Insegurança sobre duas rodas

Ciclistas reclamam das condições para pedalar na Capital. Dificuldades são encontradas em várias regiões, roubos e acidentes preocupam

Postado em: 16-12-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Ciclistas reclamam das condições para pedalar na Capital. Dificuldades são encontradas em várias regiões, roubos e acidentes preocupam

Marcus Vinícius Beck*

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Falta de respeito por parte de motoristas, buracos nas ruas, poucos quilômetros de ciclovia e carros que andam em alta velocidade, sem respeitar as normas de trânsito. Esses são alguns dos problemas enfrentados diariamente por ciclistas em Goiânia. As dificuldades foram apontadas pelo O Hoje em várias regiões da Capital, mas se tornam frequentes em vias movimentadas, onde pedalar é uma atividade totalmente arriscada. Além disso, há falhas no quesito segurança e, por isso, a apreensão em perder a bicicleta é algo que gera medo nos ciclistas.

Esta é a sensação da costureira Ercinda Borges Pires, 47. Atuante em grupos de ciclismo, ela tem receio de perder sua bicicleta ao pedalar pela Capital. “Quando não temos medo de sermos roubadas, temos medo do trânsito”, comenta ela, que anda de bike há um ano. “Sem dúvida, a gente fica com medo de pedalar e, com isso, passamos a fazer cada vez menos aquilo que sentimos prazer”, admite a costureira, acrescentando que em Goiânia há poucas vias apropriadas para ciclistas. “É difícil”. 

Outras pessoas também estão na mesma situação. Fã de pedalada nos finais de semana, mas atualmente ‘enferrujada’, a empresária Erlita Borges Pires, 42, sente um incomodo ao andar pelas ruas de Goiânia, sobretudo nos horários de pico. “São buzinas, xingamentos e gritos. De fato, andar de bike na Capital é horrível”, confessa a empresária, que costuma andar de bike com sua filha, Bárbara Borges, 20. “Eu ando [de bicicleta] somente quando venho para Goiânia, mas sinto medo”, comenta ela, que é estudante de medicina. 

A sensação dos ciclistas que se locomovem por Goiânia por meio de pedaladas é de que a situação vem piorando nos últimos meses. Adepta de práticas saudáveis, a estudante universitária Júlia Aguiar, 21, já sofreu na pele os transtornos do trânsito da Capital. Ela, que prefere ir à faculdade de bike, chegou a sofrer acidentes: “Um motorista de ônibus bateu em mim, e, quando vi, estava no chão”, relata a estudante, apontando o descaso frequente com os ciclistas. “As ciclovias da cidade são praticamente concentradas em apenas uma região de cidade e, se você for para outro lado, terá de trafegar junto com carros”, complementa. 

A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Trânsito (SMT) para obter maiores informações sobre o que tem sido feito para diminuir a insegurança de ciclistas, mas até o término desta reportagem não houve resposta.

Piora

A sensação dos ciclistas que trafegam por Goiânia é de que a situação piorou nos últimos tempos. Eles reclamam da infraestrutura e até mesmo dos problemas com sinalização em ciclovias que foram planejadas pela gestão do ex-prefeito Paulo Garcia (PT). No entanto, a Secretaria Municipal de Trânsito (SMT) assegurou que faria a manutenção das vias para que a insegurança fosse evitada. 

Isso foi feito, por exemplo, aos arredores do Parque Vaca Brava, no Setor Bueno, e do Parque Areião, no Setor Pedro Ludovico. No entanto, assim mesmo, houve outras queixas de ciclistas que se reúnem ali para jornada de pedalada que se estende pela noite. “Eu evito pedalar à noite, justamente, por conta da falta de infraestrutura”, diz a costureira Ercinda Borges Pires, 47. 

Nos últimos meses, O Hoje noticiou casos que reforçam a imprudência do motorista goianiense quando está no volante e, também, o desrespeito dele para com ciclistas. Em horários de pico, por exemplo, as vias da cidade ficam ‘entupidas’ de carro, o que pode ser um fator estimulante para que haja casos de acidente com ciclistas. Em julho, o especialista em trânsito, Antenor Pinheiro, disse que é evidente a sensação de que a fiscalização atual é ineficaz. 

“Há um ano temos uma fiscalização deficitária na Capital e, por isso, há um sentimento de que os motoristas não serão punidos se cometerem infrações”, explicou ele ao O Hoje, na ocasião. Contudo, no início do mês de novembro, uma nova regra do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) pode multar ciclistas que cruzaram pistas em viadutos, pontes, túneis e que atravessam dentro das áreas de cruzamento. A punição estipulada é de R$ 44,19, e também vale para pedestres. 

Ciclofaixas

No ano passado, a Prefeitura de Goiânia resolveu estender o horário de funcionamento das ciclofaixas, que passou a ser das 7h às 18h. Com isso, os ciclistas passaram a ter mais duas horas para desfrutar das duas rodas pelas áreas exclusivas aos domingos. O horário entrou em vigor após comum acordo com os ciclistas, que haviam pedido para que pudessem pedalar até mais tarde. 

À época, o presidente da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) disse que a iniciativa iria atrair mais pessoas às ruas aos domingos e feriados. Segundo ele, quem não consegue pedalar no horário das 16h por que está muito quente, tem a opção de aguardar um pouco mais, até o sol abaixar. Na ocasião, ele afirmou que, no horário de verão, 18h ainda tem sol, o que concederia mais tempo para a prática do ciclismo.  

Comparado com o ano passado, roubo de bikes aumentou na Capital 

Não é apenas o trânsito o principal vilã dos ciclistas. Dados da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP), por exemplo, estipulam que foram registrados 67 roubos de bicicleta neste ano, ante 40 no mesmo período do ano passado. No início deste ano, um zelador foi preso, no Setor São Judas Tadeu, na região norte de Goiânia, com pelo menos 17 bicicletas. 

De acordo com a Polícia Militar (PM), o dono da propriedade em que foram encontradas as bikes disse que as revendia com preço que variava entre R$ 300 e R$ 500. Na época, o suspeito foi encaminhado para a Central de Flagrates onde foi autuado por receptação. O revendedor, no entanto, não tinha passagens pela polícia, mas depois confessou que vendeu algumas bicicletas.

No ano passado, uma quadrilha especializada em roubo de bicicleta foi desmantelada pela Polícia Militar (PM). Três jovens foram presos e um adolescente apreendido suspeitos de roubar bikes de alto valores na Capital. 

Contudo, há algumas estratégias para evitar roubos de bikes. Ciclistas orientam que, caso a bike chame atenção, é melhor investir em aparatos de segurança, tais como trancas e cadeados. Aguardá-la em bicicletários pode ser uma saída segura, também. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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