Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Casais preferem adotar pets em vez de ter filhos

Falta de estabilidade financeira e preocupação com emprego são alguns dos motivos que levam casais a adotarem pets

Postado em: 11-07-2022 às 08h07
Por: Sabrina Vilela
Imagem Ilustrando a Notícia: Casais preferem adotar pets em vez de ter filhos
Falta de estabilidade financeira e preocupação com emprego são alguns dos motivos que levam casais a adotarem pets | Foto: Carol e Nilson/ Sabrina Vilela

Carolyne Oliveira Schafer, 22, e o marido Nilson Schafer Neto, 28, são casados há dois anos e fazem parte de um grupo crescente de brasileiros que não planejam ter filhos e preferem a adoção de animais de estimação. Os pets sempre estiveram nos lares da população brasileira, mas a mudança do perfil dos casais tem colaborado para essa nova realidade, explica a socióloga e mestre em sociologia, Dilze Percílio. A socióloga explica ainda que há vários motivos que levam um casal a não considerar um filho, entre eles a falta de estabilidade, principalmente a financeira.

“Sempre concordamos em não ter filhos e já tínhamos em mente adotar um gato depois de casarmos, o que acabou virando dois”, brinca Carolyne. O casal acabou adotando Phoebe e Molly, que são tratadas como filhas. “Elas são muito importantes para a gente. Sem elas talvez tivéssemos mais dinheiro mas seríamos menos alegres. Elas nos dão boas risadas, carinho e dormem conosco”.

Já a esteticista, Karoline Colares,23, e o programador, Augusto Rodrigues, 24, têm apenas três meses de casados e também não pretendem ter filhos por enquanto, a não ser a filha de quatro patas chamada Liz. “Ela é como uma filha para nós e sempre estava nos nossos planos ter um cachorrinho. A Liz é nossa família, ela é muito amorosa, brincalhona e nos traz muita alegria”, exclama Karoline.

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Para Jeniffer Costa,30, e Rafael Antônio, 32, o sentimento é o mesmo com relação a o Thor Antônio. Ele foi o presente de casamento do casal há seis anos e para a consultora imobiliária e torneiro mecânico esse foi o melhor presente que poderiam ganhar. “Ele foi presente de casamento uma amiga pediu para escolhermos ou o dinheiro da venda do filhote ou o filhote, o resultado é que temos o Thor a 6 anos”, narra com humor. 

Thor acabou se tornando um filho para eles visto que ter filhos não está nos planos de vida. “No início do casamento eu fazia faculdade, então quase não tinha tempo imagina com filho. Depois eu me formei e o desejo de ter filhos ainda é menor do que a responsabilidade que vem com eles e por isso decidimos como casal que por enquanto não está em nossos planos aumentar a família”, explica. 

Para Jennifer e Rafael Thor é parte da família e a alegria da casa e para eles é como se tivessem um filho mesmo. “Tem a rotina de ir para o banho toda semana, tem que tosar, acompanhar calendário de vacinas, consulta de rotina anualmente, as vezes passa mal e tem que sair correndo para o veterinário, tem que levar para passear. O amor que sentimos por ele é sem igual”, relata Jennifer. 

Quando se fala da importância do pet para a família, Jennifer é enfática na resposta. “O Thor é uma das minhas prioridades, sem dúvida, o bem estar dele é fundamental para mim, pois ele nos proporciona uma felicidade enorme e não consigo imaginar o nosso lar sem ele”.

Mudança do perfil dos casais e mundo corporativo contribuem

Uma pesquisa realizada anualmente da Comissão de Animais de Companhia (Comac) do Sindicato da Indústria de produtos para Saúde Animal (Sindan), a Radar Pet aponta que em 2021 das famílias que possuem cachorros, 21% pertencem a casais sem filhos, 9% são de pessoas que moram sozinhas e 65% de famílias com filhos. 

A socióloga e mestre em sociologia, Dilze Percílio – que também é mãe da pet Serena Williams Percílio – explica os números atuais já que em comparativo com os anos anteriores houve aumento. 

“A gente precisa avaliar duas coisas: o aumento quantitativo de animais de estimação e a mudança qualitativa de tratamento dos animais de estimação. As famílias sempre tiveram seus bichinhos de estimação, o que a gente percebe hoje é um pouco a mudança do perfil de pessoas que têm pets que adotam ou compram animais de estimação e a forma também como esses animais são. Ainda tem a maioria dos pets nas famílias com filhos isso é o tradicional não era comum você ter, por exemplo, pessoas que moravam sozinhas e que tinham animais de estimação ou jovem casados os animais de estimação era muita coisa de família e hoje é um comportamento de pessoas que são solteiras, recém casados”. 

Os casais não resolvem ter filhos por diversos motivos, mas a especialista explica que o que pesa é justamente a falta de estabilidade, principalmente financeira, na qual os casais se acham sem preparação para tal responsabilidade. 

” Hoje está nascendo cada vez menos crianças por uma questão primeiramente econômica porque antigamente quando a gente tinha uma uma economia muito baseada na força de trabalho na roça, por exemplo, os filhos eram vistos como ativos eles eram importantes para a produção para que aquela aquela fazenda prosperasse ou para aquele negócio dos pais prosperasse. Era visto como um ativo, ou seja, algo que ajuda a gerar renda para família”, explica. 

Além disso, ela esclarece que atualmente passamos por um processo de urbanização das atividades do mundo corporativo na qual os filhos não são mais vistos como ativos. Muitos deixam de ter filhos por ser “caro” por conta de gastos com escola, médico, além da necessidade de cuidarem da criança que é vista como “despesa”. Para ela, a situação muda quando a família consegue atingir uma vida mais tranquila do ponto de vista financeiro e resolve aumentá-la. 

Personificação dos animais de estimação

Dados do Instituto Pet Brasil (IPB) de 2019 indicam que os estados que formam o Centro – Oeste – Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – são responsáveis por 7,2% da população de animais de estimação do Brasil o que representa mais mais de 8 milhões de cães, gatos, peixes ornamentais e aves canoras. Só Goiás concentra 3% com mais de 2,2 milhões de cães, 693 mil gatos e 1,1 milhão de peixes e aves canoras.

Dilze Percílio explica que existe uma personificação dos animais e isso é mais claro só de observar os nomes que são dados a eles no presente. “Os animais não têm aqueles nomes que tinham antigamente, nome efetivamente de bicho hoje você coloca nome de gente nos cachorros e gatos, por exemplo, a minha que eu adotei ela é sem raça definida e eu coloquei o nome da maior campeã feminina e negra da história do tênis, então é algo que me representa”. Ela  também fala que os hábitos na forma como tratar os animais mudaram que antes eles ficavam só no quintal para vigiar a casa, mas muitos hoje até dormem na cama junto com seus donos.

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