Apenas 2% da população doa sangue

Doações insuficientes preocupam autoridades da Saúde. Bancos de sangue de Goiânia reclamam de desabastecimento

Postado em: 25-11-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Doações insuficientes preocupam autoridades da Saúde. Bancos de sangue de Goiânia reclamam de desabastecimento

Marcus Vinícius Beck*

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Ana Carla Rodrigues Souza, 18, doou sangue pela segunda vez, mas no Dia Mundial do Doador de Sangue, celebrado neste sábado (25), ela doará mais uma vez. Estudante de Fisioterapia, ela disse que a universidade em que estuda encoraja seus alunos a olhem para a questão com sensibilidade, já que entre os meses de novembro e dezembro as geladeiras do banco de dados dos hemocentros de Goiânia costumam ficar vazias. “Os professores da Universidade Estadual de Goiás (UEG) dão meio ponto se a gente doar sangue”, explicou a estudante, salientando que a importância de pensar no outro com empatia. “Logo que completei dezoito anos procurei um hemocentro”, confessa.

Os hemocentros de Goiânia atendem por mês uma média de 2.234 candidatos à doação de sangue com 1.668 bolsas coletadas. Diariamente, a Capital recebe 120 candidatos a doação, e a média diária de 90 bolsas coletadas. Mas para doar sangue é preciso passar por uma entrevista com uma Assistente Social em função de possíveis contaminações que a pessoa tenha. Na conversa, ela perguntará, por exemplo, se o doador é solteiro ou casado. Em contrapartida, em Goiás entre janeiro e novembro, foram registrados 24.650 candidatos à doação de sangue e de 18.348 de bolsas coletadas. 

Segundo o diretor administrativo da Unidade de Saúde, Arione José de Paula, a procura no hemocentro aumenta nos últimos meses do ano. Ele afirmou que, muitas vezes, a geladeira onde são armazenados os sangues ficam totalmente vazias. “As doações de sangue ficam mais escassas nos meses de julho, dezembro e janeiro em decorrência da festas de final de ano e do período de férias escolares”, explicou de Paula. Porém, de acordo com ele, no mês de novembro bastante gente procura o hemocentro. “O banco de dados enche e depois esvazia”, finaliza. 

Mesmo diante da alta demanda de pessoas querendo doar sangue, alguns tipos sanguíneos estão em falta nos bancos. Um deles é o O negativo. A enfermeira Jaciane Soareas de Sá, que é coordenadora da Coleta de Sangue do Hemocentro Estadual de Goiás Dr. Nion Albernaz (Hemoceg), disse que o governo por meio dos veículos de comunicação contribuem para que haja procura. “Mas sempre estamos com o estoque mínimo ou zerado por ser o grupo sanguíneo considerado o doador universal”, admite.

Para ela, a importância de doar sangue é assegurar o abastecimento do hemocentro, de modo  que as unidades de saúde sejam reabastecidas. “O sangue está utilizado em transfusões de pacientes vítimas de acidentes de trânsitos, pacientes com leucemias portadores de hemofilia e coagulopatias e outros casos”, garantiu Soares de Sá. 

Brasil

Milhares de vidas podem ser salvas em todo mundo. Mas para que isso ocorra é necessário que doar sangue, o que no Brasil mais parece uma utopia do que realidade. Isso porque menos de 2% da população brasileira já doou sangue alguma vez na vida. Para se ter uma ideia, o número de doadores regulares aumento no país nos últimos anos, todavia ainda está bem longe do ideal. 

Segundo dados do Portal Brasil, em 2014, a taxa de doação de sangue para cada mil habitantes no Brasil foi de 18,49, ou seja, 1,8%, enquanto que o ideal é entre 3% e 5% da população ser doadora, de acordo com a Organização das Nações Unidas (OMS). Entre 2013 e 2014, foi registrado aumento de 4,5% nas coletas de bolsas de sangue, passando de 3,5 milhões para 3,7 milhões.

Com isso, a cada dois minutos um brasileiro precisa de sangue, mas só seis em cada dez doadores são voluntários e doam com freqüência. Outros quatro são considerados doadores de reposição, ou seja, só doam quando um amigo ou parente precisa de sangue. Por isso, o Docway, maior aplicativo da saúde no Brasil, resolveu incentivar seus usuários a doarem sangue. 

De acordo com Fabio Tiepolo, CEO do Docway, assim que o aplicativo recebe a informação da falta de determinado tipo de sangue e, com isso, envia imediatamente uma mensagem a seus usuários incentivando a ação. “Enviamos pushs para os pacientes avisando por meio de aplicativo o tipo sanguíneo que o banco está precisando”, explicou Tiepolo. 

Polêmica

Duas normas que vetam doação de sangue foram aprovadas no último mês de outubro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e outra do Ministério da Saúde (MS). As medias, que geraram polêmica entre o público LGTB, permitem que a doação seja consolidada apenas 12 meses após o último ato sexual. 

Na época, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse que o público pode pôr em risco a saúde pública e, por isso, é necessário avaliar com cautela a decisão. Segundo ele, uma vez tomada a medida, será preciso voltar atrás para avaliar as conseqüências. O ministro, ainda, afirmou que estuda a possibilidade de levar o problema à Organização Mundial da Saúde (OMS).  

No Brasil, há mais de 4 milhões de pessoas para receber medula óssea 

Atualmente, no Brasil, há 4.442.085 pessoas cadastradas para doar medula óssea. O número de doadores cadastrados tem aumentado ano a ano. De 2010 a 2017, por exemplo, o registro subiu 123%. Para virar um doador, é necessário ter entre 18 e 55 anos. O cadastro é efetuado nos hemocentros.

O líder logístico, Wilcson de Souza, 40, estava doando na última sexta-feira (24) sua medula, além de sangue. Conhecido pelo Hemocentro do Materno Infantil como “doador assíduo”, Souza disse que, a cada três meses, doa sangue. “É fundamental nos sensibilizarmos com o outro”, afirmou.

Segundo o diretor administrativo do hemocentro do Materno Infantil, Arione José De Paula, colaboradores como o Wilcson são primordiais para as unidades de saúde, que sofrem com a falta de sangue nos bancos. “Ele doa várias vezes ao ano”, disse De Paula, acrescentando que Wilcson também doa medula. “É do tipo de doador que precisamos”, completa.

Para ser doador de medula, o voluntário precisa retirar uma pequena quantidade de sangue. Com isso, as características genéticas são analisadas e ficarão guardadas num banco de dados. No entanto, quando um paciente precisa de doação, a equipe do Instituto Nacional do Cânder (Inca) entra em contato com o doador – seja por e-mail, telegrama e até mesmo redes sociais. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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