904 mil pacientes na espera por cirurgia: atraso da Tabela SUS é um dos motivos

O levantamento do CFM levou em consideração os dados de 16 estados do País e contabilizou apenas procedimentos eletivos: nome dado às cirurgias que não são caracterizadas como urgentes ou emergenciais

Postado em: 07-12-2017 às 13h25
Por: Márcio Souza
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O levantamento do CFM levou em consideração os dados de 16 estados do País e contabilizou apenas procedimentos eletivos: nome dado às cirurgias que não são caracterizadas como urgentes ou emergenciais

Segundo dados divulgados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), mais de 904
mil pacientes aguardam na fila de espera por cirurgias no SUS (Sistema Único de
Saúde). As informações mostram que em alguns casos a espera já se estende há 12
anos

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O levantamento do CFM levou em consideração os dados de 16 estados do
País e contabilizou apenas procedimentos eletivos: nome dado às cirurgias que
não são caracterizadas como urgentes ou emergenciais. 

Além da necessidade de expansão da estrutura existente para as cirurgias, um
dos principais motivos para o crescimento dessa demanda represada é a defasagem
da tabela do SUS, instrumento do Ministério da Saúde que determina o valor pago
pelo Governo aos hospitais e laboratórios por cada procedimento envolvido no
diagnóstico e tratamento, inclusive nas cirurgias. O alerta é feito pela
Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), entidade que representa os médicos
patologistas, profissionais responsáveis pelo diagnóstico de uma gama extensa
de doenças, especialmente o câncer.

“Quando falamos no efeito que a tabela defasada do SUS tem na fila de cirurgias
eletivas, estamos nos referindo a toda uma cadeia de procedimentos,
instituições e profissionais que não são remunerados adequadamente. A fila
surge e cresce quando temos situações em que o valor baixo pago pelo governo
gera prejuízo para os estabelecimentos de saúde, como se eles tivessem que
pagar para realizar o trabalho. Com os laboratórios de patologia não é
diferente”, explica Clóvis Klock, presidente da SBP.

Entre as cirurgias responsáveis pelas maiores filas, o trabalho do médico
patologista é indispensável após a retirada da vesícula, adenoide e amígdalas.
Após cada uma dessas operações a peça cirúrgica deve ser encaminhada a um
laboratório para ser analisada pelo patologista, que emite um laudo e dirá se
existe ou não indícios de formações oncológicas. Essa rotina é fundamental para
diagnósticos precoces de tumores.

“Os problemas começam quando temos uma tabela que não é atualizada há mais de
cinco anos, sendo o último reajuste já abaixo da inflação, e que fixa um valor
que chega ao máximo de R$ 24 por exame anatomopatológico. Vale ressaltar: esse
não é o valor final que vai para o médico, mas o total pago aos laboratórios,
os quais recebem, manuseiam e laudam esse material, utilizando insumos e uma
série de processos custosos. A conta não fecha e os laboratórios, que não podem
literalmente pagar para realizar o exame, optam por não realizá-lo”, conta
Klock.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Patologia, a fila para as
cirurgias eletivas é apenas uma das pontas do grande iceberg causado pela
defasagem da Tabela do SUS. Segundo ele, áreas como prevenção e diagnóstico precoce
do câncer são minadas pela falta de uma remuneração adequada por parte do
governo, gerando prejuízos incalculáveis em mortes e tratamentos custos, uma
vez que iniciados tardiamente.

O principal ‘case’ que exemplifica essa falta de coerência é o popular
Papanicolau. Esse exame é fundamental para evitar que a mulher desenvolva
câncer de colo do útero, sendo capaz de poupar vidas e somas consideráveis com
tratamentos.

“Ainda assim, o valor pago pelo SUS para esse diagnóstico vital é de
impressionantes R$ 6,97. É dessa soma que deve sair o custo dos materiais de
análise, de higiene e serviço do especialista, um preço muito abaixo do que o
gasto total dos médicos. É por razões como essa que a Tabela do SUS precisa ser
encarada como um dos principais obstáculos da saúde no Brasil”, finaliza. 

Foto: Reprodução

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