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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
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Vício

Mortes pelo consumo de álcool teve aumento de 24% no 1º ano de pandemia

Em 2020, foi registrado aumento na taxa de mortalidade pelo consumo de álcool

Postado em 17 de junho de 2022 por Ítallo Antkiewicz

A pandemia de COVID-19 finalmente deixou para trás seus dias mais críticos, graças à progressão da vacinação e do sucesso das medidas de contenção do coronavírus. No entanto, mesmo passada a fase mais difícil, restam ainda as consequências sociais, econômicas e psicológicas para serem enfrentadas pelo Brasil e o mundo.  Enquanto o mundo ainda se recupera do luto pelas mortes causadas pelo coronavírus, há outras perdas que a pandemia nos obrigou a enfrentar.

8.169 mortes totalmente atribuíveis ao álcool no País foram registradas em 2020, um crescimento de 24% em relação ao número de 2019 (6.594). Também foi um valor consideravelmente maior à média de mortes deste tipo nos dez anos anteriores, de 2010 a 2019: 6.830. Os dados foram divulgados pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) nesta terça-feira (14), com base em números do departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DataSUS).

Alcoólicos anônimos (AA)

À nossa reportagem, um dos membros que está no A.A há nove anos relatou ter tido conhecimento da associação após ter sido socorrido ao hospital por conta da bebida por inúmeras vezes. “Toda vez que eu bebia eu era socorrido. A última vez que fui socorrido, a médica que me atendeu falou que se eu continuasse a beber da maneira que eu estava, eu ia morrer, porque eu já estava vomitando sangue. Pedi pra ela passar um remédio para eu parar de beber, ela falou para procurar um CAPS ou o Alcoólicos Anônimos. Foi quando no dia 18 de agosto de 2013 e me declarei alcoólatra. Já vou completar nove anos e estou dando continuidade ao programa”, afirma.

Ele ressaltou que ficava desconfiado de ir para o A.A no início, e que tentou parar de beber por diversas vezes, mas não conseguiu. “Fui atrás do Caps, passei um mês lá, tomei alguns remédios, mas voltei a beber de novo. Fui para a igreja evangélica, levantei a mão, aceitei Jesus e não deu jeito, foi quando eu decidi procurar o A.A. Só não perdi a minha família porque a minha esposa, graças a Deus, teve paciência comigo. Eu não ia trabalhar quando bebia e começava a passar necessidade dentro de casa, o meu mal na bebida era isso”, pontua.

Um outro membro que faz parte da associação, confessou ter sido um alcoólico problemático. “Perdi a minha família, esposa, trabalho, muita coisa. Fiz uma fuga geográfica porque eu não aguentava mais ser enxotado pela família. Pedi demissão do meu primeiro emprego”, ressalta.

Segundo ele, a parte mais difícil do processo de recuperação foi a dependência do álcool no organismo. “Quando me tornei um dependente de bebidas alcoólicas, essa foi a pior parte que passei do alcoolismo. Pra tudo na minha vida tinha que ter álcool, quando eu acordasse, tinha que beber, porque senão eu passava mal, a noite tinha que beber de novo, porque senão não dormia, tinha alucinações. Desde quando entrei no programa, quase todos os dias eu estou aqui, melhor do que ficar em casa assistindo TV é estar numa sala de A.A, porque pelo menos estou me recuperando”, explica.

Consumo abusivo

Os dados mais recentes de consumo abusivo de álcool pela população brasileira trazidos pelo levantamento Vigitel 2021 sinalizam que, ao menos neste quesito, estamos nos aproximando de um retorno aos índices pré-pandemia. Em 2021, a frequência deste padrão de consumo foi de 18,3% para a população geral, indicando que, após o aumento visto em 2020, o consumo abusivo retornou aos patamares percebidos desde 2010. Já entre a população jovem de 18 a 24 anos, no entanto, vimos uma queda importante do consumo abusivo, tanto em comparação a 2020 quanto antes da pandemia (19,3% em 2021 e 25,8% em 2019).

Internações e óbitos

As mudanças observadas mostram que o primeiro ano da pandemia provocou uma redução nas internações atribuíveis ao álcool. Por outro lado, os óbitos totalmente atribuíveis ao álcool com seus 24% de aumento entre 2019 e 2020. Estes dados sintetizam os efeitos da pandemia no consumo nocivo do álcool e as suas inúmeras consequências à saúde: menor número de internações e gerando aumento na quantidade de óbitos.

São consideradas mortes totalmente atribuíveis ao álcool aquelas que poderiam ser evitadas se não houvesse o consumo de bebidas. É o caso de envenenamento por álcool, miopatia alcoólica, da síndrome alcoólica fetal e de transtornos mentais e comportamentais ligados diretamente ao álcool, entre outros.

O álcool impactando a saúde dos brasileiros

Foto: Arquivo pessoal/ Karla Sawada Toda

A gastroenterologista e professora de medicina, Karla Sawada Toda, pontua que o consumo de álcool possui um componente cultural forte, sendo frequente o consumo recreativo aos finais de semana e festividades. “Entretanto, algumas pessoas atingem um consumo nocivo, com grande impacto na qualidade de vida, com prejuízos nas relações interpessoais, seja no âmbito familiar ou profissional, com perda de performance mental e física, distúrbios do sono e riscos de danos à saúde. Entende-se por nocivo o consumo diário acima de 2-3 doses padrão ou o que chamamos de “bindging brinking” (beber pesado episódico – consumo >60g de álcool por ocasião)”, afirma.

Toda ressalta que existem ameaças específicas para pessoas dependentes do álcool. “O consumo de álcool em pacientes com alcoolismo traz efeitos ao sistema nervoso central, com maior risco para quedas, afogamento, acidentes, incluindo os automobilísticos, suicídio; prejuízos ao sistema imunológico e trato gastrointestinal (diarreia, desnutrição, cirrose hepática, pancreatite), maior risco para neoplasias (boca, orofaringe, esôfago, intestino, entre outros)”, explica.

A especialista pontua que as medidas necessárias para reduzir o consumo do álcool inicialmente, é necessário auxiliar o paciente a enxergar que há problema no consumo nocivo do álcool e que isso deve ser combatido, assim, desenvolver a conscientização do comportamento e das complicações atreladas é fundamental.

“Redirecionar a sensação de prazer ou recompensa para outros hábitos (saudáveis) é uma possibilidade interessante. Quando houver dependência, a avaliação médica,

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