Arte conquista espaço nas ruas

São 30 segundos de descanso para os motoristas em meio ao trânsito estressante. Artistas de rua fazem um show à parte que, nem sempre, é bem recompensado

Postado em: 26-12-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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São 30 segundos de descanso para os motoristas em meio ao trânsito estressante. Artistas de rua fazem um show à parte que, nem sempre, é bem recompensado

Wilton Morais*

É no cruzamento da Avenida Goiás com a Rua 1, no Setor Central, que o casal de malabaristas colombianos Aimer Xavier, 26 anos, e Alejandra Martinez de 27 anos se apresentam. Os artistas de rua aproveitam o pouco prazo do intervalo entre o vermelho e o verde, para demonstrar um pouco do circo nas ruas. Basta apenas poucos segundos e Alejandra está em cima de uma árvore, descendo com seu longo pano azul. Após as apresentações recebe algumas moedas, de um ou outro motorista.

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De acordo com o casal que retornou a Capital, em julho deste ano, o dia a dia dos artistas é bom, porém cheio de preconceitos que devem ser enfrentados pela dupla diariamente. “Algumas pessoas perguntam: ‘você mora na rua?’ ‘Onde você dorme?’ Mas sempre respondo, moro em um quitinete alugado”, explica Aimer.

A historia do casal, começou ainda na Colômbia. Aimer era estudante de agronomia em uma universidade pública, já Alejandra estudava artes plásticas. Ambos desistiram dos cursos para estudar artes circenses. “Já tive outros empregos, fui técnico de concerto de celulares. Também trabalhei com lan house, aqui em Goiânia não tem tanto, mas na Colômbia existem muitas. Meu curso não tinha nada a ver com artes, mas era uma universidade pública e eu fui estudar agronomia. Minha avó é camponesa, mas mesmo assim não gostei”, contou o artista.

Trajeto

A dupla que atualmente estuda circo no Instituto Técnológico de Goiás em Artes Basileu França (ITEGO), passou por várias cidades do País. “Estamos morando aqui, em Goiânia, por causa dos estudos. Aí teremos que morar na cidade por até três anos”, conta Aimer.

Alejandra conta que ser artista não é algo simples. “O maior desafio é aguentar. Tem coisas boas, mas às vezes tem coisas ruins. As pessoas falam muitas coisas feias. Mas temos que deixar tudo isso passar. Há a questão até de assédio, esse é o maior desafio a enfrentar”, explica a malabarista.dupla saiu da Colômbia, passou pelo Peru e a primeira parada no Brasil foi à cidade de Rio Branco, no Acre. “Viajamos há dois anos, passamos por Equador, Peru e depois Brasil. Aqui no País a cidade que enfrentamos o maior preconceito foi Brasília. Em Goiania é a segunda vez que viemos, e é muito tranquilo. As primeiras vezes moraram dois meses, no período da Copa do Mundo, mas voltamos para a Colômbia para estudar circo”, relatou Aimer. 

Apresentações encantam motoristas e pedestres na avenida 

Antes mesmo de o espetáculo acontecer, os pedestres que atravessam a Avenida Goiás já fixam o olhar em Alejandra, que em menos de um minuto está se virando no longo pano azul. Após a apresentação a cachorra Onix acompanha o casal e os abraça, como que os artistas recebessem a recompensa do animal. “Somos colombianos, menos ônix – a cachorra é goiana. Ela anda com a gente dentro da mochila, por conta do trânsito. E também realiza truques, desde dar a mão e obedecer aos comandos para se sentar, até pular o arco”, explica Aimer.

Além da Avenida Goiás, o grupo também fica em vários pontos da Capital. Apenas Alejandra fica em pontos fixos, por conta dos espaços para amarrar o longo tecido, para descer. “Preciso procurar um lugar que tenha varias árvores”, disse.

A atração é chamativa, as pessoas sorriem na Avenida. “É meio corrido, mas a gente se acostuma. No principio é um pouco eufórico. Mas depois se torna como uma atividade normal e comum. Como alguém que trabalha em um escritório”, contou a malabarista.

Preconceito

De acordo com o casal, as pessoas gostam da arte de rua, e dão valor. “Mas tem outros,  poucos, que não gostam e dizem: ‘vai arrumar um emprego; sai da frente; está atrapalhando o trânsito’. Mas a maioria gosta, sim”, ponderou Alejandra.  “É claro tem alguns que fecham a janela. Pensam que somos ladrão”, complementou Aimer.

De acordo com o casal ainda é possível viver da arte de rua. “Dá para tudo, pagar o aluguel, comprar comida. Mas anos atrás era muito melhor, a arte era mais inovadora na rua. Agora somos muitos, e as pessoas nos veem com mais frequência”, considerou a malabarista. 

*Wilton Morais é integrante do programa de estágio do Jornal O Hoje, sob orientação da editora interina de Cidades Waldineia Ladislau.

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