Quinta-feira, 28 de março de 2024

Poluição do Rio Meia Ponte pode afetar abastecimento da capital

Comurg têm realizado trabalhos de limpeza da cidade e das margens dos rios e mananciais

Postado em: 02-09-2022 às 08h18
Por: Alexandre Paes
Imagem Ilustrando a Notícia: Poluição do Rio Meia Ponte pode afetar abastecimento da capital
Os materiais, em sua maioria objetos plásticos, foram recolhidos do ponto chamado de “Ilha do lixo” | Foto: Divulgação

O rio Meia-Ponte é de longe um dos rios mais importantes de Goiás, afinal a sua bacia hidrográfica é responsável por 50% da água da população goiana e banha 18 municípios no Estado. O rio nasce na Serra dos Brandões em Itauçu, a 70 km da Capital, e percorre 500 km até desaguar na bacia do Rio Paranaíba em Cachoeira Dourada, no interior do estado.

Mas, a cada dia que passa o rio goiano fica em situação de calamidade. Isso porque muitos resíduos e dejetos impróprios como esgoto são descartados nas margens e nas águas que cortam a cidade. Por isso, é necessário ficar alerta com essa situação ambiental que só piora.

O ambientalista Gerson Neto explica que em todo percurso que o rio Meia-Ponte corta a cidade, ele recebe várias influências de dejetos inapropriados, se tornando um verdadeiro esgoto a céu aberto. “Temos um rio de águas imprestáveis, e os municípios abaixo não utilizam dessa água devido a péssima qualidade que ela chega por conta da poluição”, ressaltou.

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Na semana passada cerca de duas toneladas de lixo flutuante foram retiradas do rio. Os materiais, em sua maioria objetos plásticos, foram recolhidos do ponto chamado de “Ilha do lixo”, local de acúmulo de resíduos na divisa dos municípios de Bela Vista e Hidrolândia.

A ação foi organizada pelo Sistema OCB/GO, em continuidade das atividades de educação ambiental da Campanha Dia C Ambiental. Uma equipe técnica chefiada pelo urbanista e ambientalista Luiz Roberto Botosso Júnior fez a retirada do lixo. 

“Essa ação de educação ambiental é fruto de uma parceria com as cooperativas de proteção do rio. Percorremos mais de 500 quilômetros e descobrimos alguns pontos com muito acúmulo de resíduos sólidos e, agora, nessa grande ação com nossos parceiros, retiramos esse lixo e daremos a ele uma destinação econômica, levando-o para a reciclagem”, explica o presidente do Sistema OCB/GO, Luís Alberto Pereira.

A Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) também têm realizado trabalhos de limpeza da cidade e das margens dos rios e mananciais. Somente nos últimos meses outras 220 toneladas de entulho e resíduos foram recolhidas em toda capital, sendo encaminhadas para os locais corretos de descarte. 

Proteção e Preservação 

O grupo Guardiões do Rio Meia Ponte luta pela recuperação e proteção desses mananciais. Os membros organizam mutirões de limpeza, trabalhos de reflorestamento das margens do rio, além de trabalhar com a análise da água, para saber como anda a qualidade da água do rio.

Ernesto Renovato, um dos membros da rede de articulação, diz que a situação está indo de mal a pior, tanto em termos de quantidade, quanto da qualidade da água. “A situação do rio dentro da capital é lastimável. A água já chega sem uma boa qualidade, mas captamos água dele e distribuímos à população. Na altura em que o rio passa pela região do bairro balneário meia ponte, o rio começa a receber uma grande carga de esgoto”, contou.

Segundo Renovato, a cobertura vegetal ao longo do rio e de seus afluentes foi quase toda destruída. A Capital, com cerca de 1,6 milhão habitantes, é a que mais gera preocupação para os que lutam pela preservação do rio Meia-Ponte. A maior parte do problema é por falta de conscientização da própria população.

“Existem várias ocupações que ficam às margens do rio, e essas pessoas acabam despejando os dejetos no rio. Até mesmo as pessoas que jogam o lixo pela janela do carro contribuem com a poluição e degradação do rio”, relatou. “Essas duas toneladas são a mínima parte, porque fora o lixo que fica flutuando, tem muita coisa que fica no fundo do rio” completou.

Para recuperar o rio Meia-Ponte, os especialistas apontam que as áreas de proteção permanente (APP) deveriam ser ampliadas, partindo especialmente das políticas públicas. “Nesse momento todo o país passa por perda de vazões dos rios e mananciais. Por isso devemos recuperar as matas ciliares e as nascentes. Outra medida é criar parques ecológicos ou APPs com restrições de desmatamento”, destacou Gerson.

“Precisamos proteger os rios que abastecem a cidade, e pensar que não podemos aumentar a cidade de forma descontrolada ou poderemos ter problemas para abastecer todas essas pessoas com água” finalizou o ambientalista.

Conheça o Rio Meia Ponte

No ano de 1732 nascia o nome rio Meia-Ponte quando o Anhanguera, Bartolomeu Bueno, na tentativa de atravessar o rio fez o uso de duas toras, mas ao retornar só tinha uma por ter sido levada pela enchente, por isso recebeu o nome que está presente até hoje.

Já em 1933 nasceu a capital goiana e um dos motivos de escolher o lugar para a capital foi a hidrografia. Dois anos depois foi construída a Usina do Jaó, nas proximidades do rio, devido a demanda por energia. No dia 3 de abril de 1945, uma chuva forte danificou os equipamentos da usina, então geradores foram usados como alternativa.

Somente em 1947 que a usina foi reconstruída e em 1959 entrou em operação a quarta etapa da Usina. Com o crescimento em massa na Capital, em 1970 o rio começou a ficar poluído e as usinas foram desativadas em seguida.

A Estação de Tratamento de Água no rio Meia Ponte (ETA) Eng. Rodolfo José da Costa e Silva foi inaugurado em 1988. Em 2003 quatro novas nascentes foram descobertas em Taquaral de Goiás. A estação de tratamento de esgoto de Goiânia nasceu em 2004 com a meta de tratar 80% dos esgotos da grande Goiânia.

Os municípios banhados pelo Rio Meia Ponte são; Itauçu (onde o rio nasce), Santo Antônio de Goiás, Nova Veneza, Brazabrantes, Goiânia, Goianira, Inhumas, Aparecida de Goiânia, Bela Vista de Goiás, Senador Canedo, Pontalina, Aloândia, Joviânia, Goiatuba e Panamá.

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