Flores enfeitam Goiânia

Principais vias da cidade estão decoradas com plantas de várias espécies. Flores e árvores são regadas com frequência por garis

Postado em: 20-01-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Principais vias da cidade estão decoradas com plantas de várias espécies. Flores e árvores são regadas com frequência por garis

Marcus Vinícius Beck*


Goiânia, fazendo jus a um estudo divulgado pela ONU em 2012 de segunda cidade mais arborizada do mundo, está florida novamente. Ao perambular pelas ruas da Capital, é inevitável não esbarrar em flores. Barulho de automóveis tornam-se ofuscados em meio às plantas que decoram avenidas da cidade. Pessoas que estão esperando ônibus no ponto dizem que a intenção da Prefeitura “é ótima” e deixa as ruas da Capital do Cerrado leve. O gosto da infância de personagens ouvidos pelo O Hoje mistura-se ao saudosismo proporcionado pelo embelezamento das vias públicas por parte de árvores e flores. 

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Goiânia, que convive com estiagem durante boa parte do ano, recuperou-se da estagnação provocada pela última gestão. Goiânia sem árvore é como Salvador Dalí sem quadro, Ford Maverick sem gasolina – só que pior. Porque Goiânia, que já é tida como uma das cidades símbolos no quesito ambiental, chegou a ficar aquém da sua história nos últimos anos. Mas agora, a Capital foi emancipada e está plenamente jovem, pois as flores dão a ela ares leves acerca da tórrida cena urbana. “É a coisa mais linda que vejo no centro”, afirma o aposentado Ederival do Carmago, 65. 

Para ele, que morou no interior de Goiás durante a infância, a iniciativa do Poder Público é “uma benção” ao município, o que pode ser constatado após uma rápida caminhada pelas ruas das principais vias da cidade. “Goiânia está de parabéns”, diz o aposentado à reportagem do O Hoje, na esquina da Avenida Paraíba com a Avenida Araguaia, no setor Central. Criado em fazenda, ele relata que, com as árvores e flores, os ares urbanos “ficam menos pesados, e mais, muito mais atraentes”. “A gente se lembra do gosto da infância, de quando íamos jogar bola e, depois, comíamos alguma fruta na casa da avó”.

Outra pessoa entusiasta da paisagem verde é a caixa Maricléia Araújo, 41. De acordo com ela, a cidade fica mais bonita com a arborização, mas “mais árvores e flores deixariam a cidade mais bonita ainda”. “O verde deixa Goiânia com ares aconchegantes”, opina a caixa. Para ela, que mora num bairro da região norte da Capital, “a iniciativa é excelente”. “Também, quando vejo flores, lembro da minha infância, das brincadeiras que fazia, de tudo. Dá saudades”, frisa a caixa, arrebatando: “A imagem que vem em minha cabeça é eu brincando, pequena, na casa de minha avô”.

O aposentado Odinir Tavares, 70, também se identifica como um fã de flores. Natural do Paraná, conhecedor de Curitiba, que considerada a cidade mais verde da América Latina pelo Green City Index (Índice Cidade Verde, em português), ele afirmou que as ruas da Capital do Cerrado são “muito bonitas”. As flores, segundo o aposentado, transferem à cena urbana ares “delicados e saudosos”. “Vim passar as férias na cidade, e estou achando tudo muito bonito, sobretudo as ruas arborizadas e os canteiros repletos de flores”, comenta. 

Cuidados

A reportagem de O Hoje percorreu na última semana quatro pontos na Avenida Paranaíba. Em todos os locais, garis estavam regando as flores. Ou senão cuidando-as, pois o sol excessivo pode ser um dos fatores a matá-las. As flores estão espalhadas por toda a cidade, abrangendo tanto o extrato herbáceo/arbustivo, quando o arbóreo/arborização, e passam por constantes cuidados. A Avenida 136, por exemplo, já passou pelo processo de implantação. No momento, garis as regam as plantas diariamente.

Segundo o chefe da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comug) na região norte e centro, Godoaldo Borges, a intenção é colorizar a cidade com várias plantas por ruas e avenidas. “Em alguns pontos, que ficam em frente a hotéis, é fundamental tê-las, porque o turista sai e se depara com elas”, diz. Para manter a cidade arborizada, garis começam religiosamente os trabalhos pelo período da manhã. “Em todo instante, estamos cuidando das flores, nem que seja para regá-las”, afirma o gari Claudio Ferreira da Silva, 47.

Por meio de nota, a Comurg disse que os cuidados com plantas ocorrem “com maior frequência no período de estiagem”. De acordo com o órgão, as formas de manutenções acontecem “independentemente de seca ou estiagem” durante o ano todo.  


Goiânia possui 89,5% de arborização por 100 mil habitantes 

O que é clichê a várias cidades grandes, não se aplica a Goiânia. A Capital foi considerada a primeira entre as cidades com mais de 1 milhão de habitantes a deter o título de mais árvores do País. De acordo com dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Goiânia possui 89,5% de arborização. No âmbito mundial, o município perde apenas para Edmonton, no Canadá, que atingiu à marca de concentração de 100 metros quadrados de árvore por habitante. 

Em Goiânia, há mais de 900 mil árvores, de 380 espécies. Além dos coloridos ipês (roxo, rosa, amarelo e branco), é comum de se encontrar os flamboyants, as grandes palmeiras imperiais e as sobreiras das sete-copas, bem como tipos que são encontrados apenas no Cerrado brasileiro. E todas as espécies enfeitam a cidade. Mas outras cidades brasileiras carregam títulos nada interessantes. 


Cobertura verde

O Laboratório Senseable City, do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), com o auxílio do Google Street View, calculou a cobertura verde de 23 cidades do mundo. Na ocasião, o único município brasileiro analisado foi São Paulo, que ficou na terceira pior posição, perdendo para Quito, no Equador, e Paris, na França. Os organizadores informaram que a intenção do projeto não era criar uma espécie de “olimpíada verde”, mas fomentar reflexões acerca de práticas ambientais. 


Importância

O número de pessoas que moram em áreas urbanas atingem 81% da população do Brasil. No entanto, sua importância é além de embelezar ruas, praças, quintais de casas, produzir sombra e frutos. Especialistas afirmam que elas contribuem também com importantes serviços naturais para as cidades, como redução da poluição do ar, interceptação de água de chuva, entre outras coisas.

De acordo com a engenheira ambiental, Thais Didonet, as árvores podem ser consideradas purificadoras de ar, pois “elas captam dióxido de carbono e devolvem oxigênio para a atmosfera”. “Além disso, fornecem sombra, frutos, flores, abrigo e alimentos para animais, especialmente as aves”, afirma. Por isso, plantá-las é fundamental não apenas para os moradores de uma cidade, mas para a coletividade como um todo.  


Homem foi autuado pela Amma por cortar árvore, e teve de pagar multa  

No final do ano passado, um homem de 57 anos foi autuado pela Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA) após ser flagrado com uma motosserra por guardas civis metropolitanos (GCM). A multa viária que ele teve de pagar foi de R$ 2,2 mil a R$ 5 mil. Outros dois suspeitos, que estavam com o homem, fugiram ao ver a chegada da GCM. 

O coordenador ambiental da GCM, Ilgon Pires de Souza, afirmou que foram os vizinhos que acionaram a Guarda. De acordo com ele, ao chegarem no local, o homem estava com uma serra elétrica na mão e uma árvore cortada. A gente não conseguiu ir atrás porque a árvore estava bloqueando a passagem. Mas nós já estamos conseguindo identificá-los”, afirma. 


Fiscalização

De acordo com a gerente de fiscalização da Amma, Mariana Gidrão, o corte de árvores tem de ser autorizado pelo órgão municipal. “Mas quando elas estão dentro de residências, o proprietário tem de pedir autorização”, diz, acrescentando que a prefeitura é responsável pela extirpação. No entanto, assevera ela, caso as árvores estejam protegidas por lei, elas “não podem ser extirpadas de modo algum”. (Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob a orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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