Cenário pós-pandemia: feirantes batalham para correr atrás do prejuízo

Infelizmente, nesse meio tempo, o mundo foi vítima de grandes impactos na saúde

Postado em: 22-05-2022 às 08h00
Por: Victória Vieira
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As roupas trazem uma maior acessibilidade econômica para o público, em que as lojas reconhecidas e de grife não trazem para a população | Foto: Victória Vieira

A Covid-19 gerou medo, angústias, incertezas, ansiedade, perdas, crises, entre outros, esses sentimentos foram comuns no tempo do isolamento social. Infelizmente, nesse meio tempo, o mundo foi vítima de grandes impactos na saúde. A situação foi traumatizante e até os dias atuais, tentamos conviver e recuperar do que vivemos.

Entre tantas vivências, a situação socialmente econômica, voltada para o comércio trouxe inúmeros prejuízos para aqueles que trabalham e dependem disso, já que o lockdown rendeu o fechamento do comércio. Eles não puderam trabalhar para ganhar sua renda econômica.

Claro, o auxílio emergencial oferecido pelo atual governo foi de extrema necessidade, porém, não foi o bastante. No Brasil, 600 reais é praticamente nulo para sobreviver e sustentar uma família.

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Diante desse fator, o jornal O Hoje traz a história dos feirantes do Mercado Aberto, localizado na famosa Avenida Paranaíba, contando sobre as atuais dificuldades no âmbito econômico e como está sendo a volta para o presencial.

Muitas pessoas já devem ter ouvido falar da Feira da Lua, Hippie e até da Feira do Sol, mas o Mercado Aberto é o centro das compras de vestimentas que vão da categoria infantil a idosos, calçados, eletrônicos, utensílios essenciais, entre outras coisas, também podem ser encontradas por lá. Enquanto os horários de funcionamento são apenas para um dia da semana ou nos sábados e domingos, o Mercado Aberto é uma feira especial de segunda à sexta. O lugar é com dois lados divididos na avenida, em um grande espaço onde se vê variedades entre as bancas.

Pandemia e volta ao presencial

Nesse ambiente de luta pela renda, trabalham a Dona Conceição, de 60 anos, o sr. Laércio Moreira de Paula, de 63 anos, Marilene dos Santos, de 57, e seu marido, Carlos Roberto, de 62, que de vez em quando trabalham em conjunto.

Juntando todos os anos de carreira como feirantes, que cada um tem no total, equivale a 102 anos. São 102 anos de inúmeras experiências, obstáculos, batalhas, provações, e principalmente, bastante vontade de vencer na vida.

“Aqui no Mercado são pessoas mais humildes, comerciantes que não tem condições de ter uma loja e necessitam vender o produto. São tipo ‘camelô’, pessoas aquelas que já habilitaram-se dentro do que faz e do que vive. Alguns estão aqui por motivos da ausência de estudo, outros já possuem, mas todos vendem seus produtos de forma qualificada.”, comentou Carlos.

Quando perguntado sobre os impactos nas vendas em razão da pré e pós pandemia, os quatro comerciantes responderam a mesma coisa: as vendas ainda continuam lentas, precisando de melhoras abrangentes.

“A pandemia como todos sabem trouxe diversas dificuldades para os feirantes. Os clientes, confinados, deixaram de comprar. Com a volta presencial, ainda está um pouco lento, mas estamos na expectativa de melhora.”, ressaltou Marilene.

Condições precárias

Apesar do ambiente de otimismo, a realidade é outra. Ao andar pelo Mercado Aberto, percebe-se um alto nível de precariedade e descuido por parte das autoridades governamentais .

Os feirantes trabalham em meio a condições insalubres, isto é, banheiro sanitário sujo, carrinhos enferrujados, estruturas velhas e deformadas, paredes com pintura descascada e pichadas, calçadas com buracos de extremo perigo, podendo causar acidentes letais.

Essas circunstâncias aumentam a prejudicialidade do bem-estar voltados para o trabalhador e o cliente, atrapalhando também, o capital, principal motivo dos feirantes ficarem horas em pé, muitas vezes, sem alimentar-se, tentando vender suas mercadorias.

A banca da Dona Conceição é ambientada na primeira parte do Mercado, na quadra C, ela conta à reportagem que há bastante tempo vem reclamando sobre essas condições precárias para a prefeitura do estado. “Nós pagamos impostos mensais de R$ 500, montagem, aluguel e garagem. E mesmo assim, não temos retorno. O nosso local é esse. Todo estragado, desarrumado. Falta melhorias, cuidado por parte deles. Os fiscais da Prefeitura de Goiás, ficam por aqui, mas não fazem nada. Então, as condições no nosso ambiente não ajudam. Os carrinhos incomodam, a estética da banca, os sanitários. Quem vai querer vir a um lugar desse para fazer compras? Ninguém”, pontuou.

O peso da segurança também cai sobre eles, ou seja, o salário dos seguranças é através da contribuição no valor de 40 reais dos próprios feirantes, não só isso, mas a higienização ao redor das barracas e dos sanitários é dependente deles com apenas um pequeno material de limpeza oferecido pelo governo e o resto é exclusivamente de cada um, comprando ou trazendo direto de casa. Contabilizando mais um gasto dentre vários.

“Está cada dia pior. Não temos apoio algum. Quando ficamos doentes ou precisamos de algo é o Valdir (funcionário do Mercado Aberto) que cuida de tudo. Ele até tenta ajudar, mas é muito complicado. São muitas pessoas. Fazemos vaquinhas quando a situação é de urgência. Nossa rede de apoio somos nós”, disse Conceição.

Mercado Aberto encara concorrência da região da 44

A região da 44 fica próximo ao Mercado Aberto. O fluxo de clientes é separado entre esses espaços. Entretanto, o conteúdo das vestimentas, o público e o preço são diferenciados. A 44 é a maior venda de estoques, tem mais variedades. Entretanto, o Mercado Aberto não deixa de vender.

As roupas trazem uma maior acessibilidade econômica para o público, em que as lojas reconhecidas e de grife não trazem para a população, além disso, é mais econômico.

Quanto ao preço, os dois lugares se igualam. No Mercado Aberto, os lucros são imprevisíveis, variando de cinco a dez peças por dia, indo de 50 a 150 reais, quando se há clientes ou em datas comemorativas.

Carlos afirma que dentro desse contexto, encontra-se uma alta demanda, mas depois desses dias, o rendimento torna-se baixo. “ Quando isso acontece, a gente precisa vender mais barato para fazer uma queima de estoque”, explicou. 

Para Laércio, o que atrapalha um pouco, não é a 44 e sim, os ambulantes na Avenida Anhanguera. Eles fazem com que os clientes desistam de vir comprar porque interferem no percurso ao Mercado Aberto, com isso, ocorre uma desistência e acabam comprando naquela região. A consequências são evidentes, visto que a maioria conta com a fidelidade da freguesia, pois é a partir deles que o seu rendimento depende.

Motivação

Os descasos vividos são a prova de que esses trabalhadores merecem uma visibilidade e justiça por condições melhores. Alguns feirantes continuam fazendo as feiras por necessidade, outros por gostos pessoais. Esse é o caso de Marilene e Roberto.

“Sempre gostamos de trabalhar com roupa. A gente tem que mexer com o que gosta,  mesmo trazendo dificuldades. O lucro é pouco mas é melhor do que não fazer nada e ficar parado. Todo dia vendemos uma coisinha, é pouco, mas vale a pena. É preciso ter fé e perseverança”, relatam.

Em contrapartida, o senhor Laércio trabalha no Mercado Aberto desde 2003 e alerta: “ Para quem quer abrir um negócio por aqui, eu não recomendo. Trabalho aqui por um bom tempo, então estou acostumado. Você precisa ser adepto a isso. Não procuro algo melhor por conta da idade. É preciso vir para cá sabendo dos custos.” (Especial para O Hoje)

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