Bióloga cria pássaros soltos em apartamento

Aves, quando soltas, se apegam ao dono e demonstram além de carinho, inteligência que não se imagina quando os bichos ficam isolados numa gaiola

Postado em: 02-01-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Aves, quando soltas, se apegam ao dono e demonstram além de carinho, inteligência que não se imagina quando os bichos ficam isolados numa gaiola

Wilton Morais

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Como cães e gatos, pássaros criados fora da gaiola demonstraram carinho e personalidade. A conclusão é da bióloga Célia dos Santos Araújo, que há pouco mais de um ano começou a criar periquitos-australianos soltos dentro de seu apartamento, em Goiânia. Hoje são nove periquitos, e uma calopsita, também originária da Austrália.

Em entrevista especial para O Hoje, a bióloga relatou que a reprodução dos animais acontece no próprio apartamento, e os periquitos se tornaram membros da sua família. Ao optar por criar os animais soltos, começou a analisar o comportamento deles. Segundo ela tem sido uma experiência interessante. “A partir do momento que adquirem confiança e perdem o medo, os pássaros tentam se comunicar com você. Pela manha, quando estou fazendo minhas leituras ou quando eu sento para tomar café, uma delas pousa no meu dedo e faz alguns barulhinhos querendo brincar”, relatou.

“Tive ao longo desse ano, oito filhotes, três deles voaram para fora porque as janelas ainda não possuíam telas. De início a janela ficava fechada, mas sempre que chegava alguém eu tinha que abrir porque ficava muito abafado. Numa dessas um fugiu a noite, pela janela da cozinha. Outro fugiu pelo banheiro e o terceiro pelo quarto”, explica meio pesarosa.

Até o procedimento de ovoscopia – quando um ovo é colocado no escuro e por meio de uma luz forte se observa os vasos sanguíneos do pássaro, assim como o desenvolvimento do coração – Célia utiliza para acompanhar o desenvolvimento dos filhotes antes de nascerem. Até agora foram três ninhadas. 

Comportamento

De acordo com a bióloga, o Periquito-australiano é monogâmico – quando se tem apenas um parceiro até que a morte os separe,– e por isso é preciso ter cuidado com o casal reprodutor. “Comecei com um casal, e depois que a fêmea morreu, minha irmã me trouxe outro passarinho para substituí-la. Só que descobri que o passarinho que ela me trouxe era macho, e não fêmea, porque sempre rejeitava e batia muito no outro”.

A identificação do sexo do animal é realizada pela cor da narina. “Geralmente a fêmea possui a narina amarronzada ou branca. Já o macho a narina é azul ou uma coloração quase rosa”, explicou. Célia pretende estudar Ornitologia e trabalhar fazendo pesquisas, com os pássaros. “A minha primeira experiência é com meus animais, e talvez seja o primeiro passo para que eu faça alguma pesquisa”.

Para a bióloga Célia, cuidar dos animais é trabalhoso. “São como crianças, estão se movimentando o tempo todo e fazem muito barulho e deixam o ambiente alegre. Eu sempre gostei de animais e plantas, e quando você tem espaço para cria-los soltos isso é bom, mesmo que seja em um apartamento, os pássaros que nasceram em cativeiro, quatro adultos comprados, já se sentem muito felizes”.  A calopsita é macho e, logo, logo, a bióloga acredita que terá de conseguir uma fêmea, pois é de outra espécie de periquitos. O animal gosta de cantar e quando chega visita na casa, se ele se sentir à vontade, canta o tempo todo.

Limitação

Para os que nasceram já em liberdade, os que sobreviveram das três ninhadas, Célia acredita que os limites do apartamento podem ser frustrantes para eles, tanto que nos descuidos que teve, três fugiram. “O primeiro foi um periquito fêmea albina, que era realmente linda, fugiu por um uma pequena abertura da janela”, relata. A bióloga conta que ficou muito apreensiva no início, por temer que a ave fosse comida por algum predador ou pega por alguém e colocada numa gaiola. Mas como bem em frente de seu prédio tem uma árvore enorme, onde vivem dezenas de periquitos nativos, daqueles verdes, começou a olhar para ver se via sua ave albina entre eles e, uma vez, conseguiu ver um periquito branco que, acredita, ser sua ave. “Daí em diante fiquei até contente de vê-la solta e feliz”, relata.

Dos hábitos dos periquitos, Célia relata que não precisam de treinamento e ressalta a inteligência dos animais. “Eu tinha a ideia de que o periquito era um pássaro bobinho. Mas estou descobrindo que eles são muito inteligentes e gostam de brincar.  Às vezes estou na cozinha lavando louça e a azulzinha [uma dos passarinhos] aproveita a torneira para beber água e tomar banho”, ressalta.

Célia contou também que quando um dos pássaros morreu, ao manipular o animal para enterra-lo a mesma passarinha parou e ficou olhando, percebendo a morte do “amiguinho”. “Ela ficou agarrada na minha blusa enquanto eu realizava esse procedimento. Essas coisas não são observadas enquanto estamos criando os animais presos”. A Bióloga defende espaço abertos para criar os pássaros. “Só assim é possível descobrir muitas coisas do comportamento destes pequenos animais”, disse. (Wilton Morais é integrante do programa de estágio do Jornal O Hoje, sob orientação da editora interina de Cidades Waldineia Ladislau). 

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