Diagnósticos são aquém do real

Notificação do diabetes é em média, 40% inferior aos índices reais. Diabetes é considerada epidemia do século 21. Doença pode ser muito limitante da qualidade de vida.

Postado em: 04-01-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Notificação do diabetes é em média, 40% inferior aos índices reais. Diabetes é considerada epidemia do século 21. Doença pode ser muito limitante da qualidade de vida.

Marcus Vinícius Beck*

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O número de portadores de diabetes diagnosticados na última estatística existente no Estado, de 2016, aumentou em 7.241 casos. Em 2015 foram 1.696 novos diagnósticos da doença, e os cofres públicos tiveram de desembolsar mais de R$ 3 milhões para o tratamento nos postos de saúde. A faixa etária mais atingida pela diabetes é acima dos 50 anos, o que correspondente a 55,1% do total de pessoas que vão parar nos hospitais em decorrência da enfermidade. 

No âmbito estadual, a mortalidade foi de 14,9 para cada 100 mil habitantes, em 2000, e subiu para 25,7 mortes para cada 100 mil habitantes, em 2015, com um aumento de 30,4% no coeficiente de mortalidade em relação a 2000. Já no município de Goiânia, de acordo com dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), órgão ligado ao Ministério da Saúde, 7,6% da população é diabética. Mas a quantidade de pacientes que são considerados indefinidos, ou seja, que não possuem um diagnóstico preciso é de 40%. Desses, 25% não realizam nem ao menos um exame anual de prevenção.

A doença é considerada uma das epidemias mundiais do século 21. O Diabetes é um grupo de alterações metabólicas caracterizado por hiperglicemia resultante de defeitos na secreção de insulina, na ação da insulina ou em ambos os casos. Contudo, alguns fatores podem contribuir para a incidência da doença na população. E, para evitá-la, recomenda-se a prática de exercícios físicos, redução no consumo de alimentos ricos em gordura e açúcar, além de controle de peso e estresse.

Portadores

A reportagem de O Hoje conversou na tarde de ontem com portadores da diabetes no Centro de Atendimento Especializado em Ferida (Curacenter), em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da Capital. Todos os pacientes ouvidos queixaram-se das conseqüências da doença no organismo, e enumeravam os impactos que a enfermidade teve em suas vidas, detalhando os sintomas e descrevendo como é ser um portador de diabetes. “Há sete anos, eu tomo remédio de manhã, à tarde e à noite”, relata a aposentada Maria Dias de Souza, de 71 anos, que está nessa rotina há sete anos. 

Maria, assim como milhares de pessoas que convivem com o diabetes, teve de mudar seus hábitos de vida. De acordo com ela, que não pode ingerir alimentos que tenham altas doses de açúcar, sua visão já foi afetada pela doença. “Não enxergo de um olho”, declara a aposentada, que vai ao médico três vezes na semana e perdeu o marido, aos 49 anos, vítima de diabetes. “Mas, razoavelmente, minha doença é controlada, pois há dias em que estou com ela nas alturas e há dia em que ela está baixa”, confessa, explicando que os primeiros sintomas que sentiu foram “dores intensas no corpo”.

O caminhoneiro Aroldo Aquino da Silva, 62, estava sentado numa cadeira de rodas. Portador de diabetes “desde criança”, ele afirma não enxerga com a visão direta. “Meu trabalho foi afetado por conta da diabetes”, lamenta Silva, que não dirige há anos. Atualmente, assevera ele, toma “dois tipos de remédios contra a doença, mas todos esses sintomas são coisa de velho”. De acordo com ele, os primeiros sinais da doença aparecem no momento em que passou a sentir fadiga excessiva. “Quando apareci no consultório do médico com uma bala entre os dentes, ele disse que dali em diante eu jamais poderia saboreá-la na vida”, recorda.  

Médico afirma que cirurgia é ajuda para diabéticos 

O médico Maxley Alves defende que a retirada de parte do intestino, além de levar a perda de peso, também auxilia na reversão do diabetes em muitos pacientes. O assunto ainda é polêmico, porque a comunidade científica aceita que a cirurgia metabólica controla o diabetes tipo 2. Já quanto a bariátrica, que tem o objetivo de reduzir peso, as opiniões divergem.

Por exemplo, a cirurgia bariátrica tradicional consiste na redução do estômago, para obesos; a metabólica, que desvia parte dos alimentos quando passam pelo aparelho digestivo, controla o diabetes 2. No entanto, Alves diz que a retirada de parte do intestino (o que não deixa de ser uma cirurgia metabólica), leva tanto à redução de peso, quanto controla o diabetes 2. Portanto seria uma cirurgia bariátrica, e não somente metabólica.

Todos os dias 500 brasileiros descobrem que são diabéticos. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, o tipo 2 da doença atinge 16 milhões de pessoas no Brasil. No mundo todo,  a epidemia chega a 420 milhões e tem alto índice de mortalidade. Atualmente, é possível controlar a doença com aplicação de doses de insulina e a mudança de hábitos do paciente com adoção de dieta alimentar equilibrada e com baixo consumo de açúcar, prática de exercícios físicos, além de abrir mão de hábitos como fumo e álcool. Todavia, isso costuma ser um desafio. 

Na década de 90 surgiu um método para resolver esse problema, a cirurgia metabólica. “Essa cirurgia passa a ser uma opção quando, lançado mão da medicação, associada a melhoria da qualidade de vida com dieta balanceada e exercícios, não se atinge o controle glicêmico esperado”, explica o cirurgião geral especialista em cirurgia minimamente invasiva Maxley  Alves.

Indicação cirúrgica

O médico Maxley Alves explica que nem todo paciente diabético tem indicação de cirurgia metabólica e bariátrica. Segundo ele, os grandes beneficiários são mesmo os que têm mais peso a perder, como obesos grau I acima. Ele ainda afirma que o procedimento consiste na retirada de parte do intestino, o que leva a diminuição da absorção dos alimentos e a consequente perda de peso.  Cientificamente, vem sendo demonstrado o controle glicêmico depois do procedimento. A redução da necessidade do uso de medicações de controle e redução da síndrome metabólica global no organismo gira em torno de 80%.

Segundo Alves toda cirurgia tem risco, mas estima-se que os riscos de mortalidade são semelhantes de uma cirurgia de vesícula biliar. Riscos de tromboses e embolias são reduzidos por cuidados pré, durante e pós-operatórios. “O portador de diabetes sempre tem risco aumentado de complicações operatórias e pós-operatórias. Mas para minimizar esses riscos, um pré-operatório com especialistas reduz os riscos similares aos dos não diabéticos” garante o cirurgião. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação da editora interina de Cidades Waldineia Ladislau) 

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