Inclusão de autistas nas escolas é desafio

Autora do Projeto Curatela, que beneficia centenas de pais de autistas e pessoas com diferentes deficiências mentais, e outras mães de crianças e adultos com o transtorno, buscam o avanço da inclusão

Postado em: 26-12-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Autora do Projeto Curatela, que beneficia centenas de pais de autistas e pessoas com diferentes deficiências mentais, e outras mães de crianças e adultos com o transtorno, buscam o avanço da inclusão

Marcus Vinícius Beck*

Portadores de deficiência mental, especialmente os que têm autismo severo, necessitam de uma atenção especial para serem inseridos na sociedade, e a escola, naturalmente, é um dos aspectos que mais pode contribuir para essa inclusão. Por conta de sentir na pele as dificuldades especiais relativas à deficiência, por ter um filho nessa situação, a advogada Celeste Cordeiro Chagas, autora de projeto que, desde 2009, facilita a obtenção de curatela para familiares da pessoa com deficiência mental, vem acompanhando toda evolução legal do tema. No momento a luta, segundo a advogada, é fazer com que a escola mude de mentalidade e se estruture para conseguir fazer o que dispõe a legislação voltada aos portadores de todos os tipos de necessidades especiais, de 2015, que trata da inclusão destas pessoas na sociedade.

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Ana Paula Ferrari, representante do Movimento Orgulho Autista Brasil em Goiás (Moab-GO), que realizou na semana passada o 1º Prêmio Autista Goiás, premiando 60 pessoas, entre autoridades, profissionais, pais e empresas que têm ajudado as famílias de portadores do transtorno, acredita que “a inclusão é um processo, nunca vai estar pronta, mas por outro lado, já é uma realidade na grande Goiânia, tendo em vista que o município de Aparecida oferece, com excelência, a inclusão em sua rede pública de ensino infantil, para portadores de deficiência mental e, em especial, alunos autistas”. Na capital, assevera Ana Paula Ferrari, que é mãe de criança portadora do transtorno, existem escolas particulares muito capacitadas. O filho de Ana Paula estuda numa escola particular em Goiânia.

A Lei 13.146/15 é que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Explica Celeste Chagas que a norma é bastante específica e não deixa dúvidas de que o Brasil precisa mudar seu olhar sobre as pessoas com necessidades especiais, principalmente de ordem mental, pois nestes casos é mais difícil promover a inclusão. Os autistas são, em geral, pessoas com muita dificuldade de se integrar, de participar de qualquer atividade social. É preciso que os profissionais da educação se capacitem para lidar com essas pessoas.

Dificuldades persistem

Integrante da Diretoria da Associação de Pais e Amigos dos Autistas em Goiás, a representante comercial Silvana Modesto, 54, é mãe de Victor Hugo, 26, que possui grau severo de autismo diagnosticado desde os oito anos. De acordo com ela, foi difícil conseguir ajuda e, atualmente, a conjuntura praticamente continua a mesma, de 18 anos atrás. “Muitos autistas estão sem tratamento médico e estão fora das escolas”, argumenta. Ela critica a ausência de políticas públicas, e diz que é necessário escolas de fato inclusivas e professores capacitados.

Ana Paula Lemos, 40, tentou várias vezes matricular seu filho – diagnosticado com autismo severo – em colégios da rede pública e privada, mas sempre era barrada. “Eu sempre me perguntava: qual é o lugar do meu filho na sociedade?” Natural de Brasília, Ana Paula morou em Niterói antes de chegar a Goiânia. Ela, que trava uma luta diária há pelo menos seis anos, diz que a cidade conta com pessoas que desejam compreender melhorar a inserção do autista no espaço escolar.

Projeto Curatela

Alvo de prêmio do Conselho Nacional de Justiça, por seu olhar humanizado e desburocratizador voltado para os portadores de deficiências metais, o Projeto Curatela acontece regularmente desde que foi abraçado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. O último foi realizado em final de outubro, quando 85 famílias puderam regularizar a situação de pessoas portadoras das mais diversas deficiências mentais. Juízes, advogados, promotores e defensores públicos participam das edições do Projeto Curatela, se deslocando até o Instituto Pestalozzi de Goiânia para a realização das entrevistas. 

A idealizadora do projeto, que também é membro da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB-GO, acredita que, como foi possível realizar este projeto para beneficiar centenas e centenas de famílias, um dia a escola inclusiva será uma realidade em todas as cidades. 

*Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação da editora interina de Cidades Waldineia Ladislau.

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