Mundo virtual atrai adolescentes

A reunião online para os jogos acontecem, geralmente, durante a noite e duram até o amanhecer. Para especialista o exagero é preocupante e tempo deve ser limitado

Postado em: 30-12-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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A reunião online para os jogos acontecem, geralmente, durante a noite e duram até o amanhecer. Para especialista o exagero é preocupante e tempo deve ser limitado

Wilton Morais 

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Em tempos de férias, é comum que jovens e adolescentes troquem a noite pelo dia, quando o assunto é jogos online. B. M. S., 15 anos, de Piracicaba, interior de São Paulo, é estudante e começou a jogar com 10 anos. Ele relatou ao Hoje que os jogos fazem bem para o lazer. “Jogo desde criança, na época tinha apenas o playstation 2. Fiquei dois anos sem, porque meu pai precisou vende-lo, então ganhei outro – um Xbox, no qual jogo online”, relatou. 

De acordo com B., no mês de dezembro os jogos são mais intensos devido à disponibilidade de horários dos integrantes do jogo, que em comum estão de férias, e se comunicam pelo Skype. “Em períodos de aula não temos muito tempo e os amigos estudam em horários diferentes e acabam jogando até às 22h, por causa da aula do outro dia”. 

M. S., de 17 anos, é goiano e joga desde os 13 anos online. “Eu costumo virar a noite toda. Não tenho que levantar cedo, e antes do jogo eu não costumava a ir para escola e também não tinha muitos amigos. Depois que conheci algumas pessoas online eu comecei a ficar dependente das pessoas do jogo, daquela grande família”, relatou.

M. explica que o jogo se tornou uma recompensa para os seus afazeres diários. “O jogo para mim é como se fosse de etapas da vida real, eu posso jogar quando eu quero, contanto que cumpra com minhas obrigações de casa. Se eu não deixo de fazer meus afazeres, posso jogar 24 horas, que aí ninguém vai se importar e não atrapalho ninguém”.

Perigo

O mundo virtual conecta todos, que apenas pelo advento da internet, realizam contato com todo o País e até mesmo estrangeiro. “Faz bem a todos jogar, não tem hora. Não precisa sair de casa, a diversão está aqui. Essa interação com outras pessoas é boa. O pessoal é do bem. Mas é claro que tem pessoas de todos os tipos”, ressaltou B. ao ponderar para o cuidado com o jogo. 

Conforme o adolescente, durante as férias os jogos duram toda a madrugada. Ao ser questionado pela opinião dos pais, ele justifica. “Meus pais eram bem críticos com os jogos. Com meus 12 anos, eles acharam que eu tinha problema de saúde, falavam que o vídeo game não dava futuro. Mas no mundo hoje, com bastantes pessoas usando e traficando drogas e a criminalidade crescendo diariamente, meus pais não andam ligando muito para o jogo”. 

Viver grande parte do dia no mundo virtual pode levar a isolamento 

Segundo a psicóloga clínica Luciana Silva Barros de Oliveira, que atua na área de família, especialista em Psicologia Jurídica e de Investigação, que trabalha no Centro de Referencia Especializado em Assistência Social de Aparecida de Goiânia, já se observa os prejuízos e possíveis danos resultantes desta exposição descontrolada de crianças, adolescentes e jovens na internet. 

Ela explica que uma das principais características deste comportamento é o de isolamento daqueles que usam a maior parte de seu tempo com o entretenimento. “O desempenho escolar fica prejudicado pela dificuldade de concentração, atenção, oscilação do humor e comportamentos inadequados, que o indivíduo apresenta em sua rotina diária de estudos”, esclarece. 

Luciana de Oliveira disse que tem ocorrido uma demanda de atendimentos em consultório com relatos de dificuldades na inserção ao mercado de trabalho, devido à decorrência da baixa formação em consequência da má utilização do tempo livre, por não possuírem habilidades e competências adequadas para o cargo pleiteado.  Aqueles que estão empregados queixam que há queda no desempenho das atividades, na produtividade e dificuldades nos relacionamentos em equipe. 

Os indivíduos com repertório social empobrecido geralmente não interagem socialmente de forma saudável, relata a psicóloga, acrescentando que estes indivíduos podendo ter prejuízos significativos em seus relacionamentos interpessoais, como também afirmam os autores Zilda A. P. Del Prette, Almir Del Prette, na obra  Psicologia das habilidades sociais na infância : teoria e prática, explica a profissional.

Papel da família

Afirma a psicóloga que o papel que a família desempenha na formação dos indivíduos é de elemento regulador de seus comportamentos, com funções extremamente importantes, de acolher, cuidar e proteger seus membros, pois representa o primeiro grupo social do qual o indivíduo participa. 

“O homem é um ser social por natureza, tendo necessidade de estabelecer relações com outros indivíduos, bem como com o mundo que o rodeia, permitindo construir sua identidade social. O papel da família é muito importante em qualquer esfera da vida do indivíduo, como espaço de proteção, acolhimento e apoio emocional para que seus membros possam resolver problemas e conflitos”, diz Luciana de Oliveira.

Conforme Luciana de Oliveira, alguns fatores familiares que podem colocar crianças, adolescentes e jovens nesta situação de vulnerabilidade são a ausência de regras e normas claras dentro do contexto familiar; necessária imposição de limites; dificuldades de comunicação; falta de acompanhamento e monitoramento constante dos filhos. 

Os fatores de proteção e prevenção são aqueles que diminuem o risco de alguém tanto iniciar ou aumentar a frequência de um comportamento ou  atitude. “Para tanto a família necessita estipular regra clara, diálogo, interesse pelas atividades dos filhos, afeto, valores e segurança, dedicando tempo de qualidade e não terceirizando o cuidado e educação, ensinando-os a lhe dar com as frustrações”, frisa. 

Assim como a sociedade moderna, a família vem sofrendo transformações que produziram e ainda produzem impactos que ocasionam mudanças na estrutura, funções e forma de composição do núcleo familiar, lembra a psicóloga, salientando que os pais devem ficar atentos a essas questões e buscar ajuda profissional, se necessário. (Wilton Morais é integrante do programa de estágio do Jornal O Hoje, sob orientação da editora interina de cidades Waldineia Ladislau). 

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