Cooperativismo que cura

Sistema financeiro de crédito proporciona desenvolvimento para empresas. Crescimento da modalidade por parte das cooperativas ultrapassa 40%

Postado em: 11-12-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Sistema financeiro de crédito proporciona desenvolvimento para empresas. Crescimento da modalidade por parte das cooperativas ultrapassa 40%

Rhudy Crysthian* 

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O Censo do Cooperativismo Goiano 2017, realizado com levantamento da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), aponta que o ramo de crédito tem crescido anualmente em Goiás. As cooperativas tem se tornado meio de salvar empresas, e garantir a boa economia para as mesmas. Em 2016, por exemplo, o crédito teve um aumento de 40,76% em relação a 2015 no Estado. Em relação ao período de três anos entre 2014 e 2016, as cooperativas de crédito dobraram o valor de seus ingressos totais. O crescimento é de 100,22%. O levantamento é realizado com dados enviado pelas cooperativas goianas do ramo crédito. 

Renner Caetano, enfermeiro e cooperador contou que a cooperativa garantiu que o Centro Clínico e Tratamento de Feridas, no qual é sócio com outro enfermeiro e uma médica, saísse do papel. “Iniciamos esse centro em 2011, por meio da Unicred. Temos a cooperativa como parceira, ela acreditou em um projeto que estava apenas no papel, e que nenhum banco deu credibilidade. Idealizamos a primeira clínica de feridas. Para isso, precisamos de um economista que fez o plano de viabilidade. Hoje já estudamos expandir a clínica”, ressaltou. 

No início, o trio não possuía crédito algum. “Se não fosse a parceria não teríamos esse projeto na prática. Hoje temos uma vantagem de relacionamento, com proximidade dos gerentes. O fluxo de pessoas é menor nas cooperativas. Os juros são mais agradáveis. E ao final do ano, temos a participação na distribuição financeira. O investimento em nossa clínica foi feito há seis anos, mas de 2014 até hoje é que tivemos movimentação financeira”, contou.

Diferencial 

O presidente da Central das Cooperativas de Crédito de Brasil Central, Clidenor Gomes Filho explicou que ao longo do tempo, as pessoas que acompanham as cooperativas de crédito estão aprendendo a confiar no sistema. “No mundo inteiro, como Estados Unidos, Alemanha, Espanha, Canadá e França, as cooperativas de crédito ocupam de 30% a 40% do mercado financeiro. No Brasil, essa participação é menor que 4%”. Os empresários estão adquirindo confiança por parte das cooperativas, o que tem garantido o crescimento em meio à crise financeira e política brasileira. 

“As pessoas que começaram a acompanhar ao longo do tempo têm visto se tratar de coisa séria, então nos últimos anos, essa percepção de solides e confiabilidade nas cooperativas está permitindo que mais pessoas venham para as cooperativas. É um processo que está acontecendo no Brasil, mas tardio em relação aos países citados”, considerou Clidenor. 

O cooperador Renner acredita que as cooperativas se tornaram o diferencial para seu negócio. “Pesquisamos sobre os repasses da Saúde para os curativos. Dessa forma, surgiu essa ideia. E temos um domínio dessa técnica como enfermeiros. Demos uma desafogada no sistema público, as pessoas vêm para cá, ao invés de ocupar leitos nos hospitais”.

Desde 2014 a clinica já atendeu de forma humanizada 1.458 pacientes. Atualmente há 144 em atendimento. “Muitos dos pacientes que atendemos estão sem trabalhar, por conta da doença. Tivemos um que estava há 25 anos, necessitado do curativo e graças a essa parceria com a cooperativa foi um paciente que saiu daqui curado”, contou Renner. 

A proposta de Renner para os próximos meses consiste em ampliar a clínica de Aparecida de Goiânia para a Capital. “Hoje temos 17 funcionários. E estamos com uma unidade pronta em Goiânia, dependendo apenas do credenciamento com a Prefeitura”, explicou. 

Entrevista Presidente da Siccob – Clidenor Gomes Filho 

Cooperativas se tornaram tendência 

Em entrevista ao Hoje o presidente do Conselho de Administração do Sicoob UniCentro Brasileira, Clidenor Gomes Filho avaliou o crescimento das cooperativas no Brasil e em Goiás. O presidente considera que o mercado e os agentes estão descobrindo as cooperativas como ferramenta de desenvolvimento, que contribuiu para países ricos, e que agora permite que o Brasil e, principalmente o Estado de Goiás, se desenvolva.

Clidenor também é membro do Conselho de Administração da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB-GO), presidente da Central das Cooperativas de Crédito do Brasil Central, Amazônia Ocidental e Município de Ubá (Sicoob-Uni) e mestre em saúde coletiva, médico Ginecologista e Obstetra

O que são as cooperativas de créditos e como elas funcionam? 

São instituições muito parecidas com os bancos. Funcionam de forma bem semelhante, possuem cartão de crédito, cheque especial, financiamento de carro e imóveis. Captam recursos por meio de aplicação de poupanças e aplicações financeiras em geral. As cooperativas de crédito fazem os mesmos serviços que os bancos. A diferença é que por não visarem lucro, as cooperativas acabam conseguindo fazer as coisas de forma mais barata. Todos os empréstimos que você pode tomar na cooperativa terão taxas mais baratas do que o realizado em um banco. 

Todas as vezes que for realizar uma aplicação financeira, exceto poupança que possui os valores tabelados em qualquer instituição financeira, é possível conseguir um retorno melhor do que o dos bancos. Basicamente, essa diferença nas cooperativas é porque não há necessidade de lucros. Dessa maneira, as taxas são mais vantajosas para o sócio da cooperativa. 

Em Goiânia, que importância tem as cooperativas em relação ao País, para a economia? 

Estas cooperativas hoje são muito importantes para alguns segmentos. Há anos, elas eram ligadas a uma profissão. Por exemplo, a Unicred é relacionada aos médicos e profissionais de saúde; a Engecred com os engenheiros; a Saudecred com os dentistas; e a Lojicred destinada aos lojistas. Então, as cooperativas eram muito especializadas em pequenas áreas. Atualmente cada um desses segmentos ganhou confiança e vantagens, ao trabalhar com suas respectivas cooperativas, que hoje elas representam uma importância econômica muito forte, dentro do mercado financeiro, em Goiás. Temos varias cooperativas de creditos rural, em varias cidades, inclusive Goiânia e, principalmente as cidades do interior. Essas cooperativas fazem um trabalho que se tornaram cada vez mais relevantes e de certa forma, oferecem créditos tão bom quanto dos bancos e mais baratos. 

Qual é a tendência de segurança para as cooperativas, assim como para aqueles empresários que estão entrando nesse ramo? 

A segurança é maior do que nos bancos. Por exemplo, os bancos emprestam para o público em geral. As cooperativas emprestam apenas para os seus sócios. Então o risco de um sócio das cooperativas dos médicos dar prejuízo para os outros médicos é muito menor, do que no público geral. Como as cooperativas possuem menos calote, elas acabam conseguindo emprestar o crédito com valores mais baratos, para o sócio. A segurança é decorrente do fato das cooperativas trabalharem com menos pessoas. E consequentemente pessoas que se conhecem entre si, com nível de confiança e credibilidade maior. 

Essa forma de segurança é revista, constantemente? O que garante a segurança nas cooperativas?

As cooperativas trabalham apenas com sócio. Então a pessoa que quer entrar em uma cooperativa ela precisa se tornar sócio. E por mais que a gente cresça, ainda assim, é um seguimento menor do que com o público em geral. Aqueles que estão com 4%, se dobrar passarão para 8%. Ainda é uma porcentagem pouca. Assim é fácil de conhecer dentro desse espaço que trabalhamos atualmente.

Há algum tipo de mercado que busca mais as cooperativas? 

Algumas cooperativas se tornaram de livre admissão. Mas mesmo assim elas continuam tendo o seu DND. Os profissionais de saúde continuam frequentando, preferencialmente, as cooperativas que são da área de saúde. Os engenheiros da mesma forma. Ou seja, abriu para o público em geral. Mas existe ainda uma tendência das cooperativas trabalharem com seus respectivos segmentos. Não há nada que impeça uma cooperativa de saúde, por exemplo, de se filiar a admissão de um engenheiro ou um produtor rural. Mas na prática elas ainda continuam fieis ao seu público original. 

Como estão as cooperativas de Goiás, em comparação ao restante do País? 

Goiás busca o melhor desempenho das cooperativas de crédito. Os três Estados do sul possuem cooperativas bem desenvolvidas. No Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, as cooperativas também estão bem desenvolvidas. Já Goiás, Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais possuem um cooperativismo muito forte. Então, Goiás está bem, quando o comparamos com o restante do País, a nossas cooperativas se saem muito bem. (colaborou Wilton Morais) 

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