Briga pelo controle da inflação não abala alta do juros real

Medido pela diferença entre as expectativas para os juros e inflação nos próximos 12 meses, o juros real chegou a 8,2%

Postado em: 04-10-2022 às 09h00
Por: Raphael Bezerra
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Medido pela diferença entre as expectativas para os juros e inflação nos próximos 12 meses, o juros real chegou a 8,2% | Foto: Reprodução

Apesar da queda das taxas de inflação experimentada nos últimos cinco meses no país, depois do Índice de Preço ao Consumidor Ampliado (IPCA) ter chegado a 12,13%, o Brasil ainda tem as taxas de juros reais mais altas do planeta. Medido pela diferença entre as expectativas para os juros e inflação nos próximos 12 meses, o juros real chegou a 8,2% segundo cálculos da Infinity Asset. Este é o maior nível que a taxa chegou nos últimos sete anos.

Mesmo com a manutenção da taxa básica de juros mantida em 13,75% ao ano por um longo período, como indicou o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), a expectativa de parte do mercado é que o juros real seja ainda mais pressionado com o arrocho monetário. 

A redução da inflação nos últimos meses pode ser explicada por diversos fatores, como a redução de taxas e impostos sobre produtos importados, queda dos preços das commodities e efeitos de políticas monetárias. O indicador diário de atividade do Itaú (Idat), por exemplo, mostra que setores ligados ao crédito de móveis, eletrodomésticos e veículos desaceleraram com a aceleração dos juros. 

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O Banco Central usa a Selic como instrumento para controlar a inflação e o crescimento econômico. Nos ciclos de alta da Taxa Selic os investimentos em renda fixa se tornam cada vez mais rentáveis e os de renda variável são desestimulados, pois juros altos desestimulam a atividade econômica.

O economista Everaldo Leite explica que impacta em duas questões fundamentais para a economia brasileira. A compra de títulos públicos e o investimento do setor privado. Com a taxa de juros real em alta, a preferência do mercado é emprestar dinheiro com maior segurança. Nesse cenário, os títulos públicos brilham. Por outro lado, essa preferência afeta diretamente no investimento das empresas e no poder de compra das famílias.

“Se você tem uma taxa de juros mais sedutora, os investimentos precisam, necessariamente, ter um rendimento maior que essa taxa. O crédito vai ficar mais caro e o banco vai ganhar mais com títulos, pois numa época que o crédito é mais caro, o risco é muito alto. E com menos crédito às famílias compram menos, investem menos porque o financiamento será alto. Os empréstimos bancários são proibitivos”, comenta.

Com a queda na demanda por crédito, as empresas passam a investir menos, o que provoca a depressão na economia. “Estamos buscando a redução da inflação. Mas o que temos não é inflação por causa da demanda. Nossa inflação é resultado da oferta dos produtos, e a elevação da taxa de juros não consegue resolver”, aponta. (Especial para O Hoje)

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