Tarifa do busão deve subir 9%

Alta é três vezes maior que o reajuste do salário mínimo. Valores já foram auditados pela AGR, porém CDTC aguarda reunião entre CMTC para aumento começar a vigorar

Postado em: 03-01-2018 às 11h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Tarifa do busão deve subir 9%
Alta é três vezes maior que o reajuste do salário mínimo. Valores já foram auditados pela AGR, porém CDTC aguarda reunião entre CMTC para aumento começar a vigorar

Marcus Vinícius Beck*

Continua após a publicidade

A passagem de ônibus na região metropolitana de Goiânia deve ter aumento de mais de 9% na segunda quinzena deste mês. Para entrar em vigor, a alta – que pode ser a segunda maior do Brasil – depende apenas da aprovação da Câmara Deliberativa de Transportes Coletivos (CDTC). O valor do cálculo está nas mãos da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) desde o dia 7 de dezembro. A quantia proposta pela CMTC pode subir a passagem de R$ 3,70 para R$ 4,05, o que representa aumento de três vezes mais, comparado com os R$ 17 do salário mínimo. No ano passado, o pagamento era de R$ 937,00 e, em 1° de janeiro, passou a ser R$ 954,00.

Em nota, a assessoria de imprensa da prefeitura de Aparecida de Goiânia disse que o estudo da CMTC já foi encaminhado para a CDTC. De acordo com a assessoria, o prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha (PMDB), que também é presidente da CDTC, afirmou que a passagem, caso sofra o novo reajuste, deve ficar estagnada durante todo o ano de 2018. Ele já está com os valores auditados pela Agência Goiana de Regulação (AGR). Mas, segundo Mendanha, não foi convocado nenhuma reunião, e também não há uma data prevista para que ela ocorra, o que adiaria a alta do preço da tarifa. 

Ainda conforme a CMTC, o reajuste do valor foi calculado com base no preço dos custos do transporte. A entidade afirma que um dos fatores que mais pesou na decisão de elevar o valor da tarifa foi o custo do combustível, que subiu mais de 100 vezes nas refinarias nos últimos meses, tendo impacto nas bombas dos postos pelo País. Em sua defesa, a CMTC destacou também que não houve reajuste no valor da tarifa em 2017. No início do ano passado, a companhia chegou a cogitar a possibilidade de aumentar a tarifa para R$ 4, mas o Movimento Contra a Catraca articulou manifestações contra a alta, e acabou pressionando as empresas. 

Outro fator que contribuiu para que as concessionárias voltassem atrás foi um acordo feito pelo governador Marconi Perillo (PSDB) em maio do ano passado. À época, ele disse que o estado iria arcar integralmente com os custos do Passe Livre Estudantil (PLE) para que as empresas de transporte coletivo pudessem reajustar os salários dos trabalhadores sem mudar a tarifa. O último aumento no valor na passagem aconteceu em fevereiro de 2016, quando o preço subiu de R$ 3,30 para R$ 3,70. A alta, na ocasião, foi de 12,1% e causou revolta nos usuários do transporte coletivo. 

Passageiros

A reportagem de O Hoje conversou na tarde de ontem com passageiros do transporte público na região metropolitana de Goiânia. Alguns mostraram-se críticos com o possível aumento da tarifa de R$ 3,70 para R$ 4,05. Outros argumentaram que alta é justa, pois o custo para a manutenção dos ônibus é alto. No entanto, todos concordaram em um ponto: a situação dos veículos que  diariamente levam milhares de pessoas é ruim. Isso porque a superlotação é um problema e, também, há questão da insegurança e da apreensão. 

O repositor varejista Lucas Leori, 19, pega todos os dias duas linhas para ir ao trabalho e três linhas para voltar da labuta. Segundo ele, que é crítico convicto do possível aumento, a medida é “bem surreal”. “Andamos em ônibus péssimos e muitas vezes caindo aos pedaços”, desabafa o repositor, acrescentando que, caso a medida entre em vigor na segunda quinzena de janeiro, “vai ficar pesado para o nosso bolso”. “Daqui para frente, a tendência é eu pensar duas vezes antes de pegar um busão”, pontua. 

Já o pintor Messias Lopes, 36, crê que o aumento da passagem não é “exagerado”. Para ele, que estava indo na tarde de ontem do Setor Campinhas para a Aparecida de Goiânia, a alta na tarifa é comum. “Só imaginar a quantidade de gastos que as empresas possuem para conseguir manter um ônibus rodando”, diz o pintor à reportagem. Messias, que quase não usa ônibus, declara que “se fosse cobrado mil reais seria barato”. Questionado acerca do impacto disso no bolso do assalariado, ele salienta que o preço ainda está “dentro dos conformes”. 

Em contrapartida, o estudante de Ciências Sociais, Victor Hugo, 25, não tem dúvidas de que a intenção da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) é excluir a população das escolhas feitas pela empresa. De acordo com ele, a saída será “juntar uma turma para pegar um uber”, pois o gasto será praticamente o mesmo. No entanto, reconhece ele, manifestações de rua serão a forma mais eficiente de expressar a discordância com a “crise de mobilidade”. “A saída mesmo seriam manifestações na cidade inteira contra as empresas, pautando qualidade e preço módico”, complementa. 

Outras pessoas também se dizem “abismadas” com a possível alta da tarifa. A atendente Edna Alves Pereira, 24, diz que o aumento é “um roubo”. “Certamente, daqui alguns anos, a gente não vai andar mais de ônibus, uma vez que o preço a cada dia que passa está ficando mais alto”, lamenta. Para ele, que mora em Aparecida de Goiânia e trabalha na Capital, o problema do transporte coletivo são vários, “mas os donos dele não querem arrumá-lo, e sim cobrar preços irrisórios e totalmente abusivos”.  

Outras três capitais também anunciam aumento na tarifa do transporte público 

Além de Goiânia, gestores do transporte público de outras três capitais sinalizaram vontade de aumentar o preço da passagem. Movimentos sociais contrários ao aumento do valor chegaram a expressar repúdio às medidas. Em três das duas cidades que proclamaram a alta, já foi anunciado protestos contra as iniciativas, o que pode gerar caos e revolta, como ocorreu em 2013, no bojo de várias medidas de elevação das tarifas que foram anunciadas por empresários do transporte público. 

Em São Paulo, durante entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o prefeito João Dória (PSDB) afirmou que a tarifa de ônibus terá de ser reajustada para 2018. Na ocasião, o tucano não informou qual seria o valor da tarifa, mas já se sabe que aumentará de R$ 3,80 para R$ 4,00. Dias depois o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), acatou a vontade do pupilo de subir o valor. Neste contexto, o Movimento Passe Livre (MPL), que articulou as manifestações de julho de 2013, em várias cidades do País, marcou um ato para o próximo dia 11. 

A cidade de Florianópolis, em Santa Catarina, também deve conviver com uma série de protestos por conta das passagens. Conhecida como um dos pontos turísticos do sul do Brasil, a capital deve sofrer um reajuste de mais de 7%, passando de R$ 3,90 para R$ 4,20 no pagamento em dinheiro. No entanto, para quem desejar optar por pagar com cartão eletrônico, o preço será de R$ 3,71 para R$ 3,99. A Ilha da Mágia já foi palco de uma das maiores articulações sobre tarifas do transporte público. Em 2003, milhares foram às ruas no episódio que ficou conhecido como “Revolta da Catraca”. 

No nordeste do País, protestos contra o aumento da passagem também estão marcados. Em Salvador, o prefeito ACM Neto (DEM) confirmou que a tarifa do transporte público subirá na cidade. No entanto, manifestantes contrários à medida criam uma página no facebook, onde  organizavam um ato para a tarde de ontem. Intitulado como “Revolta do Buzu Salvador 2018”, o protesto tem a intenção de “reviver a manifestação ocorrida em agosto de 2003”. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação da editora Waldineia Ladislau) 

Veja Também