Crimes de estelionato eletrônico cresceram mais de 57% em Goiás

O estado registrou mais de 55 mil casos em 2021

Postado em: 01-07-2022 às 08h06
Por: Sabrina Vilela
Imagem Ilustrando a Notícia: Crimes de estelionato eletrônico cresceram mais de 57% em Goiás
O estado registrou mais de 55 mil casos em 2021 | Foto: Fernanda Calíope

Empresário do ramo de calçados há 18 anos, Wandeilson Ferreira Seabra, 46 , sempre vendeu seus produtos em sua loja física em Goiatuba, há 200 km de Goiânia. Mas, há cerca de 90 dias ele foi surpreendido com diversas ligações de clientes – a maioria de São Paulo e Rio de Janeiro – com ameaças e reclamações porque os produtos que eles pediram não chegavam. Foi quando Wandeilson percebeu que se tratava de um golpe. 

Desesperado e sem saber o que fazer, ele recorreu às delegacias da sua cidade, no entanto sem sucesso algum, apenas com o Boletim de Ocorrência registrado. Ele descobriu que o site lojasnacional.com estava fazendo uso do nome da sua empresa, CNPJ dele e número de telefone. Os clientes faziam o pedido e pagavam os boletos em outros nomes, mas a entrega nunca chegava. Com isso ele já pagou mais de R$20 mil só de prejuízo sem contar os 90 processos e 1800 reclamações por meio do Reclame Aqui. 

Segundo a vítima, a empresa está com registro na Califórnia, Estados Unidos, o que dificulta mais a ação da polícia brasileira para resolver o caso. Entretanto, enquanto a situação não é resolvida, o empresário está passando por dificuldades e muita dor de cabeça. “Recebo reclamações por meio de e-mail, telefonema e notificação judicial. Quando falam comigo eu ajo com honestidade, explico para os clientes que eu não tenho nada haver com o que está acontecendo e que eles foram vítimas de um golpe. Mas, no fim, eles me culpam pelo dinheiro que perderam”, conta ofegante. 

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Ele chegou a ir até a Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) por três vezes, contudo foi simplesmente ignorado. Segundo ele, na segunda -feira (27) quem o atendeu foi a recepcionista e a escrivã que o afirmaram que a delegacia não cuidava desse tipo de crime.

“Estou me sentindo como se o crime compensasse. Sou trabalhador , batalhador e a justiça simplesmente acovarda. Existem cerca de 300 a 500 sites falsos no país. A estratégia agora é fazer vítimas no interior. Eu não vejo saída e nem o término disso tudo”, relata desesperado. 

Dados de Goiás 

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública se baseia em informações fornecidas pelas secretarias de segurança pública estaduais, pelas polícias civil, militar e federal, entre outras fontes oficiais da Segurança Pública. Segundo a divulgação sobre estelionato por meio eletrônico, Goiás registrou em 2021 cerca de 55 mil casos desse crime. O aumento foi bem evidente em relação aos anos de 2019 e 2020 que registraram 21 mil casos e 35 mil respectivamente. 

Goiás está em sexto lugar entre os estados que mais registraram casos de estelionato por meio eletrônico. Em primeiro lugar está Minas Gerais com 112.8 mil; seguido de Rio Grande do Sul com 90 mil; Rio de Janeiro com 70 mil; Santa Catarina com 64 mil; e em quinto lugar Ceará com 57 mil casos registrados só em 2021. O aumento foi evidente na maioria dos estados citados e em Goiás não foi diferente já que a modernidade veio para facilitar ainda mais  a vida, mas pessoas de más intenções usam para prejudicar trabalhadores. 

Qualquer um pode sofrer estelionato 

O advogado Eduardo Costa já teve clientes relatando casos envolvendo estelionatos por meio eletrônico e ele afirma que esse tipo de crime não é de agora. Ele explica que o estelionato ou fraude eletrônica ” é um crime que foi trazido pela Lei 14.155 de 27 de maio de 2021, que inseriu os parágrafos § 2º-A e B no conhecido “171” do Código Penal, justamente pela necessidade de abranger os delitos praticados pelos meios eletrônicos, que antigamente eram abordados de forma genérica, mas agora podem ser abordados de forma específica. Por isso não é uma nova modalidade de estelionato, mas apenas a delimitação do “meio” e “espaço” de onde a fraude é cometida, inclusive com aumento de pena com relação a fraude comum, para gerar um sentimento de maior reprovabilidade desse tipo de conduta”.

Costa esclarece que para evitar passar por isso é necessário reconhecer que qualquer um de nós está sujeito a passar por tal situação. Ou seja,”independente do momento, da formação, da inteligência, capacidade, uma hora ou outra pode acontecer conosco, e se não tivermos essa visão realista, nossa autoconfiança vai nos trair”.

Cuidados

Outra receita que Eduardo Costa dá para evitar cair em golpe é nunca ter pressa para finalizar um negócio, porque sempre vai existir oportunidade, como também sempre vai existir a necessidade. Também ele afirma que nunca devemos desconsiderar nossa intuição, caso surja um sentimento de dúvida. A tendência é minimizar os riscos, pelo medo de desconfiar demais do negócio, mas isso deve ser considerado apenas como cautela para o sábio. E sempre que possível compartilhar ou validar a negociação com alguém de confiança, que pode servir como uma camada de proteção conforme explica o advogado. 

Ele esclarece ainda que existem elementos que sempre vão ocorrer em um estelionato: pressão psicológica para agir rápido para não perder oportunidade ou para suprir uma necessidade, é uma das principais características. Também induzem a vítima a não falar nada com ninguém, se aproveitando da distração do alvo. Se aproveitam da boa-fé, confiança e sentimento de caridade que é inato de boas pessoas. Segundo ele, o primeiro passo para identificar a fraude é verificar se há tentativa de induzir ou forçar alguém a fazer algo aparentemente vantajoso. 

Custos das fraudes são repassados para os clientes

Eduardo Costa explica que em casos de fraude todos saem perdendo visto que crimes desse tipo são tidos como de pouca relevância. Mas, conforme ele elucida quando uma pessoa ou empresa é prejudicada por alguma fraude cometida, direta ou indiretamente todos nós somos vítimas, enquanto sociedade. 

“Existe um repasse do custo de cada fraude que acontece no mercado para o nosso bolso, mesmo que indireto e mesmo quando não somos a vítima específica do golpe. Certamente as empresas, bancos e o próprio governo contabilizam os gastos para nos cobrar através do aumento dos preços, juros, tarifas e impostos, e no fim, todos nós pagamos a conta!”

Ele acredita que talvez por conta desse repasse do custo, que a vítima de uma fraude bancária, por exemplo, não consegue travar a transação imediatamente ao noticiar o fato ao banco, ou ao procurar algum dos órgãos do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), “a burocracia e desinteresse é tão grande, o que dificulta estancar ou parar o golpe imediatamente, pois afinal, quem detém os meios para solução não é quem sofre os prejuízos, pois distribui a despesa para a coletividade”.

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