marca foi atingida na última terça-feira (3). Esse valor equivale ao montante do valor pago pelos contribuintes brasileiros em impostos, taxas e contribuições aos governos federal, estaduais e municipais.

No ano passado, a quantia foi atingida somente 16 dias depois, em 19 de maio. Durante todo o ano de 2021, os brasileiros pagaram R$ 2.592.601.562.926,43 em impostos no total. Os dados mostram que a tendência de os brasileiros pagarem mais impostos em um período mais curto de tempo já é vista pelo menos nos últimos cinco anos.

A maior quantia de 2022, considerando o mesmo período do ano passado, é reflexo do “aumento de preços e a consequente alta da inflação, já que os impostos incidem sobre o valor final das mercadorias”, explica o economista da ACSP Marcel Solimeo.

O estado de São Paulo lidera a arrecadação tributária até a presente data, com mais de R$ 350 bilhões arrecadados, o que representa 37% do total arrecadado no país. Na esfera federal, os impostos relacionados à Previdência são aqueles com a maior quantia arrecada neste ano, com um total de R$ 187 bilhões.

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