Viadutos em Goiânia priorizam carros e esquecem os pedestres

Obras estruturais na Capital não abrem espaço para quem anda a pé. Falta de sinalização, coloca os pedestres em risco

Postado em: 31-05-2022 às 05h00
Por: Ítallo Antkiewicz
Imagem Ilustrando a Notícia: Viadutos em Goiânia priorizam carros e esquecem os pedestres
Viadutos são erguidos sem espaço seguro para quem vai a pé e de bicicleta | Foto: Pedro Pinheiro

Obras faraônicas de mobilidade em Goiânia priorizam carros em detrimento de pedestres. Viadutos da Capital foram edificadas para solucionar o tráfego de veículos e aumentar a fluidez do trânsito, mas, em contrapartida, não há meios seguros para o pedestre ou ciclista seguir com tranquilidade nessas estruturas, como acontece no recente viaduto da Enel na BR-153, inaugurado há poucos dias, mas sem a estrutura para os pedestres estar finalizada. 

O arquiteto e urbanista Paulo Renato aponta que a criação de fluxos para desembaralhar o trânsito, cada vez com mais veículos, “é válido quando a proposta assegura um trabalho paralelo para pedestres e ciclistas”. Em Goiânia, a frota de mais de 1,2 milhão de veículos e motos é um exercício de coragem e paciência. 

“Sem chance para segurança de pedestres e ciclistas nessas estruturas”, avalia Alves sobre algumas das obras mais recentes inauguradas na Capital, como os viadutos construídos nos cruzamentos da Rua 90 com Avenida 136 e da Avenida Deputado Jamel Cecílio com a Marginal Botafogo. 

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Para o especialista, as ações do Dia Nacional do Trânsito, celebrado em setembro, deveriam ser dedicadas à facilitação e ao incentivo à circulação segura das pessoas. “Vemos, praticamente, todas as obras de mobilidade feitas para incentivar a circulação de carros e não de pedestres e ciclistas. “Quais são as principais obras de infraestrutura de mobilidade que são feitas na cidade? Viadutos”, desafia.

Perigo

Alves explica que o viaduto da Enel, localizado na BR-153 ficou muito mais perigoso para atravessar. Os carros circulam com mais velocidade o que, automaticamente, espanta o pedestre e o ciclista.

Ele acrescenta ainda que as políticas de mobilidade urbana adotadas por Goiânia vão de contramão do que usam modernas cidades mundo afora. Segundo ele, “é necessário melhor planejamento para edificação de vias”.

No cruzamento da Rua 90 com a Avenida 136, no setor Marista, por exemplo, a passagem é restrita a um único veículo. Se houver um acidente ou este carro estrague você paralisa todo o trânsito do Setor Oeste e Setor Aeroporto”, explica.

Foto: Pedro Pinheiro

Contraponto

Questionado sobre a priorização dos veículos em detrimento aos pedestres na Capital, o engenheiro de tráfego da Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM) de Goiânia, Marcelo Pontes, explicou que cabe ao secretário da pasta e ao prefeito de Goiânia as respostas sobre o porquê de não construir essas obras já com os espaços para pedestres prontos. Porém a assessoria da Prefeitura de Goiânia, informou a reportagem do jornal O Hoje, que a sinalização é responsabilidade da SMM.

Entretanto, Pontes disse que enquanto não for inaugurada as devidas faixas de pedestres do viaduto da Enel na BR-153, o pedestre poderá passar por baixo com toda sinalização completa para travessia segura. “Hoje, realmente, quem passa a pé fica sacrificado”, explica.

Sem controle, calçadas ficam fora do padrão

Para Paulo Renato Alves, a prefeitura investe milhões para construir viadutos, para fazer corredores exclusivos, para cortar a cidade inteira e fazer o BRT (de trânsito rápido para ônibus), mas não tem recurso para arrumar as calçadas, o que fica a cargo do dono do terreno. “E como não há fiscalização, cada um faz de um jeito, não há um padrão”, contesta o arquiteto e urbanista.

O engenheiro de tráfego da SMM Marcelo Pontes aposta na melhoria dessa circulação quando, de fato, compreender quem deve ser, na prática, o responsável para construir uma calçada acessível. “Hoje, vemos que ninguém respeita a lei que criou um padrão para todas onde cada cidadão é responsável pela sua. Mas a discussão é: Como resolver? Lançamos ao poder público a responsabilidade de modificá-las ou construir novas?”, reflete.

Pontes ressalta que pela exigência técnica, cada residência ou edificação precisa construir a calçada em obediência a regra de usar a pavimentação estilo piso tátil (com placas de aderência na estrutura). Além das áreas de pedestre próximas às vias de trânsito de veículo, as calçadas desniveladas trazem insegurança para o transeunte e são barreiras intransponíveis, em muitos casos, para cadeirantes.

Com relação a canteiros imensos sem espaço para travessia e, em muitos casos, com perigosos desníveis, Pontes frisa que é possível solicitar à prefeitura uma visita técnica para solução. “Onde houver uma dificuldade maior estamos prontos para resolver”. Abrimos o espaço para a população solicitar reformas, para que possamos projetar novos caminhos e resolver o que está atrapalhando o pedestre de forma desproporcional. “Goiânia está em construção, em movimento, e melhorar é uma necessidade, sempre”, pontua.

Pedestres são 29% das vítimas de trânsito em Goiânia

As restrições de circulação de pessoas e veículos em 2021, devido à pandemia, é um dos fatores que explica a queda de 24% no número de pedestres vítimas de acidentes de trânsito. As principais vítimas de acidentes de trânsito, tanto em Goiás, quanto em todo o território nacional, seguem sendo os motociclistas. Apesar da redução de 15%, cerca de 14 mil, em sua maioria homens, os motociclistas seguem como as maiores vítimas no trânsito. Levantamento mostra que a Região Centro-Oeste foi responsável por 11% das indenizações pagas. 

Usar a faixa de pedestre de forma correta é uma ferramenta que contribui para a diminuição dos acidentes de trânsito. A afirmação é do gerente de Educação para o Trânsito da Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM) da Prefeitura de Goiânia, Horácio Ferreira Martins. De acordo com os dados da Seguradora Líder, administradora do Seguro DPVAT, de janeiro a dezembro de 2021, os pedestres ocuparam o 2º lugar no ranking de vítimas de trânsito.

O Relatório Anual da Seguradora Líder de 2021 mostra que os pedestres corresponderam a 29% do total de indenizações pagas. Nos acidentes com vítimas fatais, eles representaram 27%. Já os pedestres que foram indenizados devido a alguma sequela irreversível causada por acidente de trânsito representam 33% do total pago por invalidez permanente.

O gerente de Educação para o Trânsito da SMM ressaltou que, no trânsito, cada usuário da via pública tem sua responsabilidade. Ele lembrou que o Código de Trânsito trata, no artigo 29, que os veículos maiores devem zelar pela segurança dos veículos menores; os motorizados pelos veículos não motorizados e todos devem zelar pela segurança do pedestre. “O pedestre também tem seus deveres. Apesar de ser o usuário da via pública com maior fragilidade, ele também carrega a sua responsabilidade pelo Código de Trânsito Brasileiro”, explicou. 

Neste sentido, Horácio destacou que a responsabilidade do uso correto da faixa de pedestre não cabe somente aos motoristas. “A contribuição do pedestre é fundamental. Ele tem que procurar a faixa para atravessar”, disse. Horácio também alertou para a atenção ao fazer a travessia. “A pista não é um lugar para atravessar atendendo o celular ou olhando mensagem”, acrescentou. 

Caso a via não conte com faixa de pedestre, ele deve certificar que o local que vai fazer a travessia da pista é onde não vai atrapalhar o fluxo de veículos e seja, além disso, no menor espaço possível. “Que ele atravesse de um lado para o outro da via em uma linha reta, ou seja, percorrendo o menor espaço entre os dois lados da via para que ele não venha disputar esse espaço na via pública com os veículos”, pontuou Horácio.

Campanha Nacional

Nacionalmente, a campanha Maio Amarelo foi lançada no dia 03 de maio, e tem como tema “No trânsito, sua responsabilidade salva vidas”. As ações serão coordenadas pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), ligado ao Ministério da Infraestrutura, em parceria com órgãos de trânsito nos estados e organizações da sociedade civil.

Neste ano, a mobilização pela segurança no trânsito teve forte ação nas redes sociais e eventos em formato virtual em razão da Covid-19, além do trabalho das instituições que estão constantemente atuando nas vias, como a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e demais agentes de trânsito. A mobilização alertou, por exemplo, para a responsabilidade de atitudes como usar passarelas e faixas de pedestres, para o respeito dos condutores aos vulneráveis no trânsito, para o risco de usar celular ao volante e sobre a importância de usar o cinto de segurança. (Especial para O Hoje)

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