Vestuário plus size movimentou aproximadamente R$ 9,6 bilhões

Segundo a presidente da Associação, mais de 110 milhões de pessoas no Brasil são usuárias do mercado usando manequim a partir de 46

Postado em: 29-08-2022 às 07h59
Por: Sabrina Vilela
Imagem Ilustrando a Notícia: Vestuário plus size movimentou aproximadamente R$ 9,6 bilhões
No Brasil registraram aumento de 21% nos últimos três anos | Foto: Arquivo pessoal

Informações do relatório setorial da Associação Brasil Plus Size (ABPS) de 2022 revelam que os segmentos do vestuário para homens e mulheres acima do peso no Brasil registraram aumento de 21% nos últimos três anos. Ainda segundo a ABPS, as vendas devem manter o ritmo de crescimento na casa dos 10% nos próximos anos. No que se refere a parte econômica, o ramo movimentou aproximadamente R$9,6 bilhões por ano. 

Para a presidente da ABPS, Marcela Elizabeth Pereira, “o mercado de moda plus size continua em crescimento já que mais de 110 milhões de pessoas no Brasil são usuárias do mercado usando manequim a partir de 46. As oportunidades de negócios se apresentam em todos segmentos”.

A experiência do consumidor com as marcas deve ser aprimorada a partir da adoção da ABNT NBR 16933 que mapeia medidas corporais femininas. A medida não é obrigatória, mas quanto mais empresas  adequarem suas tabelas de medidas elas serão mais assertivas. A iniciativa irá contribuir para a diminuição da frustração de clientes. O Brasil é um dos países com maior tendência de crescimento de mercado plus size e precisa ampliar sua produção para atendimento interno e abrir seus horizontes no caminho da exportação, conforme é destacado pela ABPS.

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Mercado Goiano

O Mega Moda é um dos locais com mais lojas no segmento plus size, com 38 lojas no ramo nos dois compartimentos – principalmente feminino. Há alguns anos muitas pessoas com manequim acima de 44 enfrentavam dificuldades de encontrar roupas de boa modelagem. Mas, com o aumento de empreendedores que se preocupam com o mercado, as opções de roupas são variadas e mais atrativas. 

Empresária de uma loja plus size, Jackeliny Ferreira Bonatto é atuante há três anos. Jackeliny sempre teve o sonho de trabalhar com moda, e também sempre foi plus size. Ela passou por dificuldades até conseguir vencer os complexos que tinha com relação à aparência. Após vencer o obstáculo ela tomou a decisão de começar a empreender. 

“Entendi que poderia ajudar mulheres de todos os lugares a se sentirem felizes, realizadas e maravilhosas. O nosso trabalho vai muito além de simplesmente vender roupas.  Nós trabalhamos com auto estima de muitas mulheres que por muito tempo, se sentiram inferiores ou menosprezadas por não se enquadrar no famoso “tamanho único”. Recebemos relatos de clientes que se emocionam quando vão contar suas experiências frustradas antes de encontrar nos encontrar”, conta.

Bonatto relata que sempre teve um gosto voltado para o estilo fashionista, era atraída pela mistura de cores e tendências. Sobre os desafios que superados, ela relata que  no início enfrentou a aceitação de um público que só gostava de usar preto e tinha muitos complexos. “De fato nós lidamos muito com o sentimento de nossas clientes, e agora com o tempo, eu vejo elas cada vez mais livres e ousadas, nada de só pretinho, elas usam rosa neon e felizes”, conta entusiasmada.

Goiana plus size nas passarelas

Tuane do Carmo Dias, 32, é a modelo plus size que irá representar o estado de Goiás na competição nacional. O Miss Brasil Plus Size acontecerá em Alagoas,Maceió, nos dias 12 a 16 de setembro. O Miss terá três categorias: Curve que são mulheres que vestem manequins do 42 a 46; Categoria Plus Size para mulheres que vestem manequim acima de 46; e a categoria lady que são mulheres acima de 39 anos. 

Tuane deu início a sua carreira como modelo em 2017 e relata que desde a infância sofreu muito preconceito por meio de colegas, namorados e até familiares por não ter um peso “padrão”. Além disso, ela conta que problemas enfrentados no dia a dia já lhe causaram muitos constrangimentos.

“Poltrona de ônibus com cinto que caiba o gordo, catraca de ônibus. Já aconteceu de eu ir ao cinema e não caber direito na cadeira e ter que ficar procurando. Então, esse tipo de situação é bem constrangedora”. 

Tuane sempre foi apaixonada por cantar, dançar, apresentar, mas principalmente tirar foto. Mas, em sua adolescência ser modelo era algo que parecia ser distante de sua realidade devido ao corpo e altura. “Eu já me vi em várias dietas restritivas para tentar entrar em um padrão que nem existia. Porque eu achava que tinha que vestir um 36 para conseguir pelo menos fazer um book em uma agência”. 

A miss vai a agências desde os 11 anos de idade e já foi muito enganada por pessoas que trabalhavam nesses locais. Eles prometiam o book e sumiam com o dinheiro. Mas, Tuane continuou a se especializar no mundo da moda por meio de cursos. Em 2016 ela voltou a tentar ser modelo porque nessa época começou a lançar lojas com roupas de numeração maiores. 

Ela esclarece que mesmo depois de se inserir como modelo plus size existia um certo padrão exigido por lojistas. “No início os lojistas não gostavam muito de modelos que tivessem barriga, queriam mulheres que não fossem tão gordas e depois mudaram porque queriam mulheres muito gigantes”.

Então, para Tuane poder representar a beleza plus de Goiás  é uma grande honra porque ela acredita ser uma maneira de levar a cultura goiana para o país, também significa representar para “meninas plus” por serem excluídas. Contudo, a modelo deixa claro que não romantiza a obesidade, muito pelo contrário ela reconhece que é uma doença que precisa ser tratada.

“A obesidade é uma doença, ela tem que ser tratada, tem que ser muito bem observada. Mas,você enquanto está no processo até de emagrecimento precisa se amar e se olhar com carinho. Então, estar em um concurso desse é dar voz a essa parcela da sociedade que tanto precisa de atenção”, declara.

Ela explica também que mesmo dentro do ramo plus size existe uma preocupação com o corpo. Segundo ela, as pessoas têm um conceito de que quem está acima do peso só come besteira, e que não se preocupa com alimentação saudável. Mas, na realidade, quando a pessoa passa a ter uma auto estima mais elevada ela se preocupa mais em nutrir o corpo, conforme afirma Tuane. 

Influenciadora digital

Modelo e influenciadora de empoderamento feminino, Wellen Mauany Batista Rocha,26, conta que tinha dificuldade de encontrar roupas que serviam com modelagem que valorizam as curvas plus size. “O preconceito da sociedade dita um padrão de beleza, e infelizmente ainda é presente no nosso dia a dia. A sensação que tenho, é que preciso provar em dobro minha capacidade e valor por ser uma mulher fora do padrão”, declara a influencer. 

Ela começou a carreira como modelo de vitrine na região da 44 há 7 anos. Ela tinha que panfletar para o shopping e levar atacadistas para comprar nas lojas, certo dia ela recebeu um convite para fotografar. Desde então, Wellen se descobriu na profissão e  não parou mais. 

Apesar de mais informação  e um mercado amplo para pessoas plus size, a influenciadora acredita que ainda existe uma certa resistência com relação a contratação de modelos, por exemplo. “Vejo que ainda existe um padrão engessado nas agências, mas é algo que vem mudando nos últimos tempos. Os empresários estão percebendo a importância da inclusão de pessoas fora do padrão em campanhas. Com isso surgem mais oportunidades de trabalho”. Ela relembra que isso fez com que diversas portas se fechassem, mas ela não permitiu que isso a desanimasse e a fizesse desistir.  

Wellen conta que o mercado internacional é gigante, mas o Brasil tem se destacado muito também. Atualmente ela atua como comunicadora da SHEIN que é uma marca internacional com visibilidade mundial.

Dentre as conquistas da modelo, a que ela mais conta com orgulho é poder dar melhor conforto para a família dela e inspirar outras mulheres a “descobrirem seu valor”. Criar a própria marca é um sonho que Wellen tem a longo prazo, o objetivo é produzir peças plus size de alta costura.

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