Pragas podem destruir uma a cada 10 safras de soja

Especialistas explicam de que forma os vermes interferem na produção e quais são as estratégias para minimizar prejuízos.

Postado em: 06-08-2022 às 08h15
Por: Luan Monteiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Pragas podem destruir uma a cada 10 safras de soja
Especialistas explicam de que forma os vermes interferem na produção e quais são as estratégias para minimizar prejuízos.

A cada 10 safras de soja, uma inteira é perdida para os nematoides, vermes microscópicos capazes de parasitar as plantas. Os dados são de uma pesquisa feita pela Syngenta, em parceria com a consultoria Agroconsult e a Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN). De acordo com o levantamento, já existe uma estimativa de R$ 65 bilhões em perdas por conta desse problema, somente na cultura de soja. 

Nematoides fitoparasitas, os principais causadores, podem resultar em prejuízos direto ao desenvolvimento e produtividade de todas as culturas, além de dano indireto que favorece a entrada de fungos nas plantas. 

Quando se fala em nematoides, o problema está abaixo do campo de visão do produtor, sendo considerado pelos produtores como “inimigo oculto”, pois nem sempre é possível visualizá-los ou identificá-los em campo. É o que explica Taís Ferreira de Almeida, pesquisadora da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater). 

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“Os sintomas expressados na parte aérea podem ser confundidos com outros problemas que ocorrem na cultura da soja. Os principais associados à cultura da soja são: nematoides de galha, nematoide das lesões radiculares, nematoide de cisto e nematoide reniforme”, explica. 

Por outro lado, também há outras espécies de vermes antes consideradas secundárias, que têm aparecido com frequência em amostras de solo de lavouras de soja, alerta pesquisadora. De acordo com ela, estes ocasionam danos observados nas raízes, muitas vezes, favorecendo e até mesmo intensificando os prejuízos provocados por fungos de solo, como, por exemplo, os causadores de podridões radiculares.

Neste contexto, Goiás precisa ficar em alerta em relação à ocorrência dos vermes microscópicos, uma vez que a maioria das espécies cultivadas pode ser infectada pelos nematoides associados à soja. “Quase todas as plantas daninhas também possibilitam a reprodução e a sobrevivência desses nematoides. Como consequência, a ocorrência frequente limita as áreas de cultivo, aumenta o custo de produção e compromete a produtividade”, ressalta. 

Métodos de controle

Para o coordenador institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária (IFAG), Leonardo Machado, os nematoides, como qualquer outra doença ou praga, caso não sejam controlados, podem causar perdas consideráveis na atividade produtiva. “O caso é mais grave, visto que há uma grande escassez de métodos de controles disponíveis, sendo na sua grande maioria controles biológicos, com utilização de plantas forrageiras que diminuem consideravelmente o número de nematoides no solo”, aponta.

Desse modo, torna-se fundamental que os produtores fiquem atentos com os prejuízos causados pela praga, para que, caso ele ultrapasse o nível de dano econômico, seja lançado mão de métodos de controles da praga.

Estratégias para minimizar danos

O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO), Joel Ragagnin, ressalta a importância da quantificação e qualificação dos danos causados pelos vermes nos diversos cultivos em solos tropicais. “A maioria das culturas que cultivamos são suscetíveis ao ataque de nematoides. É até difícil fazer essa quantificação no campo e os produtores não vão conseguir identificar exatamente qual é o potencial de dano. Em Goiás, os relatos de campo são muito frequentes desses danos, principalmente na cultura de soja, milho, feijão e algodão”, informa. 

Neste caso, os agricultores devem ficar atentos com relação ao histórico de ataques dessas pragas dentro da propriedade. “Estabelecer algumas técnicas que integram as diversas formas de controle possíveis. Dentre elas, a rotação dos cultivos, uso de ferramentas químicas, de ferramentas físicas e biológicas”. 

Ao utilizar essas estratégias, os danos causados serão minimizados ao longo das diversas safras que são realizadas. “Essas técnicas são bastante difundidas. Também é importante o agricultor ter uma assessoria técnica para colocar em práticas essas ferramentas para realizar o controle e amenizar as perdas”, finaliza. 

Cenário pode causar prejuízo de R$ 870 bilhões em 10 anos 

A pesquisa realizada sobre a distribuição e crescimento dos nematoides no Brasil percorreu todo o país durante o ano passado e traz detalhes importantes sobre a problemática em todas as regiões, nos mais diversos cultivos e para todas as espécies encontradas. Se o cenário permanecer como está, a expectativa é de que produtores brasileiros tenham um prejuízo somado de até R$ 870 bilhões em menos de 10 anos. 

Hoje, as regiões mais impactadas pela presença dos nematoides no solo são Sul, Centro-Oeste e Norte, em especial no Cerrado. Em alguns estados, os vermes estão presentes em mais de 99% das amostras. A espécie Pratylenchus ssp., por exemplo, é a mais identificada, chegando a mais de 75% das áreas analisadas. No mapa abaixo, é possível ter uma dimensão da situação atual.

Manejo genético 

A pesquisadora da Emater aponta que as principais formas de manejo para os nematoides estão associadas às estratégias de manejo genético (uso de material tolerante ou resistente), cultural (manejo integrado), químico e biológico. 

Entretanto, o primeiro passo para um bom manejo de nematoides consiste na identificação correta do nematoide presente na área. “Não adianta o produtor adquirir o melhor produto do mercado se for utilizado de forma inadequada. O que se observa é que o produtor ainda tem uma percepção muito pequena da gravidade e das ferramentas disponíveis, considerando nematoides como uma coisa só”, pontua. 

Em nível de campo, para um manejo eficiente, torna-se necessário conhecer exatamente o que se deseja manejar e sua população na área. Segundo ela, a partir deste conhecimento, será possível definir a melhor estratégia de manejo e demais práticas integrativas, como a definição de espécies de cobertura, plantas não hospedeiras, escolha de cultivares com tolerância/resistência.

“O que se tem observado em relação ao uso do manejo biológico é a redução da população de nematoides na área em torno de 50 a 60%. Porém, a entrega desses produtos vai além, atuando também em rotas secundárias do metabolismo da planta de forma extremamente benéfica, como a indução de resistência sistêmica, síntese de hormônios, produção de biofilme que protege as raízes, solubilização de fosfato etc., sendo todo, efeitos indiretos que agregam à planta um sistema radicular mais vigoroso”, finaliza.

Custo de produção 

Além disso, o Ifag estima custo de produção total da soja 2022/23 acima dos R$ 10 mil por hectare em Goiás. Leonardo Machado destaca que este patamar se configura como custo recorde no Estado, o que deve existir mais cuidado do produtor na negociação da safra. Isto porque, segundo ele, uma vez que os patamares normais de produtividade e os atuais preços da soja devem deixar as margens bastante apertadas. (Especial para O Hoje). 

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