Goiás tem 12 pacientes aguardando doação de medula óssea

O Estado tem mais de 232 mil pessoas cadastradas como doadoras, segundo a Redome

Postado em: 01-09-2022 às 08h14
Por: Alexandre Paes
Imagem Ilustrando a Notícia: Goiás tem 12 pacientes aguardando doação de medula óssea
Camila de Ávila é uma das pacientes que aguarda um doador compatível para receber o transplante após ser diagnosticada | Foto: Arquivo Pessoal

Antes de ser diagnosticada com leucemia linfocítica aguda, a médica Camila de Ávila Alves Pereira, 29, sentia dores de garganta constantes. Apesar da medicação com antibióticos, nada melhorava. “No primeiro exame já veio que eu estava com quase nenhuma célula de defesa no corpo”, relembra. Começou então, desde dezembro do ano passado, uma corrida por doadores de medula óssea compatíveis.

A família inteira correu para fazer testes de compatibilidade da medula. As chances de encontrar um doador compatível na família são de 25%. Geralmente, os irmãos são as primeiras escolhas quando a simetria chega a 100%. “Os meus irmãos só são 50% compatíveis comigo”, lamenta Camila.

Agora em tratamento com a imunoterapia enquanto aguarda um doador, a médica faz parte de um grupo de outros 11 pacientes em Goiás que aguardam na fila de espera por um transplante de medula. Segundo a Rede Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), Goiás tem mais de 232 mil pessoas cadastradas como doadoras. 

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O encontro e a esperança

Depois de meses na fila de espera, um doador 100% compatível foi encontrado para Camila. A paciente, junto da família, aguarda os resultados de novos exames que foram realizados para finalmente fazer o transplante. “Mesmo caso eu não encontrasse um doador ativo, o importante é aumentar o alcance de informação, e aumentar o número de cadastrados como doadores. Para mim o mais importante foi conhecer histórias de pessoas que assim como eu, estão precisando receber o transplante de medula. E com certeza estou muito ansiosa e esperançosa pelos resultados”, comemora.

Doadores

Em Goiás mais de 232 mil pessoas são cadastradas como doadoras de medula óssea. De acordo com os dados do Redome, atualmente 12 pacientes aguardam na fila de espera por um transplante de medula no nosso estado.

No Brasil, cerca de 650 pessoas aguardam pela doação de medula de um doador que não seja parente. A boa notícia é que o número de doadores voluntários cadastrados tem aumentado expressivamente nos últimos anos. Em 2000, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), eram 12 mil inscritos e, dos transplantes de medula realizados, apenas 10% dos doadores eram cadastrados no Redome.

Atualmente com mais de 5,5 milhões de doadores inscritos, o Brasil tem o terceiro maior banco de dados do gênero no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha. “A chance de se identificar um doador compatível, no Brasil, na fase preliminar da busca, é de até 88%, e ao final do processo, 64% dos pacientes têm um doador compatível confirmado”, explicou o instituto.

Procedimentos

As coletas de células troncos são realizadas em centros de transplantes ou hemocentros públicos ou privados em todo o país. Em Goiás, o Hospital Araújo Jorge é o único hospital a fazer o procedimento, mas a partir de segunda-feira (2), o Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG) também passará a realizar esse tipo de transplante.

A diretora geral da Rede Estadual de Hemocentros (Hemogo), Denyse Goulart, explica que há alguns equívocos sobre a doação de medula. Ela aponta que a principal diferença desse tipo de doação são as condições do doado. “Comumente as pessoas pensam que só é possível doar um órgão após a morte, por meio de um doador cadáver. Mas a doação de medula óssea é diferente. É preciso que o doador esteja vivo, com a medula ativa, e produzindo células que possam ser doadas para outra pessoa”, explica.

A medula óssea é um tecido gelatinoso que fica no interior dos ossos e é responsável por fabricar células sanguíneas. O transplante de medula é uma opção de tratamento recomendada em alguns casos de doenças que afetam a produção dessas células, como leucemias e linfomas.

O procedimento consiste na substituição de uma medula óssea doente ou deficitária por células normais desse tecido. Do sangue são retiradas as células jovens da medula, que funcionam como estimuladoras de geração de novas células no organismo. E uma única doação pode salvar a vida de quem precisa, além de mudar a vida do próprio doador.

Como ser um doador

Para ser um doador, basta procurar alguma unidade do hemocentro do estado e agendar uma consulta de esclarecimento sobre a doação de medula óssea. O voluntário precisa ter entre 18 e 35 anos de idade, além de boa saúde. Ele vai assinar um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e preencher uma ficha com informações pessoais. Será retirada uma amostra de 5ml de sangue para testes de compatibilidade genética.

“O sangue é analisado por exame de histocompatibilidade (HLA), um teste de laboratório que identifica características genéticas a serem cruzadas com os dados de pacientes que necessitam de transplantes para determinar a compatibilidade. Em seguida, os dados pessoais e o tipo de HLA são incluídos no Redome”, explica Denyse.

A Hemogo alerta para a importância de manter os dados sempre atualizados, tendo em vista que, quando houver um paciente com possível compatibilidade, o voluntário será consultado para decidir quanto à doação. Para seguir com o processo, são necessários outros exames que confirmem a compatibilidade, além de uma avaliação clínica de saúde. 

“É uma taxa muito alta e é absolutamente frustrante para o paciente saber que ele tem um doador compatível, mas ninguém o encontra. As campanhas em todo o mundo são feitas para que as pessoas que se cadastraram atualizem seus dados, assim, quando alguém precisar de um transplante, elas serão encontradas da maneira mais rápida possível”, complementa.

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